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Festas de final de ano são sinais de alegria, de decoração com luzes coloridas pelas ruas, nas casas, em todo lugar. É tempo de sonhar com o cheiro de comida gostosa invadindo a sala na noite de Natal. É o momento de rever os pais, os amigos e trocar abraços e presentes. Será assim para você?
Para um universo grande e quase invisível de pessoas, a chegada das festas de fim de ano, como o Natal e a virada do ano novo, não tem esse mesmo espírito festivo. Para quem perdeu um ente querido, que pela primeira vez não apresentará estes dados, é um momento no mínimo desafio e que pode gerar ansiedade, tristeza e até depressão. Estou falando dos enlutados. Mas você sabia que a dimensão do luto vai muito além da perda física de um amigo ou parente?
Embora ainda não validados em muitas sociedades, existem outros tipos de enlutados que sofrem tanto quanto alguém que perde outra pessoa. A perda de um animal de estimação, um presente, o diagnóstico de uma doença incurável, a mudança de país que leva à distância da família, além do choque entre culturas distintas, pode causar grande sofrimento. Portanto, há dimensões profundas naquilo que conhecemos como luto e a dor é igual e ao mesmo tempo único em todos os casos.
Tecnicamente, luto é um termo que vem do latim e significa uma resposta emocional à morte de alguém próximo, caracterizada por reações como tristeza profunda e saudade de algo ou de alguém que não voltará mais. É o corte de um elo. Uma separação que pode ser brusca ou crônica, quando nos despedimos de alguém que sofreu com uma doença progressiva e terminal.
Mas há algo que podemos fazer para dar às festas de final de ano um clima um pouco mais leve para quem está enlutado? Levando em conta a minha própria experiência, acredito que o mais importante é respeitar o sofrimento de quem está de luto. Se a pessoa em questão preferir não participar de reuniões familiares, não leve a mal. Mas se ela quiser estar presente, ajude-a a homenagear e preserve a memória daquela que morreu. Convide a família para preparar conjuntamente a receita predileta do parente falecido, coloque para tocar aquele fado ou o sambinha alegre que uma pessoa gostava e que vocês dançavam juntos.
Este ano, além do luto de estar morando longe da minha família, no Brasil, em razão do tratamento de duas doenças incuráveis que faço em Portugal (mieloma múltiplo, um câncer de sangue, e amiloidose AL), há quatro meses, perdi meu gatinho de estimação, Yves, que completaria neste mês 16 anos.
Sim, a dor de quem perde um animal, como eu disse antes, pode ser a mesma para quem perde um parente, um filho. Será necessário, claro, mas decidir colocar sua foto sobre a mesa de jantar, durante as festas, e lembrar com alegria do quanto foi bom estar em sua companhia, enquanto ele esteve presente em minha casa.
O luto não tem tempo para terminar. Pode durar uma vida inteira, porque você jamais se esquecerá de quem partiu, embora isso não signifique que você será triste por toda a sua existência. Com o tempo, a gente vai manejando a saudade, curando as cicatrizes expostas. Se precisar de ajuda, procure apoio de um profissional de saúde mental. Você não precisa atravessar esse caminho sozinho. O luto pode ser o início de um recomeço, preservando a memória de nossos entes queridos em nossos corações.