Os artigos da equipe do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
Acesso gratuito: baixe o aplicativo PÚBLICO Brasil em Android ou iOS.
O diagnóstico de câncer é uma notícia que ninguém deseja receber. De repente, você perde o controle sobre sua própria vida, porque, agora, há uma doença que pode ser incurável, enfraquecer e transformar seu corpo, além de mudar completamente sua rotina. A partir de então, tudo gira em torno não dos compromissos de trabalho, mas obedece ao tempo das sessões de quimioterapia, dos exames, de todo um tratamento complexo e dos seus efeitos secundários.
Sobreviver no mundo de hoje já é uma luta. Imagine então passar por esse desafio carregando o diagnóstico de um câncer incurável. Em janeiro de 2022, há apenas seis meses morando em Portugal, como imigrante, fui apresentado com duas doenças graves, raras e incuráveis: mieloma múltiplo, um câncer de sangue, e amiloidose AL, uma cardiomiopatia. Como então sobreviver a essas doenças, seus tratamentos pesados e ainda preservar a saúde mental?
Segundo relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2022, quando tive meu diagnóstico, houve 20 milhões de novos casos de câncer e 9,7 milhões de mortes. Cerca de uma em cada cinco pessoas terá câncer durante a vida. A doença de que muita gente tem medo de pronunciar o nome para “não atraí-la” é mais comum do que se imagina.
Nessa matemática que só tende a aumentar, o melhor é nos prepararmos para enfrentar a doença quando precisarmos testemunhar o adolescente de uma pessoa querida ou mesmo cuidar de nós mesmos, caso sejamos examinados com esse diagnóstico. Mas como fica a nossa saúde mental diante desse quadro desanimador? A verdade é que os tratamentos para prolongar o tempo e a qualidade de vida dos pacientes surgem a cada momento com a evolução da medicina, e o câncer chega a ser considerado, em muitos casos, como o próprio mieloma múltiplo, uma doença crônica, um exemplo do diabetes.
Mesmo diante de tantos avanços científicos e benefícios aos pacientes, é difícil controlar a mente, e a depressão pode se fazer presente. Mas como fugir desse mal? Como estar bem mentalmente para atravessar a jornada do câncer? Aqui falo com minha experiência como sobrevivente que superou o prognóstico inicial de apenas seis meses de vida: além de outras atividades gratificantes, resolvi focar na meditação, entrega do corpo, boa alimentação e leitura edificante. A meditação, uma prática milenar, hoje em dia conhecida também como mindfulness, traz equilíbrio à mente, acalmando os pensamentos e resultando em paz interior. Pode ser realizado por qualquer pessoa, independente de religião.
Manter o corpo em movimento faz despertar uma série de hormônios e substâncias corporais que nos trazem bem-estar. Converse com seu médico e escolha a atividade mais adequada para você. Eu escolhi caminhar, de preferência, próximo à natureza, observando os pássaros e o verde das paisagens, além da prática do yoga.
Houve momentos do meu tratamento em que precisei pegar pesado na dieta, mas, hoje em dia, como de tudo, evitando embutidos e ultraprocessados. Apenas não abra mão de muitos vegetais e frutas todos os dias. Carne vermelha como muito rara.
Por fim, uma leitura! Edificar significa levantar, animar, colocar para cima. Portanto, sugiro que leia livros com temas que lhe façam olhar a vida sob uma perspectiva positiva, independentemente do gênero escolhido. Inspirando-se em histórias de outros sobreviventes que resgataram a cura ou mesmo sem possibilidade de cura, mas aprenderam a superar a tempestade do câncer com resiliência e coragem. Veja bem: isso não é uma receita médica, mas pode fazê-lo despertar para o fato de que o diagnóstico de uma doença grave não é o fim do caminho.