A reeleição de Donald Trump deixa países como a Rússia e Coreia do Norte “bastante à vontade porque sabem que a América não sairá em socorro dos seus aliados”. Na opinião de Paulo Portas, “isto coloca um problema muito sério à Europa”, mas não só
Não é só Donald Trump que tem motivos para celebrar – também o presidente russo, Vladimir Putin, espera uma “vitória política” concedida pelo republicano assim que este assumir funções, em 20 de janeiro, o que lhe abrirá caminho para ir “além da Ucrânia”.
Esta é a tese de Paulo Portas que, esta quarta-feira, no Jornal Nacional, não hesitou ao afirmar que “o mundo está perigoso” e que “a vitória do isolacionismo” nas eleições norte-americanas não vai ajudar a contrariar essa tendência. Muito pelo contrário, diz o comentador, advertindo que não é só a Europa que tem “motivos para preocupações” – também na Ásia, países como o Japão, Coreia do Sul e Taiwan estão agora “nervosos” com o que pode vir daí.
Em matéria de política externa, Paulo Portas não tem dúvidas de que, com Donald Trump no poder, os EUA não se vão “envolver em assuntos que não sejam bilaterais”, o que abona a favor daqueles que querem promover a “instabilidade” no mundo. “Obviamente países como a Rússia ou a Coreia do Norte sentem-se bastante à vontade porque sabem que a América não sairá em socorro dos seus aliados. Isto coloca um problema muito sério à Europa, começando pela Ucrânia. Estou convencido que os EUA com Trump abandonarão a Ucrânia”, reitera o comentador, que tem vindo a chamar a atenção para isso mesmo no seu habitual espaço de comentário no Jornal Nacional.
“Isso significa dar uma vitória política a Putin e o presidente russo, sabendo que a América deixa cair os seus aliados e que a Europa não tem defesa estruturada como tal, obviamente sentir-se-à muito à vontade para dar passos além da Ucrânia”, argumenta Paulo Portas, lembrando, aliás, a reação do porta-voz do Kremlin à vitória de Trump, afirmando que a Rússia espera “mudanças” com a toma de posse da próxima administração.
Centrando a análise na política interna dos EUA, Paulo Portas caracteriza a reeleição de Donald Trump como uma “vitória praticamente total”, uma vez que os republicanos não só venceram a Presidência, como também recuperaram o controlo da Câmara dos Representantes e do Senado. “Ou seja, a primeira figura do Estado será republicana, a segunda figura do estado republicana será e a terceira figura do estado republicana será. Isto significa um poder praticamente total”, resume.
E esse poder traz “riscos”, avisa o comentador. É que, além dos principais poderes políticos, os republicanos ficam também com maioria no Supremo, “o que significa que a totalidade dos poderes do Estado na América ficarão nas mãos do grupo trumpista”.
Ora, isto significa que Donald Trump, que “já beneficiava de uma presunção de imunidade dada pelo Supremo”, tem agora um ‘cheque em branco’ dado pelo povo americano. Nesse contexto, assume o comentador, “é muito difícil imaginar que poderá haver alguma força que faça o chamado controlo do poder muito elevado que tem o presidente dos EUA”.