Os artigos da equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
Acesso gratuito: baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.
Sempre gostei de beber. Adorava aqueles dias em que encontrávamos os amigos e a tarde virava noite e entrava pela madrugada afora, com muitas conversas, histórias, risadas e choros. Pouco antes de fazer 50 anos, decidi ficar um tempo sem beber. Meu estômago já reclamou dos excessos há tempos, e eu me recusava a aceitar que passaria o resto da vida às custas do Omeprazol e de outros remédios para gastrite.
No começo, confesso que era muito estranho passar a noite toda sem beber na companhia de um monte de gente cada vez mais alegre, enquanto eu ficava mesmo era com sono. Não ajudou em nada o fato de algumas pessoas não entenderem e questionarem minha opção. Depois, costumei.
Quando voltei a beber, já foi em menor quantidade, apenas cervejas artesanais e vinho. Agora, parei quase totalmente, e alguns amigos também optaram por evitar as bebidas alcoólicas. No geral, porém, não beber ainda é visto como algo exótico. O engraçado é que todo o mundo sabe sobre os efeitos danosos do cigarro à saúde, por exemplo.
Só que, apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) já ter alertado que não existem detalhes seguros de ingestão de bebidas equilibradas e que os efeitos negativos desse consumo estão associados a mais de 200 tipos de doenças, além de acidentes graves, as pessoas não estranham nem comentam quando levantamos as taças para um brinde.
Não se trata de demonizar as bebidas alcoólicas. É muito provável que você não morra por causa delas. Minha avó tomou um cálice de vinho do Porto todos os dias e faleceu com 94 anos. Eu ainda experimento e gosto e sei que faz parte de um ritual de socialização. Mas é importante que as pessoas conheçam os problemas que essas bebidas podem causar, para fazer uma escolha consciente. Em 2020, o álcool envolveu cerca de 50 mil mortes de adultos só nos Estados Unidos, de acordo com um artigo publicado no The American Journal of Medicine.
Segundo o médico Mark Hyman (@drmarkhyman), fundador do Center for Functional Medicine, da Cleveland Clinic, dos Estados Unidos, o consumo regular de álcool pode danificar os neurônios e até matá-los, causando problemas de memória e humor e, no limite, causando doenças neurodegenerativas como o Alzheimer. O uso prolongado também pode ser responsável por crises de ansiedade, ataques de pânico e outros sintomas neurológicos e é capaz de reduzir a sensibilidade dos receptores de dopamina no cérebro, o que tem o poder de causar diminuição da motivação, depressão e vício.
Além disso, beber muito atrapalha o sono, pode agravar doenças cardíacas e hepáticas, causar pancreatites e intoxicações, entre outros problemas. Uma reportagem do O jornal New York Times Mostrou que agora os cientistas estão pesquisando como a ingestão de bebidas alcoólicas interfere na composição da microbiota intestinal. Tudo isso sem falar nos danos consideráveis causados pelo alcoolismo na vida e nas famílias de quem sofre com a doença.
Por tudo isso, há alguns meses decidi reduzir o consumo ao mínimo. Para mim, um dos problemas é a dificuldade de encontrar bebidas sem álcool externas para adultos. Além dos refrigerantes, que são muito doces, sobra o quê? Água com gás. Imagino que existe um mercado imenso a ser descoberto e tenho visto algumas iniciativas interessantes. Em Londres, vários pubs já servem Lucky Saint, uma cerveja sem álcool deliciosa. No Brasil e em Portugal, existem lojas exclusivas para a venda de vinhos, cervejas e destilados sem álcool.
Uma reportagem recente do PÚBLICO mostrou três restaurantes que estão criando alternativas criativas às bebidas alcoólicas. Outra, também do PÚBLICO, falou sobre o crescimento das tendências NoLo. O nome vem de no ou low Alcohol, ou seja, bebidas sem ou com pouco álcool, no rastro dos movimentos Janeiro seco e Sóbrio Curioso impulsionados por pessoas que procuram beber menos ou parar. Apesar de serem difíceis de encontrar em restaurantes e mercados, existem kombuchas ótimas e vinhos sem álcool, como o excelente O%riginal, da José Maria da Fonseca, ou dos alemães Carl Jung. Outro dia levei um espumante dessa marca em uma festa e todo mundo bebeu sem nem perceber que era sem álcool!
Enfim, as alternativas estão surgindo. O fim do ano está próximo e é mais necessário ficar sem beber durante as festas. Às vezes, temos a impressão de que todo mundo está se divertindo mais do que nós. Pode até ser, mas acho ótimo pensar que meu estômago não vai ter do que reclamação e que, no primeiro dia do novo ano, não vou acordar com dor de cabeça, boca seca e aquela sensação de que traí meu corpo.
Para harmonizar com uma kombuchá colorida, segue a receita de um homus de bebida maravilhoso:
> 2 batidas médias
> 2 colheres de sopa de tahine
> 2 dentes de alho médios
> Suco de limão
> Sal e pimenta do reino
> Azeíta
Corte as bencias em quatro deixando as partes juntas. Envolva em papel alumínio, coloque sal e azeite e feche bem. Asse por uma hora em forno quente. As bebês precisam ficar bem macias. Enquanto isso, coloque os dentes de alho descascados e o suco de limão no processador. Quando as bebidas ficarem macias, coloque também no processador com o tahine e a pimenta do reino e bata bem. Sirva com palitos de cenoura e pepino ou com pão árabe.