Os cientistas estão trabalhando em contra-relógio para ultimar duas vacinas que possam proteger as coalas da clamídia, uma doença infecciosa que constitui uma grave ameaça a estes pequenos marsupiais. “Já passamos a fase da urgência. Era urgente há 10 anos”, afirma à BBC Michael Pyne, veterinário-chefe do Hospital da Vida Selvagem Currumbin, em Queensland, na Austrália.
A clamídia é uma das principais causas do declínio recente da população de coalas (Phascolarctos cinereus), uma vez que pode provocar a morte ou deixar inférteis estes animais icônicos da Austrália. UM Clamídia pecorum é um diretor espécie de clamídia que afeta estes mamíferos marsupiais, tanto na natureza como no cativeiro.
Peter Timms, um microbiologista da Universidade de Sunshine Coast, na Austrália, desenvolveu com o equipamento uma vacina contra a clamídia que está sendo testada num pequeno grupo de coalas em Queensland e Nova Gales do Sul. Os resultados preliminares sugerem que o medicamento reduz a gravidade da doença, ainda que não impeça o processo infeccioso.
A vacinação de um quinto de uma população de coalas, garantiu Peter Timms à revista norte-americana O Atlânticoparece ter melhorado a sobrevivência em pelo menos 60%. Paralelamente, Ken Beagley, professor da Universidade de Tecnologia de Queensland, liderou a criação de uma outra vacina em estreita colaboração com o veterinário Michael Pyne.
Os dois grupos de investigação desenvolvem, há quase duas décadas, fármacos que podem salvar as coalas e evitar o risco de uma possível extinção. Contudo, existem desafios na área da regulamentação e do financiamento que estão a dificultar o progresso e a aprovação final de uma vacina.
“Haverá obstáculos”, prevê o microbiólogo Peter Timms, citado pela cadeia britânica BBC. O cientista submeteu a vacina que desenvolveu, em parceria com Samuel Phillips e a equipe restante, à aprovação da agência australiana que regula medicamentos. Mas, para já, os pesquisadores se mantêm cautelosos.
Falta tempo e dinheiro
Um dos maiores desafios enfrentados pela equipe de Timms e Phillips parece ser uma gestão do tempo. Por um lado, estão desesperados atrás de financiamento. Por outro lado, são constantemente bombardeados com pedidos de vacinação. Qual será a melhor aposta? Fazer um grande número de ensaios para ajudar no presente os coalas ameaçados? Ou investir no processo lento de investigação e aprovação da vacina para proteger mais coalas no futuro?
“As pessoas vêm ter conhecimento com alguma regularidade e perguntam se podemos vacinar mais coalas. E a resposta, numa dada altura, começa a ser negativa, caso contrário estaremos a gastar todo o nosso tempo e energia a fazer isso”, explicou Peter Timms à BBC.
Embora os dois grupos de investigação já tenham resultados climáticos promissores, não é possível afirmar quando haverá uma vacina aprovada. Além do burocrático, rigoroso e longo processo de aprovação de novos medicamentos, por si só dispendioso, há outro fator que consome tempo e dinheiro: o trabalho de localizar, capturar e vacinar indivíduos selvagens durante uma fase experimental.
Os governos estaduais e federais da Austrália são os maiores financiadores dos dois projetos de imunização dos coalas, segundo a BBC. Em 2023, Camberra deu à Universidade de Tecnologia de Queensland e à Universidade de Sunshine Coast um total de 1,5 milhões de dólares (mais de 1,4 milhões de euros).
“O investimento em projetos de saúde dos coalas, como este implante de vacina que está a ser desenvolvido na Universidade de Tecnologia de Queensland, desempenhará um papel crucial na proteção e conservação deste animal tão querido”, disse na altura Tanya Plibersek, ministra do Ambiente da Austrália, referindo-se à vacina desenvolvida pelo cientista Ken Beagley.
Como a vacina da Universidade de Tecnologia de Queensland foi projetada para ser administrada em duas doses – ao contrário do medicamento desenvolvido por Peter Timms, que consiste em uma dose única –, Ken Beagley apostou num implante capaz de liberar a médio prazo a segunda dose. Isto evitaria uma segunda localização e captura de animais selvagens para uma segunda etapa de imunização.
Em 2014, quando a população de coalas foi avaliada pela última vez, a espécie Phascolarctos cinereus foi considerado como “vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Ao longo da última década, o animal icônico da Austrália tem enfrentado um declínio acentuado e está hoje mais ameaçado de extinção.
Além da clamídia, há outros fatores que contribuíram para o declínio da população de coalas. Os incêndios florestais são um deles – há quatro anos, por exemplo, uma vaga de fogos varreu a Austrália e afetou profundamente a espécie –, assim como a seca hidrológicaa manipulação do habitat, o abate de árvores para a obtenção de lenha e os atropelamentos.