O escritor português Bruno Vieira Amaral, Prémio José Saramago 2015, é o primeiro convidado do primeiro Encontro de Leituras do novo ano, com o seu segundo romance, Hoje Estarás Comigo no Paraísoeditado em 2017 pela Quetzal, em Portugal, e pela Companhia das Letras, no Brasil.
A sessão do clube de leitura do PÚBLICO e da revista literária brasileira Quatro Cinco Um vai realizar-se na terça-feira, 14 de Janeiro, às 22h de Lisboa (19h em Brasília), e acontece no Zoom, como habitualmente, aberto a todos os que quiserem participar. O ID é 821 6606 8914 e a senha de acesso 088951. Aqui fica o link.
Sem romance Hoje Estarás Comigo no Paraísosegundo classificado na edição 2018 do Prémio literário Oceanos, Bruno Vieira Amaral resgatou a história do seu primo, assassinado aos 21 anos. “Para mim, João Jorge nasceu na noite em que o mataram, nas hortas a caminho da Vila Chã. Minha avó materna disse que, naquela madrugada, ouviu gritos vindos de perto do cemitério e, mesmo antes de ter ido à varanda, curiosa e apavorada e sem acender a luz, soube logo que acontecera uma grande desgraça.” Assim começa Hoje Estarás Comigo no Paraísocujo título réplica uma frase do Evangelho segundo S. Lucasna tradução de Frederico Lourenço.
Já no seu primeiro romance, As Primeiras Coisaspublicado em 2013 (e que lhe deu o Prêmio José Saramago em 2015), o escritor, cronista, crítico literário e tradutor, formado em História Contemporânea pelo Instituto Universitário de Lisboa, tinha um capítulo inspirado na história do homicídio do seu primo João Jorge, que aconteceu em 1985, quando o escritor tinha sete anos. Nessa altura deu-lhe o nome de Joãozinho Treme-Treme. As Primeiras Coisas foi inspirada no bairro do Vale da Amoreira, onde cresceu Bruno Vieira Amaral, que nasceu no Barreiro em 1978.
O escritor não tinha nenhuma memória do primo, e isso levou-o a querer saber o que tinha acontecido e também quem ele tinha sido. A sua ideia inicial era escrever um livro de não-ficção sobre o acontecimento, mas acabou por perceber que precisava da ficção para contar a história que queria.
Na entrevista que deu ao PÚBLICO quando Hoje Estarás Comigo no Paraíso foi publicado, explicou que quis “incluir as indecisões, as dúvidas, as questões, os contágios” ao escrever, e que este livro funcionasse também como um “relato da sua escrita”. Pareceu-lhe interessante que, “ao mesmo tempo que o narrador fez a investigação do que teria acontecido ao João Jorge”, também Bruno Vieira Amaral “fosse atrás, aquele período da infância em que ele morreu”, e recuperasse “as memórias do que estava à volta” daquele acontecimento trágico.
“Quando fui à procura da campa do João Jorge e passei pelos lugares por onde ele teria andado e no local onde estava morto, essa deambulação suscitou-me questões que eu ia anotando, e a certa altura percebi que essas notas eram também o livro. Tirei-as para me organizar, para manter referências, mas percebi que uma parte importante sobre o livro seria essa reflexão sobre o próprio livro”, disse o escritor em 2017 ao PÚBLICO.
Quando estava a fazer a investigação para este seu segundo livro, Bruno Vieira Amaral leu o romance Mersault, Contra-Investigaçãode Kamel Daoud (ed. Teodolito). “O argelino Daoud escreveu a história que Albert Camus narrara em O Estrangeiro. Só que em vez de dar o lado do homicida, esteve no lugar do morto. Bruno escolheu o mesmo”, escreveu a crítica literária Isabel Lucas no Ípsilon sobre Hoje Estarás Comigo no Paraíso.
A jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e Paulo Werneck, diretor de redação da revista Quatro Cinco Umapresentam o evento, destinado a leitores de língua portuguesa, no qual se discutem romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literárias na presença de um escritor, editor ou especialista convidado.