Onde foi no dia 25 de Novembro?
Neste dado não houve uma revolução nem um corte definitivo com a tutela do MFA e do Conselho da Revolução sobre a vida política nacional, mas um passo importante para as declarações de uma coisa chamada democracia e o fim da chamada “legitimidade revolucionária” que tantas ditaduras neste O mundo se instalou, quando os (alguns) que lutaram contra um opressor se arvoraram em “legítimos” herdeiros e donos do poder…
Do PS à direita, todos os partidos apoiam o movimento. À luz das eleições constituintes de Abril de 75, cerca de 72% do eleitorado. Nas presidências do ano seguinte, o comandante operacional do movimento, Ramalho Eanes, é eleito Presidente da República à primeira volta com 62% dos votos. Ao longo dos anos, a esquerda pró-soviética e os extremos-esquerda nunca foram muito mais longe do que isso; hoje até são bastante menos.
Porque teria de haver agora polêmica com os dados? Basicamente porque o projecto de poder do PS, a partir de 2015, inventou um alinhamento de forças e supostos princípios comuns com uma ampla “esquerda”, onde se incluíam órfões de Estaline e admiradores de Maduros… O PS de 1976 e de Mário Soares sabiam que o PCP e Cunhal não eram democráticos e, se o espírito democrático permitiu que o PCP continuasse a existir e a ir a votos, era importante impedi-lo de concretizar um projecto totalitário.
Portanto, o PS deve esclarecer e definir-se. Ou é democrata, defensor da liberdade e condena inequivocamente os apetites autoritários dos herdeiros de Cunhal, ou assume efectivamente que tem algo em comum com eles e que o alinhamento na esquerda geringonça é ideologicamente genuíno. Ou, então, deveria dividir-se em dois, senão parece-me que anda uma metade a enganar a outra. Viva a democracia!
Carlos JF Sampaio, Esposende
25 de abril sempre
A disciplina da História é cada vez mais precisa: saber História, estudá-la, ensiná-la com autorização, lembrar o que foi a nossa, ter memória assente em fatos, analisá-los com o rigor possível, e recusar ficções, branqueamentos, desmemórias e revanchismos. O grande Marc Bloch (1886-1944), fundador dos Annales (e assassinado pelos nazistas), lembrou-o em palavras essenciais de características: “A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. E não vale a pena esgotarmo-nos a compreender o passado quando nada sabemos do presente.”
Tudo isto vem a propósito da lúcida intervenção do deputado António Filipe sobre os acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, dados que a direita mais revanchista (aquela que abomina a Constituição, que nunca aceitou as conquistas da Revolução do 25 de Abril, e que ocultamente tece loas ao salazarismo) gostava de transformar em feriado nacional, atualizando-a moderna!
A enorme manifestação popular que assinalou há seis meses os cinquenta anos do 25 de Abril mostra o que estes dados continuam a significar para o coração dos portugueses: um símbolo de dados, que une as pessoas, acima das suas legítimas opções opções plurais: foi uma “revolução com povo”, unívoca, feita para derrubar um regime autoritário de recorte fascista e, também, contra as privilégios dos que com ele se sentiram realizados. Os mesmos que nunca deixaram de conspirar contra a Democracia de Abril, hoje como ontem (sim, 28 de Setembro de 1974, 11 de Março de 1975, são dados que fazem parte da nossa História recente, tal como o 25 de Novembro). .
Saúde-se, pois, o deputado António Filipe pelo seu estritamente acerto com uma História que é a nossa e que, por alguns, foi agora tão aviltada ao sabor de “conveniências anti-sistema”” (antidemocracia, entenda-se). Felizmente, ainda há quem conheça a História e saiba ter lucidez e rigor na compreensão das dinâmicas transformadoras que a fazem ser o que é: Ciência Social, tronco das Humanidades.
Vítor Serrão, Santarém
Rosas brancas? Que díspar!
Cravos vermelhos, bem vermelhos, são o símbolo de Abril. Até aprecio rosas brancas, mas não na comemoração duma data que pretendeu relatar as promessas de Abril: Liberdade e Democracia. São bonitas as rosas, mas o “dia inicial inteiro e limpo” foi em 25 de Abril. E quem transferiu e morreu contra a ditadura bem merece os cravos vermelhos. Evitou-se uma guerra civil durante tempos crocantes e hoje, em Portugal, ninguém está preso por delito de opinião. O Parlamento deveria ter sido abrilhantado com o símbolo de Abril.
J. Sousa Dias, Ourém