Se tudo correr bem, a nova tecnologia com madeira poderá vir a tornar a exploração espacial um pouco mais sustentável.
O primeiro satélite de madeira do mundo, construído por cientistas no Japão, rumou na segunda-feira ao espaço no topo de um foguetão da SpaceX lançado a partir do Centro Espacial Kennedy da NASA.
Permanecerá em órbita durante seis meses, a 400 quilómetros acima da Terra, numa tentativa de provar que a madeira é um material de qualidade espacial. A esperança dos cientistas é que seja viável porque a madeira tem tudo para ter um bom desempenho no espaço, uma vez que não há nada que a faça apodrecer ou pegar fogo.
O LignoSat é um satélite do tamanho da palma da mão, desenvolvido pela Universidade de Quioto e pela construtora Sumitomo Forestry.
Os cientistas querem testar a capacidade da madeira de reduzir o impacto da radiação espacial nos semicondutores, um teste útil para aplicações como a construção de centros de dados.
O antigo taikonauta japonês Takao Doi faz parte da equipa de Quioto.
“Se conseguirmos utilizar materiais que os humanos podem fabricar e levá-los para o espaço exterior, as pessoas poderão criar uma sociedade sustentável. Por isso, queremos descobrir se a madeira pode ou não ser utilizada no espaço, e foi por isso que fizemos este satélite de madeira”.
Os sensores a bordo medirão como o material suporta temperaturas extremas no espaço, que variam entre 100ºC negativos e 120ºC positivos a cada 45 minutos, enquanto orbita da escuridão à luz do Sol.
Koji Murata professor de ciências florestais explica:
“A madeira utilizada para o satélite provém de um tipo de árvore de magnólia, o honoki japonês. Tradicionalmente, é fácil de processar e resistente a estilhaços, razão pela qual é normalmente utilizada em objetos como as bainhas das espadas japonesas e as lâminas das sandálias de madeira japonesas dada a sua resistência”.
Um satélite de madeira arde na atmosfera terrestre no final da sua vida, causando muito menos poluição também, em comparação com os de metal.
A equipa de investigação da Universidade de Quioto tem grandes esperanças no teste – que é um passo num sonho a longo prazo de construir casas de madeira na Lua e em Marte.
O satélite de madeira da ESA
O WISA Woodsat da Agência Espacial Europeia (ESA) deveria ter sido o primeiro satélite de madeira do mundo. Estava previsto para ser lançado em novembro de 2021, mas o projeto enfrentou problemas técnicos e logísticos que impediram a sua colocação em órbita até ao momento.
Este nano-satélite de 10 cm³ tinha como objetivo principal testar a durabilidade da madeira (mais precisamente, madeira compensada) em condições extremas do espaço, a uma altitude entre 500 e 600 km.
A madeira do Woodsat foi especialmente tratada com uma camada de óxido de alumínio para reduzir o risco de corrosão e evitar a libertação de gases, dado que a madeira convencional contém muita humidade, o que seria problemático no ambiente espacial.
Equipado com câmaras e sensores, incluindo uma câmara numa “selfie stick”, o Woodsat teria a função de monitorizar as alterações na superfície da madeira ao longo do tempo, proporcionando dados sobre a viabilidade de materiais alternativos e mais sustentáveis para futuras missões espaciais.
O Japão anunciou em 2023 o desenvolvimento do seu próprio satélite de madeira, que é então o primeiro deste tipo a ser efetivamente lançado.