A democrata Sarah McBride, eleita para o Congresso dos Estados Unidos pelo estado de Delaware, está enfrentando as primeiras dificuldades do mandato, mesmo antes da tomada de posse que a tornará na primeira pessoa trans na Câmara dos Representantes. Esta semana, uma congressista republicana anunciou uma proposta para impedir o acesso de mulheres trans a casas de banho femininas no Capitólio — outras palavras, apelou a uma lei que obriga Sarah McBride a usar instalações destinadas a homens.
Nancy Mace, republicana eleita pela Carolina do Sul, tem recorrido às redes sociais para justificar a proposta apresentada (apesar de a considerar “senso comum”), somando quantidades de publicações transfóbicas na plataforma X nos últimos dias.
“Nunca pensei que isto tivesse de acontecer, mas vamos apresentar uma proposta de destituição de homens biológicos em espaços protegidos para mulheres no Capitólio”, escreveu na segunda-feira no X, antigo Twitter (detido por Elon Musk, que também integrará a administração de Donald Trump). “McBride, um homem biológico, não tem voto na matéria relativamente aos espaços privados para mulheres. (…) Casas de banho de mulheres são para mulheres biológicas, não para homens de minissaia.”
McBride, que já tinha sido a primeira pessoa trans a trabalhar na Casa Branca (em 2012) e a primeira a ser eleita para o Senado (em 2020), reagiu esta terça-feira, denunciando uma “tentativa flagrante por parte da extrema-direita para desviar atenções do fato de não ter soluções reais para o que os americanos enfrentam”.
“Todos os dias, os norte-americanos vão trabalhar com pessoas com percursos de vida diferentes dos seus e relacionam-se respeitosamente, espero que os membros do Congresso consigam ter a mesma gentileza”, escreveu o democrata de 34 anos, também no X, numa mensagem velada para a futura colega Nancy Mace.
Em 2023, 37 dos 50 estados norte-americanos aprovaram mais de 140 projetos de lei para restringir o acesso de pessoas trans a cuidados de saúde de afirmação de género, segundo dados da agência Reuters. Esse retrocesso quanto aos direitos, liberdades e proteções das pessoas LGBTI+ deverá acentuar-se nos próximos quatro anos, com a administração Trump na Casa Branca.
Durante o seu mandato de senador (2023 e 2024), o vice-presidente eleito dos Estados Unidos, JD Vance, também apoiou várias leis propostas aos direitos das pessoas trans, incluindo a Restrição de acesso de menores trans a cuidados médicos, impondo avaliações criminais aos profissionais que realizam cirurgias de redesignação sexual.
Esta quarta-feira, o presidente da Câmara dos Representantes, o ultraconservador republicano Mike Johnson, esclareceu que todas as instalações designadas femininas ou masculinas no Capitólio, como casas de banho, vestiários e balneários, estão reservadas a “indivíduos do sexo biológico” correspondentes. Um dia antes, Johnson admitiu estar convicto de que “um homem não pode tornar-se mulher”.
“É importante notar que cada congressista tem um gabinete com casa de banho privada e que existem casas de banho unissexo no Capitólio. As mulheres ganham vagas só para mulheres”, acrescentou. De acordo com a Reuters, muitos dos gabinetes que Mike Johnson refere ficaram a dez minutos a pé do plenário local da Câmara dos Representantes.
Ainda antes da tomada de posição de Mike Johnson, os líderes democratas no Senado e na Câmara dos Representantes — Chuck Schumer e Hakeem Jeffries, respectivamente — criticaram a proposta de Nancy Mace, caracterizando-a como um ato de “intimidação” “mesquinho e cruel “. Outras vozes do Partido Democrata descreveram-na como “discriminatória”, “ofensiva”, “perigosa” e “desnecessária”.
“Não estou aqui para lutar sobre casas de banho, estou aqui para lutar pela população de Delaware”, sublinhou a congressista Sarah McBride, num breve comunicado divulgado ao final da tarde desta quarta-feira. “Como qualquer membro [do Congresso]vou seguir as orientações dadas pelo presidente [Mike] Johnson, mesmo que discorde delas.”