Um quadro descoberto por um comerciante de sucata na cave de uma vivenda italiana há seis décadas é, na realidade, um obra de Pablo Picasso e poderá ser vendido por milhões, segundo os especialistas.
Luigi Lo Rosso costumava passar os dias a vasculhar casas abandonadas e lixeiras em busca de tesouros para vender na loja de penhores da família em Pompeia, Itália.
Foi assim que em 1962 encontrou uma tela enrolada com uma pintura assimétrica de uma mulher na cave de uma casa de campo na ilha vizinha de Capri.
A pintura é agora considerada uma imagem distorcida da fotógrafa e poetisa francesa Dora Maar, que foi amante de Picasso, de acordo com Luca Gentile Canal Marcante, um especialista em arte e presidente honorário da Fundação Arcadia, uma organização sem fins lucrativos com sede na Suíça.
A pintura a óleo sobre tela apresenta o estilo assimétrico de Picasso de uma mulher num vestido azul com batom vermelho.
Com apenas 24 anos, Lo Rosso não percebeu que a assinatura no canto superior esquerdo da obra de arte que dizia simplesmente “Picasso” significava alguma coisa, diz o seu filho Andrea Lo Rosso à CNN.
O Lo Rosso mais velho, que morreu em 2021, colocou a obra numa moldura barata e deu-a à sua mulher – para desgosto dela, conta o filho.
A mãe não o achou suficientemente bonito para vender, pelo que ficou pendurado na casa da família durante cerca de 50 anos e, mais tarde, num restaurante que possuíam.
“Quando a minha mãe o pendurou na parede para decorar a casa, dando-lhe o nome de ‘o rabisco’ devido à estranheza do rosto da mulher retratada, eu ainda nem sequer tinha nascido”, recorda Andrea Lo Rosso.
“Pelas histórias do meu pai, sei que foram recuperadas duas telas da lixeira de Capri. No entanto, apenas uma estava assinada por Picasso. Ambas estavam cobertas de terra e cal e a minha mãe estendeu-as e lavou-as com detergente, como se fossem tapetes.”
Na década de 1980, quando Andrea Lo Rosso andava na escola primária, viu o quadro “Buste de femme (Dora Maar)” de Picasso num livro de história da arte e ficou a saber que o pintor espanhol tinha passado algum tempo em Capri na década de 1950.
Disse então aos pais que o quadro poderia ter algum valor.
Assim começou uma viagem de décadas para autenticar a assinatura na obra de arte.
A família diz ter contactado historiadores de arte, muitos dos quais lhes disseram que não se tratava de um original, mas ofereceram-se para ficar com ele.
Desconfiados, registaram a tela junto da polícia do património italiana, que começou por pensar que poderia ser roubada, mas, como não estava autenticada na altura, permitiu que a família ficasse com ela.
A obra de arte tem estado fechada num cofre em Milão desde 2019. Finalmente, no mês passado, Cinzia Altieri, grafóloga de um tribunal de património em Milão, conseguiu certificar a assinatura de Picasso como autêntica.
Altieri trabalhou no quadro durante meses, comparando-o com outras obras de Picasso e efetuando testes forenses para se certificar de que foi assinado na mesma altura em que foi pintado.
“Não há dúvida de que a assinatura é dele”, afirmou aos meios de comunicação locais italianos. “Não há provas que demonstrem a sua natureza apócrifa.”
O especialista em arte Marcante, que trabalhou com a família Lo Rosso, disse à CNN que está confiante de que a pintura é autêntica.
O quadro dos Lo Rosso deverá valer cerca de 6 milhões de euros, segundo as avaliações de Altieri e Marcante, com base no atual mercado da arte.
Se for certificado pela Fundação Picasso em Paris, tornar-se-á ainda mais valioso.
“Estou feliz, mas vamos esperar para brindar, ainda há um passo a dar antes de considerarmos esta incrível história terminada”, considera Andrea Lo Rosso.
“Continuo a trabalhar como faço todos os dias, na esperança de que, mesmo em Paris, se convençam da autenticidade do quadro.”
A CNN contactou a Fundação Picasso para comentar o assunto.
Lo Rosso e os seus irmãos dizem que quando o quadro for finalmente reconhecido pela Fundação Picasso, o que poderá mais do que duplicar o seu valor, irão leiloá-lo em honra do seu pai, que queria que o quadro fosse certificado e vendido.