O ator, natural do Norte de Portugal, iniciou a sua carreira aos 15 anos ao realizar peças de teatro na escola. Hoje é conhecido por seus papéis em novelas do Emmy como Laços de Sangue e a novela indicada ao Emmy Rosa Fogo, interpretando o personagem principal. Atualmente, o ator participou de uma série na Netflix Brasil “Lady Voyeur”, que ocupou o top 10 em 57 países.
Durante a cimeira, Ângelo Rodrigues participou e discutiu a utilização das redes sociais pelos atores, bem como o impacto da Inteligência Artificial (IA) nos seus empregos.
The Portugal News (TPN): Diria que os atores sentem necessidade de utilizar as redes sociais?
Ângelo Rodrigues (AR): Eu não diria que é uma necessidade, mas quase diria que é quase obrigatório nesta era digital. No passado, cultivava-se a inatingibilidade dos artistas: quanto mais inatingíveis fossem, mais divinizados seriam, e hoje é justamente o contrário. A proximidade e acessibilidade dos artistas são cultivadas. Quanto mais próxima for a relação do artista com o seu público, mesmo que falsa, mais oportunidades ele poderá ter no futuro.
Diria que hoje em dia o nosso trabalho, a nossa divulgação é feita através das redes sociais e no passado só comunicávamos o nosso trabalho à imprensa escrita e em talk shows televisivos. Hoje em dia temos um canal de comunicação próprio, quase como se tivéssemos um canal de televisão onde somos os realizadores e curadores do material que divulgamos. Isto significa ter uma estrutura emocional forte, mas perceber que agora faz parte e é simplesmente um complemento da nossa profissão.
TPN: Você não acha que expor-se como Ângelo pode mudar a percepção das pessoas sobre os personagens que você interpreta?
RA: Acho que não, porque o que une o público aos atores muitas vezes não é apenas o virtuosismo. Freqüentemente, há um relacionamento emocional que se constrói ao longo dos anos. Você não vai ver um filme com Brad Pitt, você vai ver o filme de Brad Pitt. Você não diz o nome do personagem ou o que ele pode te transmitir, mesmo que não conheça a vida pessoal dele. No entanto, existe uma relação emocional que se cria ao longo de uma carreira que une as pessoas.
Eu diria que existe uma ligação e que a ligação entre o artista e o público ajuda muito nas carreiras, então não vejo isso como um obstáculo, acho que é muito pelo contrário, acho que até ajuda porque dá um três dimensão multidimensional para o ator que ainda é a pessoa que desempenha o papel.
TPN: Hoje em dia, muitos atores dizem que não têm trabalho porque não têm seguidores suficientes para desempenhar um determinado papel. Você acredita que o crescimento das mídias sociais eliminou a necessidade de estudo na profissão de ator?
RA: Sei que este é um discurso que tem sido repetido e com razão nos últimos anos, mas penso que apenas esclarece uma parte do problema. É fato que pessoas que atingem um público maior são mais interessantes de contratar porque é sempre uma combinação de forças, não é mesmo? Porque fazemos filmes para as pessoas verem, então se houver uma pessoa que reúna muitas pessoas, provavelmente terá uma chance. Sempre foi assim, por exemplo, a beleza sempre foi um valor importante, onde, no passado, o modelo passou a ser o ator. Hoje em dia é o influenciador que também vira ator. Embora a primeira oportunidade possa ser dada, a segunda oportunidade em diante significa que o talento foi encontrado. Acho que dá mais trabalho para quem não confia apenas na beleza e nos números, porque temos streaming. Não há necessidade de os canais de TV exibirem apenas pessoas bonitas, e não grandes atores com grande carisma. Acho que minha profissão é mais democratizada nesse nível.
TPN: Você começou sua carreira numa época em que as revistas de celebridades e até os paparazzi tinham uma expressão diferente. Porém, a exposição dos artistas nas redes sociais tem neutralizado alguns momentos desconfortáveis com a imprensa, certo?
RA: Sim, porque hoje em dia tudo está muito mais espalhado em micro-nichos de bolhas sociais, dependendo da área de entretenimento que estamos falando, e isso acabou se dissipando um pouco. Tem a ver com o que eu estava falando, há pouca inatingibilidade, mas hoje em dia tudo é muito mais atingível. Mas, na verdade, não temos mais a violação de privacidade que existia no passado.
TPN: Durante a conferência, você desafiou sua colega palestrante quando lhe perguntou se ela aceitaria que sua imagem fosse usada por inteligência artificial após sua morte. Qual é a sua opinião sobre isso?
RA: Eu diria que é consequência do avanço da tecnologia, tudo isto surgiu com a tecnologia CGI, quando, por exemplo, há alguns anos queriam recuperar a voz de Marlon Brando, que já tinha falecido há muitos anos.
Porém, não tenho uma resposta para você porque acho que isso levanta questões éticas e morais que precisam ser discutidas, mas será que o próprio ator permitiria isso? Mas ao mesmo tempo, se ele estiver morto, ele não permitirá que o filme seja lançado, então não sei.
TPN: E quanto ao WebSummit 2024? Como você se sentiu quando foi convidado para palestrar no evento?
RA: Fiquei muito feliz em receber o convite, não esperava, mas acho que é adequado dado o meu estilo de vida, que tem sido partilhado ao longo dos últimos anos. Acho que combina perfeitamente com o painel para o qual fui convidado a falar e claro que tive que lidar com alguns nervos antes de subir ao palco, mas as pessoas com quem estive deixaram-me à vontade e foi um bom grupo que me fez sentir muito confortável.
Ângelo Rodrigues partilha momentos importantes da sua vida nas redes sociais, nomeadamente no Instagram, que pode encontrar em @angelorodrigues_oficial
Profundamente apaixonado pela música e com um prazer culposo em processos criminais, Bruno G. Santos decidiu estudar Jornalismo e Comunicação, esperando unir ambas as paixões na escrita. O jornalista é também um viajante apaixonado que gosta de escrever sobre outras culturas e de descobrir as várias jóias escondidas de Portugal e do mundo. Cartão de imprensa: 8463.
Bruno G. Santos