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Agricultores brasileiros declararam guerra ao Grupo Carrefour e entraram na Justiça contra a empresa por difamação. Isso porque o presidente global da rede francesa de supermercados, Alexandre Bompard, afirmou que os produtores de carnes do Brasil e dos demais países do Mercosul (Argentina, Paraguai e Uruguai) não cumprem as regras de qualidade condicionais pela União Europeia. Como resultado, disse Bompard, o Carrefour na França não vai mais comprar esses produtos dos países sul-americanos. As declarações, feitas há pouco mais de uma semana, resultaram em uma crise diplomática e em uma onda de boicote à rede no Brasil. Os fornecedores de carnes suspenderam as entregas em todas as lojas. O Carrefour no Brasil representa 20% do faturamento global do grupo.
O presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, diz que a entidade acionará a União Europeia para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis contra o Carrefour e quaisquer outras empresas que “difamarem” os produtores brasileiros. A CNA atuará por meio de seu escritório em Bruxelas. “Nós fomos surpreendidos pela atitude do Carrefour e outras empresas que, de uma hora para outra, procuraram mostrar uma imagem de que a carne que estamos colocando na Europa não é uma carne de qualidade, não atende aos padrões europeus. Isso não é verdade”, afirma.
Segundo ele, o Brasil se tornou o maior exportador de carnes do mundo, atendendo à Europa, aos Estados Unidos, ao Oriente Médio, à China e a vários países asiáticos. “Diante dessa acusação, nos vimos obrigados a buscar nosso escritório em Bruxelas e o escritório de advocacia que nos atende em Bruxelas para entrar com as ações devidas para buscar esclarecimento da verdade”, assinalou Martins.
O consultor jurídico da CNA, Carlos Bastide Horbach, ressalta que os advogados da Confederação já estão em tratativas para avaliar a ação contra o Carrefour e diversas outras empresas francesas. “Declarações (como as do CEO Global do Carrefour) podem caracterizar uma violação das regras de defesa da concorrência da União Europeia. Por isso, a CNA vai formalizar uma consulta junto aos órgãos da União Europeia para fazer valer a liberdade econômica e a proteção da produção brasileira naquele mercado específico”, assinalou.
Pedido de desculpas
Nesta terça-feira (26/11), diante do tamanho do boicote sofrido pelo Carrefour no Brasil e do temor do impacto econômico sobre os negócios do grupo, o CEO global da rede pediu desculpas. Mas a crise diplomática está longe de acabar. De um lado, estão os agricultores franceses, que têm o que chamam de “concorrência desleal dos produtores do Mercosul, por não cumprirem regras ambientais tão rígidas quanto aos europeus”, o que permite aos sul-americanos vender produtos mais baratos. Os ruralistas franceses são veementemente contra o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que vem sendo negociado há mais de 20 anos. Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, roubou o discurso dos agricultores e partiu para o ataque. Ele não esperava, no entanto, uma ocorrência tão forte do Brasil em relação ao assunto.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil alertou que o governo “se manterá vigilante na defesa da imagem do país e da sua produção” e que não permitirá “desinformação”. Ao mesmo tempo, o Itamaraty destaca a importância da parceria estratégica e dos fluxos de comércio e dos laços históricos que mantêm com o continente europeu de maneira geral e com a França, em particular “Não obstante, (o Brasil) voltará a reagir com firmeza contra qualquer nova campanha que tenha como alvo a imagem de produtos brasileiros, em especial do agronegócio, essas padrões de excelência ao longo de toda a cadeia produtiva são reconhecidos em todo o mundo”, frisa o ministério em nota.
Atualmenteó Carrefour é a maior rede de supermercados do Brasil. Suas várias marcas tiveram faturamento de R$ 108 bilhões (17,6 bilhões, ou mil milhões, de euros), valor muito superior ao segundo colocado, o Grupo Assaícom R$ 59,7 bilhões (9,7 bilhões, ou mil milhões, de euros).