“Apelo a todos os cipriotas para que incentivem e pressionem os seus dirigentes a trabalhar para um futuro melhor e seguro. Os líderes têm de mostrar vontade e determinação para fazer verdadeiros progressos”, pediu a enviada especial da ONU ao Chipre, María Ángela Holguín Cuéllar, numa carta aberta publicada hoje pela Unficyp, a força de manutenção da paz da ONU no Chipre.
Na carta, Holguín Cuéllar, nomeada para o cargo em janeiro pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, refere-se ao facto de o Chipre ter estado “parado no tempo” – segundo ela, o conflito congelou a ilha há mais de 50 anos -, e pede que se olhe para o futuro.
O conflito dura desde 1974, quando o exército turco ocupou a parte norte da ilha em resposta a um golpe de Estado cipriota grego que pretendia a unificação da ilha com a Grécia.
A ilha está separada entre a República de Chipre, de cultura grega, membro da União Europeia, e a República Turca de Chipre do Norte, que é reconhecida apenas pela Turquia.
Na carta aberta, a representante internacional explica que foi incumbida de averiguar se existem condições favoráveis para o reinício das negociações no sentido de construir uma solução definitiva e sustentável para a questão cipriota.
A última ronda de contactos aconteceu em 2017.
“É importante afastar-se de soluções que, no passado, criaram expectativas que não foram cumpridas e levaram a mais desacordos e frustrações. Agora, temos de pensar de forma diferente, mantendo a convicção de que um futuro comum traria grandes oportunidades para todos os cipriotas”, afirma Holguín.
A visão das Nações Unidas para a unificação de Chipre continua a ser a criação de um Estado federal, bizonal e bicomunitário, emergindo de dois Estados constituintes – um cipriota grego e outro cipriota turco – com uma única soberania, cidadania e personalidade internacional.
Holguín Cuéllar garante que, nos meses em que esteve no cargo, constatou que “foram passados demasiados anos em confronto e discriminação e demasiado tempo a culpar a outra parte”.
E, neste sentido, insiste que a atual situação no Chipre “criou uma maior distância e uma falta de conhecimento do outro, que cresce a cada dia que passa”.
“Reconhecendo os desafios, acredito que os cipriotas poderiam ter uma perspetiva mais brilhante e positiva se conseguissem reconciliar-se com a sua história de dor. Não podemos esquecer os jovens de ambos os lados da ilha. Eles merecem uma vida diferente, com igualdade de oportunidades, para que o seu futuro não seja truncado pelo passado”, defende Holguín.
A representante da ONU tem uma vasta experiência em conflitos, uma vez que, durante o seu mandato como ministra dos Negócios Estrangeiros da Colômbia, foi assinado o Acordo de Paz Final entre o Governo da Colômbia e as Farc-EP, em 2016, para pôr fim ao conflito armado da Colômbia que começou em 1960.
A força de paz da ONU no Chipre (UNFICYP) está presente naquela ilha desde 1964, quando foi chamada para pôr fim às hostilidades que surgiram entre cipriotas gregos e cipriotas turcos três anos depois do Chipre se ter tornado independente do Reino Unido.
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