Quase aos 60 anos, Brooke Shields não tem tabus a falar sobre o envelhecimento. O novo livro da atriz, que chega às livrarias nesta terça-feira, pode ser sobre como prevenir os sinais de idade, mas, ao contrário, reúne uma série de pensamentos sobre os padrões de beleza em Hollywood e saúde feminina. “As pessoas querem que eu me pareça como quando fiz A Lagoa Azul. Mas eu não quero”, declara a atriz, que também partilha detalhes da intimidação, incluindo uma cirurgia vaginal feita sem o seu consentimento.
É preciso “encontrar alegria” no envelhecer, diz Shields que esteve no programa Bom dia Américaa promoção do seu quinto livro, Brooke Shields não tem permissão para envelhecer: reflexões sobre o envelhecimento como mulher (Brooke Shields não tem permissão para envelhecer: pensamentos sobre envelhecer enquanto mulherr, em tradução livre). “A indústria da beleza quer que persigamos a juventude, olhamos para os arrependimentos — e se, e se…”, lamenta, reconhecendo que ela própria já sentiu em alguns momentos que ia ceder à pressão, mas encontrou um equilíbrio. “Por vezes gostava que estivesse tudo [no rosto e no corpo] mais alto e mais firme. Ao mesmo tempo, tudo o que conquistei refletiu-se na minha cara.”
No fundo, o que quer é “estar no seu melhor e ser saudável”. E incentive outras mulheres: “Penso que é importante dar palmadinhas nas costas e dizer: ‘O que é que quer fazer agora?’ Já não está ligado à biologia da mesma forma.” Shields acrescenta querer passar a mesma confiança às duas filhas, Rowan, de 21 anos, e Grier, de 18, fruto do casamento com Chris Henchy.
Até porque ser mulher é estar sujeita a um constante escrutínio. “Temos de ser capazes de dizer: ‘Isto não é justo’. Temos de ser capazes de nos defender a nós próprios”, declara, relatando episódios variados de interação com médicos. “Tive uma convulsão há pouco tempo e os dois médicos me disseram: ‘Anda a conter-se por razões dietéticas?’ E eu disse: ‘Não. Sou uma mulher de 59 anos que parece mais nova e inchada. Dêem-me batatas fritas! Se fosse um homem não me diriam isso’”, escreve no livro a que a imprensa norte-americana já teve acesso.
E garantir que esta perspectiva feminista não é uma diminuição do papel do homem — “adoramos os homens na nossa vida” —, mas uma tomada de posição necessária há muitas gerações. “Só temos de estar seguros daquilo em que pensamos e de ser ouvidas, porque não vamos chegar ao lado nenhum só a gritar”, escreve a atriz que já falou publicamente sobre a objetificação sexual de que sempre se sentiu alvo, ao longo da carreira, desde A Lagoa Azul ao anúncio da Calvin Klein em 1980 onde dizia a célebre frase: “Querem saber o que se mete entre mim e as minhas Calvin? Nada.”
A cirurgia que não pediu
Ainda assim, admite que nem sempre teve força para levantar a voz, gravando um episódio particularmente traumático. “Fui a uma consulta com o meu ginecologista e, depois do exame, ela me perguntou se alguma vez senti desconforto por causa dos meus lábios [vaginais]”, começa por contar a atriz, deixando uma nota ao leitor: “Peço desculpa se isto é muito gráfico. Mas, se quisermos mudar a forma como abordamos e falamos sobre a saúde das mulheres, temos de levantar as questões incómodas, mas muito reais.”
Dessa forma, registre como o médico lhe sugeriu uma cirurgia estética que permitiria reduzir os lábios vaginais e aliviar o desconforto. Depois de uma consulta com um cirurgião, avançou para o procedimento. “Quando acabou, o médico fez-me um resumo de como tinha corrido. ‘Fui muito cooperativo’, disse ele, para meu nervosismo e entusiasmo. E depois contínuo: ‘Estive lá dentro durante quatro horas e sabe o que fiz? Apertei-a um pouco mais! Dei um pouco de rejuvenescimento!’”, recorda a atriz, que confessa ter ficado “chocada e sem palavras” perante a atitude do médico, que ainda lhe disse: “Depois de dois filhos, tudo está mais largo.”
Brooke Shields reavivou ainda ter dito ao médico que tinha feito cesarianas em ambas as gravidezes e que não precisou de vaginoplastia — a cirurgia de rejuvenescimento do canal vaginal que o médico tinha feito. “Ele agiu como se eu tivesse feito um favor e que eu desviasse, de fato, fosse grata. Havia uma intenção de ‘eu dei-lhe isto de graça, menina’. Mas eu nunca tinha pedido para ser ‘apertada’ ou ‘rejuvenescida’”, lamenta. “Fiquei horrorizada, mas também sem saber o que fazer.”
A atriz nunca processou o médico para evitar que o tema chegasse às capas dos jornais, mas escolheu falar sobre o episódio agora para alertar outras mulheres. “Este homem alterou o meu corpo cirurgicamente sem o meu consentimento”, declara, lamentando as alterações “nada boas” que sentiu na intimidade. “Se isso me acontecesse agora, faria a minha própria manchete e a espalharia por todo o lado. É assim nesta idade, e gosto muito mais dela”, finaliza.