Com um portfólio de iniciativas ambientais extensas, a cidade de Guimarães foi reconhecida como Capital Verde Europeia 2026. Não foi a primeira vez que o município tentou alcançar o galardão. Em 2016, a cidade que nasceu Portugal apresentou a primeira candidatura, tendo ficado em quinto lugar entre as 13 cidades concorrentes. O município tentou de novo ser o eleito em 2025, mas acabou por perder para Vílnius, capital da Lituânia. Chegou agora à sua vez.
A cidade portuguesa coincide com as cidades de Heilbronn, na Alemanha, e Klagenfurt, na Áustria. Após ter ultrapassado diversas fases, o júri destacou Guimarães pelo seu desempenho “excepcional” em sete parâmetros ambientais: qualidade do ar; ruído; água; biodiversidadeáreas verdes e uso do solo; resíduos e economia circular; alterações climáticas: mitigação; e alterações climáticas: adaptação.
“O olhar da Europa para o que Guimarães está a fazer e vai fazer com o programa que vai apresentar em 2026, essa atenção e visibilidade são muito importantes”, refere Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal de Guimarães, ao PÚBLICO. Desde que chegou ao cargo, em 2013, o presidente e a sua equipa têm definido como políticas ambientais como um dos pontos cardeais da sua governança, assegura.
“Para nós, este prêmio é muito importante porque já há uma dezena de anos que estamos seguindo este caminho da sustentabilidade ambiental com uma agenda intensa e transversal”, comenta o presidente.
Caminhada pela sustentabilidade
Guimarães tem trabalhado em diversos projetos ambientais para adaptar uma cidade histórica, com quase 900 anos, aos novos desafios ambientais. “Temos uma estratégia holística”, explica o presidente da autarquia, referindo vários pontos de trabalho como a qualidade do ar, da água e dos rios, a descarbonização da cidade, a circularidade da economia com a aposta em reutilização de materiais-primas, a biodiversidade, as tecnologias digitais e a inteligência artificial, entre outros.
Um dos projectos que se destacam é a Horta Pedagógica de Guimarães, localizada na Veiga de Creixomil, um projecto de agricultura urbana com mais de 15 anos de existência que garante o contacto entre a população, a agricultura e a alimentação. No Dia do Pinheiro, que se celebrou na sexta-feira, um agricultor que não se quis identificar estava a apanhar grelos para levar para o jantar festivo. Uma caminhada até à horta faz-se entre a natureza, pela Ecovia de Guimarães, que liga a cidade a Fafe, na zona Leste, e os terrenos agrícolas da Veiga de Creixomil, na zona Ocidental, totalizando 17 quilómetros de percurso.
Domingos Bragança destaca ainda a necessidade de existirem mais “espaços verdes” na cidade, para além de se continuar a investir no “inventário de toda a fauna e flora de Guimarães” e na identificação das espécies em perigo. Crescente ainda a união com a comunidade educativa e escolar, no sentido de “envolver a comunidade” e apostar na “alfabetização ambiental e ecológica”.
No Dia do Pinheiro, celebrado a 29 de Novembro, Centenas de pessoas reuniram-se no centro de Guimarães para assistir à parada das crianças. Uma delas foi Joaquina Ferreira, de 66 anos, que ficou feliz por saber que a “sua terra” foi reconhecida internacionalmente. No entanto, retirar os carros do centro histórico e torná-lo 100% pedonal, uma medida em discussão na Câmara Municipal de Guimarães, não agrada ao vimaranense. “Eu acho que a cidade está a fazer esforços para ser mais sustentável, mas não acho muito bem [quererem tirar os carros do centro]porque as lojas vão sofrer”, acrescentava, enquanto procurava o seu neto entre as várias crianças.
Jaime Cardoso, que também assistiu ao desfile, lamentou a perda dos jardins no centro histórico, que considerava “um dos mais bonitos da cidade”, e criticou a câmara municipal pela decisão de colocar calçada portuguesa no Largo do Toural. “Está a faltar verde aqui. Há um pouco lá em baixo [no Largo da República do Brasil]mas se metessem mais aqui dava uma vista fantástica”, acrescentou. “Deve haver um motivo para Guimarães ter sido escolhido, mas eu não vejo verde.”
Programa 2026: uma aposta na mobilidade e na monitorização das alterações climáticas
Um dos pontos em que a cidade de Guimarães tenciona investir com o apoio financeiro destinado aos vencedores do prémio é a transição para uma mobilidade sustentável. O presidente do município destaca a necessidade de adaptar uma cidade histórica à mobilidade urbana sustentável. Guimarães pretende ser uma cidade-piloto na transformação dos seus 40 hectares de património histórico numa área sustentável e 100% pedonal.
A cidade procura ainda uma maior aposta na investigação aeroespacial, não só no âmbito de ensino e investigação, mas também com o intuito de monitorizar as alterações climáticas através de satélites num projecto anunciado este ano em parceria com o CEiiA – o “Guimarães Space Hub” .
Uma outra preocupação surge da necessidade de apostar na circularidade dos produtos vimaranenses, em especial da indústria do têxtil e do calçado, que se destacam por não serem indústrias sustentáveis. Segundo a autarca, o objectivo é desenvolver a circularidade das matérias-primas, o que passa pela sua reutilização dessas matérias tão características do município.
Guimarães foi a segunda cidade portuguesa para obter o título de Capital Verde Europeia, depois de Lisboa em 2020. A “Cidade-Berço” tem agora a tarefa de dar continuidade aos projectos de revitalização da cidade, promovendo iniciativas no âmbito da neutralidade carbónica e apostando na manutenção da qualidade de vida dos habitantes, da biodiversidade e do território. A Comissão Europeia atribuiu 600 mil euros ao vencedor para melhorar a sustentabilidade ambiental da cidade.
“Um só planeta, uma só cidade”
Foi em Valência, em Espanha, que Guimarães recebeu o prémio, um local que acaba por trazer outro simbolismo à premiação após as cheias que assolaram a província no início do mês.
“Sentimos tudo. O desastre natural que Valência sofreu trouxe uma maior premência para a luta contra as alterações climáticas. Sabemos que não há outro caminho que não seja sustentável”, destaca Domingos Bragança. O presidente da câmara acrescenta ainda que as cheias de Valência trouxeram a necessidade urgente de se pôr em prática novas políticas ambientais nas cidades para mitigar os efeitos da crise ambiental.
“Só temos um planeta, uma só cidade”, descreve a autarca. “Nós, vimaranenses, fizemos este caminho, um caminho que merecia reconhecimento. É um resultado natural do caminho percorrido. Finalmente, fez-se justiça a Guimarães!”
A cidade também foi reconhecida em Março como uma das 100 cidades europeias mais comprometidas com a neutralidade carbónica até 2030 com o certificado Mission Label da Comissão Europeia.
Texto editado por Ana Fernandes