Esta perspectiva, amplamente adoptada por certas facções políticas, revelou-se um passo em falso crítico. Uma análise mais atenta e objectiva mostra que estes programas não foram os vilões que foram considerados, mas sim contribuintes vitais para o desenvolvimento económico da nação.
Mesmo após o término destes programas, os preços da habitação continuam a subir, impulsionados pela procura persistente e crescente. Culpar os Vistos Gold pela escalada dos custos imobiliários não foi apenas equivocado, mas prejudicial para o panorama económico mais amplo. Ao longo da última década, as transações relacionadas com o Golden Visa representaram apenas 12.000 dos 1,5 milhões de propriedades vendidas em todo o país – menos de 1% do total. Especificamente, estes investimentos representaram apenas 0,8% de todas as transações imobiliárias durante esse período.
Os números desmascaram o mito: os Vistos Gold nunca foram os principais impulsionadores dos aumentos dos preços dos imóveis. Em vez disso, trouxeram mais de 7 mil milhões de euros em investimento estrangeiro, revitalizando zonas urbanas negligenciadas, melhorando a segurança e criando oportunidades. Em cidades como Lisboa e Porto, outrora atormentadas por ruas dilapidadas e estagnação económica, este influxo de capital promoveu o progresso e a prosperidade.
Os críticos que argumentam que o fim destes programas serve o interesse nacional não conseguem compreender a realidade económica. Num país com recursos internos limitados, rejeitar o investimento estrangeiro parece imprudente. A decisão reflecte um preconceito ideológico míope, especialmente entre os partidos políticos de esquerda que muitas vezes dão prioridade à retórica populista em detrimento de soluções práticas. Estes programas, longe de serem prejudiciais, ofereceram apoio económico essencial em sectores que vão do imobiliário à tecnologia, educação e infra-estruturas.
A eliminação dos Vistos Gold destaca uma oportunidade perdida. Em vez de descartar tais iniciativas, Portugal deveria tê-las reinventado e refinado para se alinharem com as necessidades contemporâneas. Programas de investimento estrangeiro bem concebidos podem enfrentar desafios críticos, como a acessibilidade da habitação, a eficiência energética e a criação de emprego.
Por exemplo, em vez de exigir que os investidores comprem propriedades de elevado valor, os programas poderiam incentivar contribuições para fundos de habitação a preços acessíveis. Estes investimentos apoiariam projetos habitacionais com renda controlada, um modelo que teve sucesso noutros países da UE. Da mesma forma, poderiam ser oferecidos benefícios fiscais aos investidores que financiem renovações de edifícios energeticamente eficientes ou iniciativas de energias renováveis. Tais medidas não só atrairiam capital estrangeiro, mas também se alinhariam com as prioridades estratégicas de Portugal.
Em alguns países europeus, por exemplo, os proprietários que criam habitações para terceiros recebem isenções fiscais sobre os rendimentos de arrendamento, reconhecendo o seu papel no alívio da carga do Estado. Portugal poderia adotar incentivos semelhantes, incentivando o investimento privado em setores tradicionalmente dominados pelo financiamento público. Ao direcionar os investimentos estrangeiros para áreas específicas, como a habitação a preços acessíveis e a energia verde, o governo pode alavancar recursos externos para atingir os objetivos nacionais, mantendo ao mesmo tempo o controlo sobre os principais resultados políticos.
Portugal enfrenta desafios significativos. O país precisa de habitação mais acessível, mas deve evitar políticas que conduzam a mercados especulativos ou aprofundem a desigualdade económica. A eficiência energética no sector da habitação também exige atenção urgente, uma vez que infra-estruturas obsoletas contribuem para custos elevados e danos ambientais. Contudo, estas questões não podem ser resolvidas sem recursos financeiros suficientes e o investimento estrangeiro é uma peça crítica do puzzle.
Fechar portas a estas oportunidades, como o governo anterior decidiu fazer, não serve nem o público nem a economia. Em vez disso, Portugal deve elaborar políticas inteligentes que atraiam investidores estrangeiros, garantindo ao mesmo tempo que as suas contribuições beneficiam diretamente a sociedade. Uma abordagem equilibrada pode alcançar múltiplos objectivos: crescimento económico, melhor acesso à habitação e desenvolvimento sustentável.
É hora de Portugal ultrapassar os preconceitos ideológicos e adotar soluções pragmáticas e com visão de futuro. Os programas de investimento estrangeiro, quando estruturados para satisfazer as necessidades do país, têm o potencial de impulsionar o progresso sem comprometer os interesses nacionais. Ao acolher e canalizar sabiamente os recursos externos, Portugal pode criar um futuro melhor para os seus cidadãos e construir uma economia que prospere na colaboração e na inovação.
Paulo Lopes é um cidadão português multi-talentoso que fez o seu mestrado em Economia na Suíça e estudou Direito na Lusófona em Lisboa – CEO da Casaiberia em Lisboa e Algarve.
Paulo Lopes