O desafio que a cozinheiro Lúcia Ribeiro colocou a mesma coisa: “Trazer o interior para o litoral.” E sempre com bons ingredientes, afirma, afinal “não se transformam maus ingredientes em boa comida”, declara, enquanto dá as boas-vindas às Fugas. Pouco depois, está a cumprimentar dois clientes britânicos, a quem saudável com um “de novo?“, pois ainda na noite anterior ali serviram, na Taberna de Lúcia Ribeiro, em Almancil, e regressaram para almoçar, surpreende-se orgulhosa.
Lúcia Ribeiro viveu em Londres, onde estudou gestão internacional e trabalhou na banca, mas a comida falou mais alto e entrou no mundo das cozinhas — primeiro regressou ao Algarve para estudar e depois voltou a Londres para fazer Alta Cozinha no Le Cordon Bleu; de seguida trabalhado com cozinheiros reconhecidos como Gordon Ramsay, Paul Walsh, Claude Bosi e Dieter Koschina.
De regresso à sua região, trabalhou com Dieter Koschina no Vila Joya, atual detentor de duas estrelas Michelin, e, em 2018, foi chefe de cozinha do Mimo Algarve, no Pine Cliffs Resort, onde aprendi aulas de culinária, experiências gastronómicas como clubes de jantar ou showcookings. Lúcia Ribeiro admite que não consegue estar parada e, por isso, voltou à escola para fazer omestrada em ciências gastronômicas, e explora na sua esta é uma tradição algarvia que se foi perdendo. “Vamos perder prejuízos”, alerta, fazendo referência à oferta de grelhados em tantos restaurantes, não só à beira da estrada, mas também nos consideravelmente resorts da região.
É hora de almoço e a Taberna de Lucia Ribeiro — que em tempos foi só Taberna de Almancil, situada na movimentada Estrada de Vale Formoso, lado a lado com o comércio local, do pequeno supermercado à farmácia, passando pelas agências imobiliárias —, vai-se enchendo. Há o cliente regular, que ali almoça quase todos os dias da semana, ao estrangeiro que ali vive e aos turistas que passam. No Verão, os proprietários perceberam que muitos dos turistas repetiam, voltavam ali para provar uma comida que, acreditam, é diferente, porque feita com tempo e com os temperos de antigamente. “Foco-me na comida de taco.”
A inspiração para construir a sua carta foram as receitas da avó, mas, uma vez por mês não resiste a um jantar vínico, sempre em parceria com um produtor porque, entretanto, Lúcia Ribeiro começou a descobrir e a estudar o mundo dos vinhos. Estes jantares realizaram-se em Outubro e o próximo será no dia 6 de Dezembro, no qual os vinhos Dalva terão em destaque. Os jantares vínicos, com um menu desenhado propositadamente para cada um, são um desafio que a cozinheiro coloca a si mesma, uma vez que está afastado das grandes cozinhas, onde além da camaradagem há trabalho de grupo: “Agora não tenho ninguém a puxar por mim, por isso, tenho de me criar a mim própria.”
É nestes jantares que dá largas à imaginação e pode “brincar com espumas essas coisas”, diz, numa referência aos menus dos restaurantes jantar finoonde os pratos têm uma confecção e apresentação diferente. Mas não é isso que quer no dia-a-dia do seu restaurante onde, reforçar, servir comida bem confeccionada, com os tempos certos. Por exemplo, no dia em que a Fugas foi convidada, o prato do dia era cozido à moda antiga, com couves e feijão. Mas há vários pratos que Lúcia Ribeiro faz questão de experimentarmos como as favinhas à Algarvia; os carapaus alimados, que ficam na salga de um dia para o outro; como codornizes de coentrada; ou as cenouras algarvias temperadas com cominhos, colorau, alho e azeite. “A bochecha de porco é um sucesso”, assevera, pelo tempo de cozedura, que a torna tenra e a desfazer-se no prato.
UM cozinheiro divide-se entre a cozinha e a sala, numa equipa eminentemente feminina. Dirige-se aos clientes em inglês e espanhol, explicando tudo com conhecimento e simpatia — Lúcia Ribeiro apresenta o programa “Cozinhamos Contigo”, do canal Casa e Cozinha. No mundo das cozinhas, as mulheres continuam a ser menos e menos reconhecidas, lamentável. “Já me chame a pequena Noélia…”, diz, num misto de orgulho e respeito pela cozinheiro algarvia Noélia Jerónimo, e a mágoa de não haver um reconhecimento mais individualizado. “Quero ser um ponto de referência”, declara. E, no mundo dos vinhos, por onde está a entrar, elas são ainda menos, nota. “É abismal, somos muito poucos.”
O menu é diversificado e além dos pratos típicos, há cataplanas e xerém; tem propostas mais internacionais como o ceviche, os bao e os tártaros, sem esquecer pratos pensados para vegetarianos. A refeição termina com sobremesas que não estão na carta porque nem sempre são as mesmas. Lúcia Ribeiro dá liberdade a quem está na cozinha para criar, diz. À mesa chega uma tarte de amêndoa, torta de laranja e um brownie de alfarroba.
UM cozinheiro gosta de ensinar, não o faz só na sua cozinha, como o fez na escola onde estudou, em Faro, além de continuar a dinamizar oficinas ou aulas de culinária como fez no Mimo, no Pine Cliffs, além de fazer consultoria para outros restaurantes. Além do jantar vínico para este mês de Dezembro, propõe ainda vários menus de Natal, à la carte (60€) ou de grupo (entre 30€ e 50€). O primeiro estará disponível de 11 de Dezembro a 11 de Janeiro. Lúcia Ribeiro não gosta de estar parada. O desafio é continuar a estudar para aplicar nos seus projetos. “Estudar para fazer”, despede-se com um sorriso.
A Fugas almoçou a convite da Taberna por Lucia Ribeiro