Um grupo de cientistas afirma ter descoberto “o maior coral do mundo” nas ilhas Salomão, no sudoeste do oceano Pacífico. O animal possui 34 metros de largura e 32 de comprimento: ou seja, pensamos deitar a estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, sobre o organismo e ainda sobraria espaço. É tão grande que “pode ser visto do espaço”, garantindo ao pesquisador.
“Ao longo dos mais de 30 anos que trabalho nisto [investigação marinha]nunca vi nada tão gigante; é espetacular”, afirmou Eric Brown, cientista que integrou a expedição Mares Imaculados da National Geographic às ilhas Salomão, durante uma conferência de imprensa virtual. O investigador afirmou que esta descoberta apenas reitera a urgência de “proteger estas áreas marinhas vulneráveis”.
Encontrado no grupo de ilhas das Três Irmãs, o megacoral da espécie Pavona clavus é formado por uma sofisticada rede de pólipos de corais que se desenvolveu ao longo de três séculos – essa é, de resto, a idade estimada deste animal gigante. O animal apresenta uma cor acastanhada, embora pareça ter sido “pincelado” aqui e ali com tons vermelhos, amarelos e até azuis.
“Quando pensamos que já não há nada para descobrir no planeta Terra, encontramos um enorme coral composto por cerca de mil milhões de pequenos pólipos, cheios de vida e cor”, afirmou Enric Sala, explorador residente da National Geographic e fundador da Pristine Seas.
Os cientistas frisaram que o megacoral descoberto consistia num único organismo, no qual os pólipos partilharam o mesmo material genético e foram crescendo “ininterruptamente” ao longo de centenas de anos. Desta forma, uma descoberta diferente de um recife, que agrupa diferentes colónias de corais.
À primeira vista, o megacoral pode ser confundido com uma rocha submersa. Ou mesmo os destroços de um naufrágio – hipóteses aventadas pela equipe que segue a bordo do navio de investigação Mares Imaculadoscomposto por 18 cientistas e cinegrafistas. Contudo, quando o cineasta subaquático Manu San Félix mergulhou para verificar, percebe que, afinal, se tratou de um exemplar colossal de Pavona clavus.
“É um monumento natural que ajudou à chegada dos primeiros europeus a estas águas. Figuras ilustrativas da Humanidade coexistiram com esta colónia [de corais] – Newton, Darwin, Curie, Gandhi, Einstein – e ela sobreviveu a todos eles. O código genético destes simples pólipos é uma enorme enciclopédia que se regista como sobreviver a múltiplas condições climáticas e, mesmo agora, continua a fazê-lo com o aquecimento do oceano”, afirmou San Félix, citado numa nota de imprensa.
Este exemplar único de Pavona clavus constitui um habitat para diferentes espécies, oferecendo abrigo e local de reprodução para crustáceos, peixes e outros organismos marinhos, um exemplo do que ocorre com tantas outras espécies de animais cnidários. Além disso, os corais desempenham em todo o mundo uma função importante no que toca à protecção fiscal e às actividades económicas ligadas ao turismo.
Como um gelado derretido
Estima-se que o megacoral identificado nas ilhas Salomão seja três vezes maior do que o Grande mamãeconsiderado até agora um dos maiores corais conhecidos no planeta. Ó Grande mamãe está localizado na Reserva Nacional Marinha da Samoa Americana, em Ta’u, a maior ilha do grupo Manua.
Molly Timmers, cientista principal da missão, que viu o Grande mamãe Há duas décadas, quando ainda trabalhava para a Administração para o Oceano e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês), comparou os dois organismos recordistas a bolas de gelado.
“Enquanto a Grande mamãe parecia uma enorme bola de gelado colocada sobre o recife, este coral recém-descoberto é como se o gelado começasse a derreter, espalhando-se para sempre ao longo do fundo do mar”, descreve Molly Timmers.
Durante uma conferência de imprensa, Molly Timmers sublinhou que os corais enfrentam hoje ameaças globais e locais. Em termos planetários, a crise climática é a principal ameaça, uma vez que conduz ao aquecimento do oceano e expõe estes animais aos animais estresse térmico. O branqueamento em massa dos recifes em todo o mundo desde Fevereiro de 2023 até agora é o mais extenso de que há registo, referiu a NOOA há algumas semanas.
No que toca às ameaças locais, Molly Timmers destaca a sobrepesca e o excesso de nutrientes (proveniente de resíduos agrícolas). E pede-nos que pensemos sempre nas colónias coralinas como em canteiros de flores onde cada agente desempenha uma função essencial. “Imaginem que os recifes de corais são os seus jardins”, diz um cientista.
Num jardim, há seres vivos que removem as ervas orgânicas, há outros que arejam ou nutrem o solo. Sem um desses atores, o ecossistema ficará desequilibrado, assegurado Temporizadores. Do mesmo modo, a actividade piscatória desregrada coloca em risco os corais porque reduz a actuação de espécies importantes para a manutenção dos jardins de corais, por exemplo.
A descoberta do megacoral nas ilhas Salomão ocorre numa altura em que há um esforço global para proteger 30% do oceano até 2030 (meta 30×30). Este objectivo internacional integra o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês), aprovado por 196 países em 2022 em Montreal, no Canadá.
Até agora, segundo os cientistas, menos de 9% das áreas marinhas estão protegidas de alguma forma na Terra. A ideia é que, ao longo dos próximos seis anos, os países signatários creem progressivamente santos. Portugal determinou, em Outubro, a criação de áreas marinhas protegidas em 30% do mar do arquipélago dos Açores, considerada a maior reserva do Atlântico Norte.