Viajar para a China enquanto estrangeiro não é a coisa mais simples.
Os pedidos de visto podem ser complicados, enquanto os voos internacionais são limitados e mais caros neste momento, devido à menor procura e aos custos mais elevados para muitas companhias aéreas voarem no espaço aéreo russo.
E, mesmo quando se consegue passar por tudo isto, navegar nesta sociedade altamente automatizada com o seu próprio ecossistema digital pode ser intimidante – especialmente para quem visita o país pela primeira vez.
Mas as coisas podem estar a mudar.
A China tem aumentado os esforços para atrair turistas internacionais desde que reabriu as portas após a pandemia, no final de 2022, implementando políticas mais acolhedoras – e, para isso, também pediu ajuda ao setor privado.
O país oferece agora isenções de visto para dezenas de nacionalidades, bem como uma política de trânsito sem visto de 144 horas num número crescente de portos de entrada.
Entretanto, as gigantes de pagamentos móveis, como o Alipay e WeChat, tornaram as suas plataformas e processos de pagamento mais amigos dos estrangeiros, simplificando os seus longos processos de configuração e aceitando cartões de crédito internacionais.
Os hotéis e as atrações turísticas também estão a ser incentivados a aceitar cartões de crédito internacionais, que não são muito populares entre os comerciantes na China. Algumas cidades, como Pequim, lançaram passes tudo-em-um, que permitem aos viajantes pagar, por via eletrónica, coisas como bilhetes para entrar em atrações turísticas e transportes públicos.
Olhando apenas para as estatísticas, estas medidas parecem estar a funcionar.
A China recebeu cerca de 14 milhões de turistas estrangeiros no primeiro semestre de 2024, um aumento de 152,7% em relação a 2023, de acordo com a Administração Nacional de Imigração do país. Cerca de metade destes turistas entraram no país ao abrigo de vários tipos de políticas de isenção de vistos.
O número ainda está muito longe dos dados de 2019, quando cerca de 98 milhões de estrangeiros viajaram para o país, mas alguns no setor estão a ser motivados pela tendência de crescimento.
“Graças à nova política de isenção de vistos de 15 dias para alguns países, vimos um aumento de turistas desses países no último ano ou assim”, indica Denny Tian, especialista em viagens e gerente do The China Guide, uma agência de viagens privada com sede em Pequim.
Como é viajar para a China em 2024
Gabriela Correia, 25 anos, uma médica portuguesa, visitou Xangai e Pequim em junho deste ano com o seu namorado norte-americano, entrando no país ao abrigo da política de circulação sem visto de 144 horas. Esta política permitir que os turistas de 54 países (incluindo Portugal e EUA) que viajem para um país terceiro possam fazer escala numa das várias regiões chinesas designadas, por um período máximo de seis dias.
“É importante notar que planear uma viagem à China implica mais desafios do que na maioria dos restantes lugares do mundo”, avisa Gabriela Correia, que já visitou 47 países. “A quantidade de informação que se encontra online é limitada devido ao número relativamente pequeno de ocidentais que vão à China e porque o Google Maps é restrito na China”.
Tian, especialista em viagens, diz à CNN Travel que a barreira linguística tem sido um grande desafio para os turistas internacionais: “Muitos sítios só têm informação em chinês. A maior parte do pessoal de serviço não fala inglês.”
Mas há formas de ultrapassar estas dificuldades, como descarregar uma aplicação de tradução, sugere Tian. Entretanto, alguns aeroportos têm vindo a fazer um esforço extra, contratando pessoal multilingue para receber os turistas em diferentes línguas.
O facto de não saber falar chinês trouxe definitivamente alguns desafios, mas eu diria que isso tornou esta viagem ainda mais divertida”, diz Gabriela Correira, acrescentando: “As pessoas são muito acolhedoras e fazem um esforço para que tudo corra bem. Tivemos uma experiência maravilhosa num restaurante especializado em chá, apesar de nenhum dos empregados saber falar inglês. Utilizámos a funcionalidade de fotografia do Google Translate para traduzir o menu e conseguimos que tudo corresse bem. Acabámos por comer cheesecake quando pensávamos que íamos comer pão de queijo como entrada, mas quem não gosta de ter uma sobremesa extra?”
A médica diz que utilizou um cartão SIM de viagem que tinha uma rede privada virtual (VPN) para aceder às suas aplicações móveis habituais, como o Google Translate. (Mais informações sobre isto na secção de perguntas e respostas abaixo).
Segundo Gabriela Correia, muitos restaurantes pedem que os clientes façam o pedido através de um código QR ligado ao Alipay, que agora tem uma função de tradução incorporada na aplicação, o que permite que os turistas percebam o que está no menu.
Embora o casal tenha conseguido divertir-se muito, viajando de forma independente sem saber falar chinês, ambos decidiram contratar um guia privado para a sua visita à Grande Muralha “porque facilita a logística e permite ir a secções (com menos turistas) da Muralha”.
O casal diz ter ficado mais impressionado com as “diversas e ricas tradições culinárias”, o contraste entre a arquitetura colonial futurista e histórica ao longo da orla marítima de Xangai, bem como as paisagens e um passeio de tobogã na Grande Muralha de Mutianyu, em Pequim.
Gabriela Correia admite que a viagem mudou algumas das suas perceções sobre a China e já está a planear a próxima viagem.
“Diria que, neste momento, o Parque Florestal Nacional de Zhangjiajie está no topo da minha lista na minha próxima visita à China”, diz, referindo-se a um parque nacional na província de Hunan que se diz ter inspirado as paisagens do filme ‘Avatar’.
Está a planear a sua própria viagem de sonho a esta vasta nação? Elaborámos um guia com algumas das perguntas mais frequentes sobre viagens à China.
Perguntas e respostas sobre viagens à China
É necessário um visto para viajar para a China?
É aqui que as coisas se tornam realmente confusas. Nos últimos meses, foram feitos vários anúncios e implementadas várias alterações, pelo que tentaremos abordar as mais importantes.
A China tem acordos mútuos de isenção de vistos com 23 países – incluindo Singapura e Tailândia – e uma nova política unilateral de isenção de vistos para mais 15 passaportes.
Os 15 países que beneficiam agora de isenção de vistos até 31 de dezembro de 2025 são a Áustria, Austrália, Bélgica, França, Alemanha, Hungria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malásia, Países Baixos, Nova Zelândia, Polónia, Espanha e Suíça.
Os cidadãos destes países podem visitar a China por um período máximo de 15 dias consecutivos sem necessidade de visto.
Dada a rapidez com que as coisas mudam no mundo diplomático, é aconselhável visitar o Centro de Serviço de Pedidos de Visto da China ou o website oficial dos Negócios Estrangeiros do seu país para se informar sobre os acordos de entrada mais recentes antes de marcar a sua viagem.
Se o seu país não constar da lista de países isentos de visto ou se não pretender visitar a China numa escala (encontrará mais informação sobre isto mais adiante), terá de solicitar um visto de turista.
Neste domínio, há boas notícias para os norte-americanos. Os processos de pedido de visto de turista para a China tornaram-se mais fáceis para os cidadãos norte-americanos a partir de janeiro de 2024; os requerentes já não são obrigados a apresentar prova de um bilhete de avião de ida e volta, reserva de hotel, itinerário ou carta de convite. O consulado geral da China em Nova Iorque elaborou uma lista dos documentos necessários para requerer um visto de turista.
Os cidadãos de outros países que necessitem de um visto de turista podem dirigir-se ao China Online Visa Application para encontrar o centro de processamento mais próximo e preencher um formulário online.
Quais são as políticas de circulação sem visto de 144 horas e 72 horas?
As duas políticas chinesas de circulação sem visto permitem que os turistas de determinados países entrem na China por um período máximo de três ou seis dias – mas apenas se depois viajarem para um terceiro destino, fora da China.
O Japão, a Coreia do Sul, o Reino Unido e os Estados Unidos estão entre os 54 países elegíveis para transitar pela China por um período máximo de seis dias.
Em ambos os casos, os turistas têm de apresentar documentos de viagem adquiridos – ou seja, bilhetes de ligação para voos, comboios e navios – como prova da sua próxima paragem (uma que seja diferente do país de partida original) antes de entrarem na China (Hong Kong e Macau são considerados um terceiro destino ao abrigo destas políticas).
No entanto, os turistas que visitam o país ao abrigo destes programas de circulação sem visto têm mais restrições em termos dos locais que podem visitar.
Só podem viajar dentro dos 41 portos de entrada designados em 19 províncias chinesas – incluindo Pequim e Xangai.
Isto significa que, se aterrar em Xangai, só pode permanecer na cidade e nas regiões vizinhas de Jiangsu e Zhejiang. Explorar o país através da vasta rede ferroviária de alta velocidade da China não é uma opção para quem entra ao abrigo dos dois regimes de vistos de circulação.
Gabriela Correia e o namorado acabaram por fazer uma viagem a outra parte da Ásia entre as suas visitas a Xangai e Pequim para poderem obter duas autorizações de circulação sem visto para cada visita (o governo de Xangai elaborou um excelente documento sobre a política de circulação sem visto que pode ver aqui).
Posso visitar o Tibete?
Os turistas não são obrigados a participar numa visita guiada ou numa excursão de grupo na maior parte da China se tiverem o visto adequado ou se os seus passaportes os qualificarem para a política de isenção de vistos – com a principal exceção da Região Autónoma do Tibete.
Os turistas internacionais são obrigados a obter uma autorização de viagem para o Tibete antes de entrarem na região e os pedidos devem ser apresentados através de uma agência de viagens certificada.
Os turistas têm de participar numa excursão de grupo ou reservar um guia turístico, um condutor, um automóvel e alojamento através de uma agência de viagens certificada para poderem obter a autorização.
São necessários vistos para Hong Kong e Macau?
Hong Kong, Macau e a China continental têm requisitos de visto diferentes.
Hong Kong oferece isenção de visto para cidadãos de cerca de 170 países por um período de sete a 180 dias. Pode consultar os requisitos específicos para o seu visto no website oficial do Departamento de Imigração de Hong Kong.
Cerca de 80 cidadãos internacionais podem entrar em Macau sem visto. Para mais informações, consulte o website do governo de Macau.
E em relação a Hainan?
A província insular de Hainan, no sul da China, muitas vezes descrita como o “Havai da China”, tem uma política de vistos mais permissiva do que o resto do continente.
Oferece 30 dias de entrada sem visto aos titulares de passaportes de 59 países. Os turistas que entram ao abrigo desta política não estão autorizados a sair da ilha para visitar outras partes da China.
Posso utilizar o meu smartphone e as minhas aplicações na China?
Pode utilizar os seus próprios dispositivos móveis na China continental, no entanto, algumas das aplicações mais populares no resto do mundo – incluindo o Instagram, o TikTok, o Facebook e o Google – estão bloqueadas.
Felizmente, há formas de contornar esta situação. Se o seu telemóvel estiver ligado através de um plano de dados em roaming internacional ou de um cartão SIM de viagem com uma VPN, continuará a poder aceder a estas aplicações.
Quando se ligar a uma rede Wi-Fi local, o acesso será novamente suspenso.
“Muitos dos websites que nós, ocidentais, utilizamos são restritos na China”, adianta Gabriela Correia. “O Wi-Fi dos restaurantes e hotéis não nos permite usar o Google, o Instagram, o Facebook ou o WhatsApp e, se acabar por comprar um cartão SIM local à chegada, este terá as mesmas restrições.”
“A minha dica é: use um e-SIM, que pode ser comprado com antecedência e ativado no local, para poder manter-se em contacto com os amigos e família.”
Por uma taxa fixa, os cartões e-SIM de empresas como a Airalo e a Airsim garantem que os seus dispositivos funcionam na China – e isso inclui o acesso a todas as aplicações essenciais.
Posso configurar o meu telemóvel para pagamentos móveis?
“Antes de viajar para a China, muitas pessoas preocupam-se em fazer pagamentos”, diz o especialista em viagens Tian. “Pensam que na China todas as pessoas utilizam pagamentos móveis e que o dinheiro já não é aceite. Mas, na verdade, o dinheiro continua a ser aceite em todo o lado. O que pode acontecer é que alguns estabelecimentos comerciais possam não ter trocos para dar.”
Os cartões de crédito internacionais não são uma forma de pagamento universal na maioria dos estabelecimentos comerciais e atrações locais.
O WeChat Pay e o Alipay estão entre as carteiras móveis aceites pela maioria das empresas chinesas. Ambas as aplicações podem agora ser ligadas a um cartão de crédito internacional com um limite de transação de 500 dólares (cerca de 450 euros).
Para aumentar o limite, o utilizador pode verificar a sua identidade carregando documentos de identificação e introduzindo o seu número de telefone. Vai demorar alguns dias até que seja aprovado.
“As aplicações não são muito fáceis de utilizar por estrangeiros, é frequente aparecer informação em chinês. No entanto, é fácil para os estrangeiros criarem eles próprios a aplicação”, sugere Tian. (O China Guide escreveu um artigo detalhado sobre como configurar a sua conta Alipay).
Se quiser evitar a aplicação, poderá ter de pagar em dinheiro e optar por restaurantes e hotéis que aceitem cartões de crédito internacionais. Apesar de o dinheiro ser tecnicamente aceite, nem todos – tosse, taxistas, tosse – o aceitam de bom grado. As notas pequenas serão úteis, uma vez que muitos proprietários de pequenas empresas poderão não ter trocos.
Entretanto, Pequim introduziu o “Pequim Pass”, um cartão de viagem tudo-em-um que lhe permite pagar os transportes públicos e os bilhetes para muitas das atrações turísticas. Este cartão ser adquirido nos aeroportos e na maioria das estações de metro.
As empresas alguma vez vão aceitar cartões de crédito internacionais?
De forma resumida, nem todas as atrações turísticas, hotéis e restaurantes aceitam cartões de crédito.
Mas isso pode estar a mudar.
O governo chinês anunciou recentemente que “os cartões bancários nacionais e estrangeiros devem ser aceites em todos os hotéis turísticos de três estrelas ou mais, atrações turísticas nacionais de nível 5A e 4A, estâncias turísticas nacionais e provinciais, bem como distritos nacionais de turismo e lazer”.
É seguro visitar a China?
A China apresenta-se como o país que tem as taxas de criminalidade mais baixas de todo o mundo.
Mas não são os potenciais danos físicos ou as ameaças dirigidas aos turistas que levaram alguns países a emitir avisos e recomendações de viagem àqueles que pensam visitar o país.
Os Estados Unidos impuseram um aviso de viagem de nível 3 para a China continental no âmbito do seu sistema de aviso de quatro níveis e instaram os cidadãos a “reconsiderar a viagem devido à aplicação arbitrária das leis locais”.
O Canadá, por sua vez, aconselha os seus cidadãos a assumirem um elevado grau de cautela na China “devido ao risco de aplicação arbitrária das leis locais”.
Gabriela Correia garante que gostou da sua primeira experiência na China, mas admite que tinha algumas preocupações antes da viagem.
“Um dos principais receios que tínhamos era em relação à política de segurança”, recorda a médica, acrescentando que tinham conhecimento do aviso de nível 3 do Departamento de Estado dos EUA para a China.
“Claro que só posso falar da minha experiência, mas tive a sensação exatamente oposta. Achei que as autoridades foram simpáticas e prestáveis e acho que, desde que toda a gente seja respeitosa (como devemos ser em qualquer lugar), a China é perfeitamente segura e não senti ninguém a ser hostil comigo em nenhum momento”, acrescenta Correia.
Aplicações úteis para descarregar antes da sua viagem
Além dos conselhos acima referidos sobre a configuração dos seus pagamentos móveis e a compra de um e-SIM de viagem antes da sua visita, existem várias aplicações úteis que podem facilitar a sua viagem. Eis algumas delas:
Gaode Maps ou Baidu Maps
O Google Maps não funciona na China se não tiver uma VPN. E mesmo assim, ela não funciona bem.
O Gaode Maps e o Baidu Maps são duas aplicações que funcionam razoavelmente bem se escrever o endereço em pinyin, o sistema de romanização dos caracteres chineses utilizado na China.
Para os utilizadores do iPhone, o Apple Maps também funciona na China.
“Depois de chegarmos, foi muito mais tranquilo do que o previsto, uma vez que o Apple Maps funciona perfeitamente e está atualizado no que diz respeito aos transportes públicos”, diz Correia.
MetroMan
Esta aplicação de transportes cobre os principais sistemas de metro da China, em inglês.
Há também uma função do mapa que destaca pontos de interesse próximos, desde restaurantes a atrações turísticas.
A maioria dos metros das cidades chinesas é moderna e fácil de navegar, com placas em inglês e chinês.
Vale a pena notar que existem controlos de segurança em muitas estações de metro na China. Algumas são mais rigorosas do que outras, por isso prepare-se para engarrafamentos durante a hora de ponta – e poderá não ser autorizado a entrar num comboio se tiver andado a comprar facas ou tesouras.
Mesmo que não utilize o WeChat para efetuar pagamentos, continua a ser útil se quiser trocar contactos com um local amigável, abrir um menu num restaurante (muitos dos restaurantes colocaram os seus menus no WeChat) e comprar um bilhete de comboio de alta velocidade.
Muitas das principais empresas chinesas de comércio eletrónico, desde a Didi (a Uber da China) à 12306 (a plataforma digital da empresa China Railway), têm os seus próprios widgets ou mini-programas WeChat.
Alipay
Se o WeChat for demasiado complicado para si e quiser apenas uma aplicação para pagamentos, o Alipay é a solução. Existe uma versão internacional e uma versão chinesa da aplicação; opte pela versão internacional, que lhe permitirá associar o seu cartão de crédito internacional.
Didi
A aplicação de car-hailing da China. Pode ligar a aplicação com um cartão de crédito internacional.
A Didi também pode ser encontrada nas aplicações Alipay e WeChat – por isso, se tiver uma destas aplicações de pagamento, pode alugar diretamente um carro a partir dela sem ter de descarregar a aplicação Didi.
Trip.com
A plataforma internacional de reservas de viagens da Ctrip.
Trip.com é uma das formas mais fáceis de reservar bilhetes de comboio de alta velocidade, bilhetes para atrações turísticas e hotéis na China.
Baidu Translate
O Baidu Translate é uma aplicação de tradução gratuita criada pelo Baidu, o principal motor de busca da China.