Quando May (nome fictício) nasceu, a mãe, Daphna Cardinale, apareceu de imediato. Já o pai, Alexander, estranhava as características físicas de seu bebê, de cabelo escuro e tez morena, que pouco ou nada tinha a ver com as dele, de pele muito clara, ou com as da mulher, ruiva. Brincava com o fato de a terem trocado, sem imaginar que era isso que tinha acontecido.
Não muito longe dali, outro casal espantava-se pelos mesmos motivos: a pequena Zoe, de cabelo claro e olhos azuis, não tinha aparências com nenhum dos progenitores, sendo a mãe de ascendência latina e o pai, asiático-americano.
Os primeiros a perceberem a troca foram os Cardinale, através de um teste de ADN que determinou que a possibilidade de qualquer um deles ser progenitor de May era ínfima. Mas a certeza de que não era filha deles não facilitou o processo. “Eu carreguei essa criança. Dei à luz. Ela parecia-me tão familiar que nem sequer me ocorreu que não pudesse ser nossa”, confessou Daphna Cardinale em declarações à revista Pessoas.
Por um lado, admitam, sofriam com a possibilidade de ter de entregar um bebê que viam como eles; por outro, sabiam que a atitude correta a ter passando por procurar os pais biológicos de maio. Foi então que Alexander e Daphna contataram a clínica que, por sua vez, entrou em contato com Annie e o marido. Os dois casais encontraram-se no dia a seguir ao Natal de 2019 para decidirem o que iriam fazer: trocar os bebés.
A decisão, registrei todos, não foi fácil, mas acabá-los-ia por conduzir a uma vida que nunca tinha imaginado antes: hoje, as duas famílias vivem a dez minutos uma da outra e realizam uma espécie de terceira família, que os une um todos. “Desde então, passaremos todas as férias juntos. Passámos todos os aniversários juntos — e misturámos as famílias”, relata Alexander Cardinale.
Ainda assim não douram a pílula sobre os primeiros tempos, sobretudo para as duas mães. Daphna, por exemplo, não sentiu um elo imediato com Zoe, a sua filha biológica, mas que não tinha carregado. Já Annie tinha de lutar contra o instinto de confortar Zoe quando a ouvia chorar. Afinal, ela não era sua filha.
A mudança também foi difícil para os irmãos mais velhos. No entanto, as duas famílias mantiveram-se próximas e, um dia, Annie invejou uma mensagem a Daphna: “Podemos mesmo visitar-nos e ver como estão as nossas filhas. É tão difícil. Não sei como me libertar.” A solução surgiu subitamente a Daphna: e se compartilhariam as duas meninas?
Acabaram por decidir criar juntas as duas crianças, que frequentaram o mesmo jardim-de-infância e agora, adiantaram o New York Timesandam juntas no balé.
Quanto ao erro da clínica, os Cardinale interpuseram uma ação contra a clínica por negligência médica, mas acabaram por chegar a “um acordo amigável”, informa o Tempos.