Primeiro-ministro de Israel alega perda de confiança
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou a demissão do ministro da Defesa, Yoav Gallant. Segundo Netanyahu, houve perda de confiança no ministro ao longo do tempo.
“Infelizmente, embora nos primeiros meses da guerra houvesse confiança e um trabalho muito frutífero, durante os últimos meses essa confiança rachou entre mim e o ministro da Defesa”, escreveu em comunicado oficial.
O relacionamento entre os dois não era bom, de facto, mas isso não explica a situação de forma mais ampla.
Gallant tem sido um defensor público do recrutamento de mais judeus ultraortodoxos para o exército. Os haredim, como são chamados em hebraico, representam 13% da população de Israel. Devem chegar a 16% até o ano de 2030, segundo o Escritório Central de Estatísticas (CBS, em inglês).
A 25 de junho deste ano, a Suprema Corte determinou que o governo israelita deveria passar a alistar judeus ultraortodoxos em idade de recrutamento para o exército, revertendo uma isenção de facto que vigora desde a fundação do país há 76 anos.
Justamente no dia da demissão, durante a visita a tropas no norte de Israel, Gallant disse a soldados que as forças do país precisavam de um recrutamento “em larga escala” de jovens ultraortodoxos para ajudar a atender às necessidades urgentes de mais militares.
Após a decisão de Netanyahu, o Movimento pela Qualidade do Governo (uma entidade da sociedade civil) fez um apelo à procuradora-geral de Israel, Gali Baharav-Miara, para “intervir imediatamente e examinar a legalidade” da decisão. Segundo a entidade, a decisão “coloca os interesses pessoais e políticos acima do bem do Estado e da segurança dos seus cidadãos”.
Um outro aspecto importante está relacionado à atual coligação do governo formada também por partidos que representam os ultraortodoxos.
Na semana passada foi apresentada uma lei que tem como objetivo garantir que os filhos de homens ultraortodoxos que são obrigados a prestar serviço militar (mas não o fizeram) continuem a ser elegíveis para receber subsídios de creche pagos pelo Estado. Essa lei pretende contornar justamente a decisão do Tribunal Supremo de que este subsídio financeiro é ilegal em casos em que o pai deveria estar no exército, mas de facto não está. Yoav Gallant também era contra à aprovação desta lei.
Nos bastidores, a informação é que, para não votar esta lei neste momento – que não contaria com a maioria mesmo entre os membros da coligação – Netanyahu teria concordado em demitir Gallant, nomear o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Israel Katz para o seu lugar, e dar a Katz a incumbência de elaborar uma nova lei sobre o alistamento – para ser mais claro, isenção – dos judeus ultraortodoxos do serviço militar.
Em maio deste ano, uma pesquisa do Pew Research Center mostrava que Gallant tinha 61% de aprovação pública, sendo o mais popular entre os membros do então gabinete de guerra.