Um grupo de cidadãos vai entregar esta terça-feira na Assembleia da República, em Lisboa, uma petição com quase 5.200 assinaturas solicitando a classificação da obra de José Mário Branco como de interesse nacional. Um dos promotores da petição, o músico e produtor musical Vítor Sarmento, sublinhou à agência Lusa o “duplo simbolismo” do dia escolhido, por coincidir com o quinto aniversário da morte do cantautor e por decorrer no ano em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril.
José Mário Branco “tem uma obra inexcedível para além da musical”, enfatizou Vítor Sarmento, acrescentando que, para os assinantes da petição, “é essencial” a classificação de interesse nacional “à semelhança do que já aconteceu com a obra de José Afonso” . “Para nós, músicos, e outros intervenientes que lançaram a petição há um ano é de muita importância porque reconhecemos, todos nós, na obra de José Mário Branco uma obra essencial para a música portuguesa e a sua actualidade”, notou Vítor Sarmento. Várias canções de José Mário Branco “foram e ainda são hinos que fizeram a banda sonora do caminho colectivo até ao 25 de Abril de 1974, e também depois disso”, frisou.
A petição será entregue esta terça-feira, pelas 11h30, à vice-presidente do parlamento Teresa Morais, depois dos subscritores terem obtido autorização do presidente da Assembleia da República para o fazer, referindo-se, acrescentando que também será enviada uma cópia do documento ao Ministério da Cultura, para conhecimento da ministra da tutela. O grupo que entregará o documento é composto por Vítor Sarmento e mais três assinantes: o fadista Marco Oliveira, a produtora e programadora cultural Lurdes Nobre e o investigador João Carlos Callixto.
A petição pública foi lançada em Novembro de 2023, numa ideia que partiu de 39 pessoas ligadas à música portuguesa. Entre os primeiros candidatos estão os músicos Francisco Fanhais, Gaspar Varela, João Afonso, José Barros, Manuel Freire e Marco Oliveira, o editor Arnaldo Trindade, a cantora Ana Ribeiro, o investigador João Carlos Calixto ou o editor Alain Vachier, que trabalhou com José Mário Branco.
Em declarações à Lusa aquando do lançamento da petição, Vítor Sarmento lembrou que “existe felizmente na universidade um trabalho profundo de compilação e de divulgação da obra de Zé Mário”. No entanto, os peticionários querem que seja também o Estado a dar-lhe um carácter nacional, classificando a obra daquele músico. “A sua obra é, sem qualquer dúvida, um património cultural português. A classificação será um passo importante para o seu conhecimento e preservação, assim como um impulso decisivo para a divulgação futura”, lê-se na petição.
José Mário Branco, considerado por especialistas um dos mais importantes nomes da música portuguesa do século XX, em particular desde a década de 1970, morreu aos 77 anos, no dia 19 de Novembro de 2019.
Em 2021, a família do músico assinou um protocolo de cedência de todo o espólio à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, para organização e catalogação de centenas de documentos, gravações, fotografias, discos e outros objectos. Este protocolo tinha como finalidade dar seguimento ao trabalho que José Mário Branco tinha encetado anos antes com o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) e o Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM), daquela universidade. , de identificação e catalogação da obra escrita e musical.