Exército de Libertação Popular está a modernizar-se a um ritmo acelerado. E isso traz novos receios ao mundo ocidental, a começar pelos EUA
O sucessor de Joe Biden na Casa Branca – seja ele Donald Trump ou Kamala Harris – vai receber uma mensagem clara das agências de inteligência: apesar dos esforços em conter a Rússia, só a China tem meios para enfrentar um conflito à escala global com os Estados Unidos.
O órgão que coordena os espiões americanos já confirmou que “Pequim está a acelerar o desenvolvimento de capacidades essenciais”. E quais são? Aquelas que a China precisa para “confrontar os Estados Unidos”.
Apesar de Pequim estar longe de ter os meios para uma guerra direta com os Estados Unidos, a China não esconde o objetivo de modernizar as suas forças armadas, tornando-as uma referência mundial.
A imagem das forças armadas chinesas focadas na quantidade em vez da qualidade está desatualizada, escreve o The Economist. No passado fica o retrato de um efetivo mal treinado e mal equipado. É que a China tem apostado em força no seu poderio militar – a um ponto em que alcança ou ultrapassa mesmo os Estados Unidos.
Mas é difícil dizer, com exatidão, quem está à frente. Primeiro, porque as armas de ambos os lados não são testadas perante os olhares públicos. Segundo, porque muitas das análises não conseguem ter em conta o trabalho de investigação secreta que está a ser levado a cabo em ambos os lados. Por fim, porque o número de armas não é um garante de efetividade – como prova a guerra na Ucrânia, onde todas as probabilidades estavam a favor da Rússia.
Ainda assim, para referência, tome-se o inquérito de 2024 do Australian Strategic Policy Institute. O mesmo apurou que a China ficava à frente dos Estados Unidos em seis de sete áreas essenciais da defesa. São elas motores avançados de aeronaves, drones e robôs colaborativos, sistemas hipersónicos de detenção e seguimento, robótica avançada, sistemas autónomos e sistemas de lançamento especial. Washington só fica à frente nos pequenos satélites.
Os avanços na Marinha
Qualquer análise das vantagens militares da China tem de falar da sua Marinha. É a maior do mundo, mas também aquela que tem os meios mais recentes. Cerca de 70% dos navios de guerra chineses foram lançados após 2010. Nos Estados Unidos são um quarto, segundo o Centre for Strategic and International Studies.
Os navios de guerra americanos tendem a ser maiores e a estar mais bem equipados. O US Office of Naval Intelligence considera que, em termos de design e de qualidade dos materiais, as duas frotas estão taco a taco.
Todavia, a China está a procurar reduzir as assimetrias. Um dos indicadores de referência para avaliar o poderio naval é o número de células do sistema de lançamento vertical, que, de forma simples, são avançados lançadores de mísseis. Em 2004, os navios americanos tinham, em média, 222 destas células por cada célula chinesa. No ano passado, o rácio era de dois-um. Em 2026 deverá haver paridade.
Mas a China tem algo que falta aos americanos: sistemas de propulsão híbrida em submarinos. E está a construir um navio de assalto anfíbio, o Type 076, que será o maior desse tipo no mundo – e o único com catapulta para lançar drones.
Força aérea: a tomar os ares a grande velocidade
A força aérea chinesa segue a mesma trajetória da marinha. Os aviões de guerra não serão tão avançados ou furtivos como os americanos. Contudo, Pequim está já a produzir motores próximos daqueles que são usados entre os aliados da NATO.
Entre os especialistas militares, há a crença de que a China será também capaz de produzir caças mais rápidos do que os americanos. Até porque está à frente em áreas-chave para alcançar este feito: alcance, velocidade e sensores.
Segundo o The Economist, o progresso mais impressionante da China está na área dos mísseis hipersónicos, algo que força os restantes países a repensar os seus sistemas de defesa.
Inteligência Artificial: a arma que todos querem
Um memorando de Joe Biden, assinado em outubro, instruía o Pentágono e as agências de inteligência americanas a adotarem e desenvolverem rapidamente a Inteligência Artificial. Esta será uma área determinante também para a Defesa – e Washington sabe bem disso.
Pequim também, onde os desafios são idênticos. Contudo, e apesar da ascensão da China no que respeita às tecnológicas, existem vários sinais que permitem antecipar um maior sucesso americano neste domínio. Pequim enfrenta barreiras americanas na hora de importar tecnologia avançada. Além disso, faltam-lhe recrutas especializados a nível tecnológico.