Um comitê especial da ONU que investiga alegações de abusos israelenses em territórios ocupados declarou hoje que os métodos de guerra usados por Israel na Faixa de Gaza “correspondem às características do genocídio”.
O comité concluiu que, “desde o início da guerra”, em Outubro de 2023, “as autoridades israelitas têm políticas públicas abertas que privam os palestinianos das necessidades específicas mais básicas”, incluindo alimentos, água e combustível.
Os peritos compartilham que a fome se tornou uma “arma de guerra” e que há um desejo de “infligir castigos coletivos à população palestiniana” em retaliação pelos ataques do grupo extremista Hamas.
As declarações de altos funcionários e os obstáculos “sistemáticos e ilegais” à entrada de ajuda humanitária “tornam claro”, para o comité especial da ONU, que Israel procura instrumentalizar os recursos mais básicos para fins políticos e militares.
A operação militar na Faixa de Gaza “criou uma mistura letal de crises que causará sérios danos às gerações vindouras”, afirmam os peritos da ONU num relatório relatado pela agência espanhola Europa Press.
A guerra em curso na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque sem precedentes do Hamas no Sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns.
A retaliação de Israel com a invasão da Faixa de Gaza provocou mais de 43.700 mortos desde então, segundo as autoridades do enclave governado pelo Hamas desde 2007.
Até Fevereiro, as forças israelitas utilizaram mais de 25 milhões de toneladas de explosivos na Faixa de Gaza, afirmaram os membros do comité no relatório, também relatado pela agência francesa AFP.
Trata-se, segundo o comitê, do “equivalente a duas bombas nucleares”, ou seja, quase o dobro da bomba lançada sobre a cidade japonesa de Hiroxima, em 1945.
Bloqueio de informações
Em relação aos bombardeios em Gaza, o comitê considera que Israel não está a cumprir as obrigações de tomar todas as precauções possíveis para evitar efeitos colaterais em civis ao usar inteligência artificial “com supervisão humana mínima” e “bombas pesadas”.
Os membros do comité da ONU criticaram também as autoridades israelitas por promoverem a censura aos meios de comunicação social, bloqueando o acesso à informação e reprimindo a dissidência.
Tais práticas, referem, fazem parte dos esforços para controlar o discurso público, que incluem campanhas contra a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) e a ONU em geral.
Os inquiridores acusam Israel de ter ignorado no último ano os apelos repetidos da ONU e as decisões vinculativas do Conselho de Segurança e do Tribunal Internacional de Justiça, que estão a analisar uma denúncia sul-africana por alegado genocídio em Gaza.
O Comité Especial da ONU apela para que a comunidade internacional deixe de apoiar a ofensiva israelense em Gaza e o sistema de apartheid na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental.
“Respeitar o direito internacional e garantir a responsabilização recai diretamente sobre os Estados-membros [da ONU]”, afirmam os autores do relatório.
“Se não o fizerem, minam o próprio núcleo do sistema jurídico internacional e criem um precedente perigoso, permitindo que as atrocidades ocorram sem controlo”, advertem.
O relatório será apresentado na segunda-feira à Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, segundo a AFP.
O comitê que investiga as práticas israelenses que afetam os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados foi criado pela Assembleia Geral da ONU, em 1968.