Começou a trabalhar à noite, no Bairro Alto, em Lisboa, aos 19 anos. Ainda antes das experiências na televisão, passou um verão a organizar festas de música trance numa praia da Costa da Caparica.
Os eventos decorriam até de manhã, momento em que a polícia marítima aparecia: “As famílias estavam a chegar à praia e ainda havia raparigas a dançar em topless por causa da nossa festa.”
Foram tempos loucos em que Nuno Duarte, o artista conhecido por Jel, viveu sempre de acordo com a sua máxima: “Fazer acontecer, experimentar. Não sou daqueles tipos que hoje fique a pensar que devia ter feito mais, que deveria ter arriscado. Atirei-me de cabeça várias vezes e a verdade é que as coisas foram aparecendo.”
“Muita malta da minha geração arrepende-se de coisas que não fez, de não ter tido loucura na vida, e esse é um problema que não tenho porque vivi bem a parte boémia”.
Depois de programas de televisão como “Revolta dos Pasteis de Nata” (RTP), “Vai Tudo Abaixo” (SIC Radical) e “Sábado à Luta” (SIC), seguiram-se documentários até que a comédia voltou a puxar por ele.
Hoje, anda pelos palcos do país com o Tio do sal grosso (numa componente musical) e mostra o seu primeiro stand up “Excesso de Bagagem”.
“Perdi-me porque já não era eu”
Perto de completar 50 anos, diz que está mais calmo e já a fazer alguns planos a longo prazo por causa da filha “e de tentar dar-lhe as melhores condições possíveis”, mas não esconde a vontade por novas experiências e promete novidades para o início do ano.
“Durante dois, três anos dos Homens da Luta eu estava sempre em personagem e já nem tirava o bigode ou o megafone, mas depois paguei a fatura e perdi-me porque já não era eu.”
No meio do tremendo sucesso dos Homens da Luta e pelas personagens criadas por Jel e pelo seu irmão, Vasco Duarte (Neto e Falâncio), a dupla passou a atuar em grande eventos musicais: “Houve uma altura em que eu estava sempre em personagem. Era o Homem da Luta em todos os momentos. Acordava e as calças que tinha em cima da cadeira eram as da personagem, punha o bigode falso e ia logo para a rua ‘camaradas isto, camaradas aquilo’. Mas claro que depois pagas uma factura e perdes-te. Não era eu.”
Essa também foi uma fase, admite Jel, em que os Homens da Luta começaram a ser movidos mais pela política do que pelo humor e deboche: “Aquilo foi subindo à cabeça e essa foi a morte do artista. Foi depois disso, também, que senti que precisava de me afastar do humor por algum tempo.”
“Acabei condenado por usurpação de funções com seis meses de pena suspensa”
Para Jel e aqueles que o acompanhavam, nunca houve dúvidas. Os verdadeiros sketches, o humor que lhes interessava, estava na rua e não no conforto do estúdio.
“Na Revolta dos Pasteis de Nata, houve ali uma fase em que se falava muito de um suposto arrastão na praia de Carcavelos. Alugámos uma farda de polícia e fui para a rua armado em polícia justiceiro. Foi ali na Amadora. Abordava as pessoas na rua a perguntar onde tinham arranjado aquele telemóvel e coisas assim. Até que alguém depois chamou a verdadeira polícia.”
Jel seria detido, em conjunto com os outros elementos da sua equipa, nunca mais viu as fitas desse sketch (foram apreendidas pela polícia) e ainda teve de ouvir os avisos de um agente: “Vocês são malucos, fazem ali aquilo, nós entrámos e podia ter sido um morticínio [risos].”
A brincadeira, no entanto, teve os seus custos: “Acabei condenado por usurpação de funções com seis meses de pena suspensa.”
“Via-me a fazer de Jorge Mendes ou de Beto Acosta num filme”
Depois da realização de documentários, Jel não esconde a vontade de trabalhar como ator e agrada-lhe o potencial de humor no mundo futebol. “Em muitas coisas já faço de ator, mas além disso sou o produtor e realizador. Neste caso, era receber o guião, não ter essas outras preocupações, e representar o papel. Via-me a fazer de Jorge Mendes, com os telemóveis, aquela energia toda, sempre no arame.”
Se pudesse escolher um jogador, não escondendo o seu sportinguismo, gostaria de vestir a pele de Beto Acosta, avançado argentino que passou pelo Sporting e fez parte da equipa campeã nacional de 1999/2000.