Portugal destaca-se como um dos países com maior desequilíbrio geracional associado ao envelhecimento das populações. Este desequilíbrio carrega hoje, e sobretudo para as próximas gerações, crescentes que desafiam a sustentabilidade dos sistemas que garantem proteção social e saúde para todos. As projeções demográficas antecipam que Portugal seja, de todos os países da União Europeia, o país com maior desequilíbrio entre o número de pessoas de idade mais avançada e o número de jovens em idade produtiva, no período compreendido entre 2040 e 2060. Assim, a par das tensões provocadas pela escassez de força laboral para produzir riqueza, surge a tensão, e ameaça de insustentabilidade, provocada por uma população crescentemente envelhecida, cronicamente doente e dependente de cuidados. Sem soluções inovadoras caminhamos para uma perfeita na espiral do envelhecimento demográfico.
Esta tensão é bem reconhecida pela Comissão Europeia, que prevê a área do envelhecimento como área prioritária de financiamento de projetos inovadores. Está bem consolidada a ideia de que os desafios do envelhecimento só serão ultrapassados com novas soluções que nos levem bem além dos atuais paradigmas de intervenção.
A Região Centro afirmou-se nos últimos 12 anos como Região Europeia de Referência para a vida saudável e envelhecimento ativo. Por iniciativa das universidades, centros de investigação, municípios, instituições de cuidados de saúde e apoio social, com a participação dos cidadãos e das empresas e ainda o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) foram lançadas duas redes colaborativas de inovação para o envelhecimento com saúde: o Ageing@Coimbra e o AgeInFuture. Estas redes são apoiadas pela hélice quádrupla (conhecimento, inovação e empreendedorismo, instituições públicas e cidadania). Mais de uma centena de instituições, em colaboração multidisciplinar, permite alimentar, a cada ano, cerca de uma centena e meia de candidaturas ao Prémio de Boas Práticas para o Envelhecimento Ativo e Saudável (promovido pela CCDRC), que já acumula, em sete edições , cerca de um milhar de bons exemplos de boas práticas inovadoras.
Entre os exemplos de inovação disruptiva, destacam-se as áreas de prevenção de doenças e de promoção de hábitos de vida saudáveis como áreas prioritárias para investimento. É fundamental criar uma nova geração de pessoas de idade avançada: pessoas saudáveis, em vez de pessoas doentes. Pessoas independentes, integradas e valorizadas plenamente pela sociedade; em vez de pessoas dependentes, marginalizadas e estigmatizadas pela sociedade. Pessoas que vivem cada dia em pleno, por muitos dias, em que a longevidade seja uma celebração. Pessoas que acabem com o estigma da peste e do grisalho e devolvam o orgulho e o valor dos cidadãos inspiradores que carregam conhecimento e partilham valores e afetos.
Temos a ambição, e o atrevimento, de considerar que a inovação que se criou com as redes colaborativas de inovação para o envelhecimento com saúde são núcleos de germinação da energia que é necessária para esta mudança, em que o conhecimento, a inovação e a intervenção são motores de transformação quando envolve a voz do cidadão no processo criativo das boas práticas. Os projetos transformadores “Teaming” para o Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento (MIA-Portugal) e o projeto “Excellence Hub – CHAngeing” são bandeiras da Universidade de Coimbra, financiados pela Comissão Europeia (Horizonte Europa), que receberam para o reconhecimento global do trabalho que se faz nesta região, e alimenta a esperança da mudança social que se exige para uma sociedade longeva e saudavelmente sustentável.
Para ajudar a manter melhor a criação de uma sociedade, é necessário compreender os mecanismos de envelhecimento, compreender os processos da patologia associada ao envelhecimento, evitar a doença promovendo o diagnóstico precoce e atempado e, sobretudo, promover uma vida com hábitos saudáveis baseados na cultura da dieta mediterrânica (como bom exemplo cultural de vida saudável). É necessário promover mais e melhor alfabetização em saúde em todas as gerações.
Cidadãos, mais novos ou com maior idade, são cidadãos de pleno direito. O envelhecimento é progressivo. Ser ou não ser velho é, em grande parte, uma opção, independentemente da idade que se tem. O envelhecimento não é uma fatalidade. O envelhecimento pode, e deve, ser uma celebração.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico