Domingo, Setembro 22

A cidade de mais de 8,3 milhões de habitantes conta com cerca de 50 piscinas públicas, o que cria longas filas de espera durante o verão. A nova estrutura vem ajuda a combater o problema

Durante quase uma década e meia, os nova-iorquinos aguardaram a chegada de uma piscina auto-filtrante, em forma de cruz, a flutuar no East River da cidade, depois de a proposta ter sido parcialmente financiada por crowdfunding e posteriormente aprovada pela cidade.

Agora, o projeto futurista tem uma casa oficial. A governadora Kathy Hochul e o presidente da câmara, Eric Adams, anunciaram que a instalação de verão, denominada + POOL, vai ser construída no Pier 35, perto do Lower East Side de Manhattan – embora os nadadores possam ter de esperar até ao verão de 2026 para a inauguração.

O sistema de filtragem da piscina, que deve limpar diariamente mais de um milhão de litros de água do rio sem a utilização de produtos químicos ou aditivos, segundo um comunicado de imprensa do projeto, vai ser submetido a duas fases de testes. A primeira tinha início previsto para o mês de agosto numa barcaça flutuante nas águas perto do Cais 35; no próximo ano, vai ser construída uma parte da piscina ao ar livre para levar a cabo os testes finais.

No passado mês de janeiro, a governadora Hochul anunciou um grande avanço para o projeto através de cerca de 14 milhões de euros de financiamento conjunto da cidade e do estado, parte de uma iniciativa estadual de cerca de 135 milhões de euros chamada NY SWIMS. O presidente da câmara Adams afirmou, num comunicado de imprensa, que o + POOL vai ajudar a expandir “o acesso equitativo à natação para todos os nova-iorquinos, especialmente para as crianças”.

A cidade de mais de 8,3 milhões de habitantes mantém apenas cerca de 50 piscinas públicas com profundidade suficiente para nadar, de acordo com dados da Câmara Municipal de Nova Iorque de 2022, criando longas filas de espera durante os verões, no meio de ondas de calor mais longas e intensas.

O design da + POOL pode ser configurado de várias formas, podendo acolher até 300 nadadores de cada vez. Renderização da + POOL. Projetado por Family New York & Playlab, Inc (Family New York)

Originalmente uma ideia do arquiteto Dong-Ping Wong, que colaborou com designers do estúdio criativo PlayLab e da agora extinta empresa Family, a + POOL foi concebida como uma forma ambiciosa e apelativa de abrir os cursos de água da cidade ao uso público. Uma vez construída, a piscina de 9.000 pés quadrados em forma de cruz vai conseguir receber até 300 nadadores de cada vez e pode ser dividida em quatro partes para atividades como a natação infantil, o descanso, as provas e o desporto. O design também pode ser configurado longitudinalmente para oferecer pistas de tamanho olímpico ou os quatro “braços” da cruz podem ser ligados numa única piscina grande.

As camadas de “membranas de filtração” não só vão tornar a água segura para nadar, como também vão limpar o rio circundante, de acordo com a Friends of + POOL, a organização sem fins lucrativos que os designers co-fundaram em 2015, quando expandiram a sua equipa e nomearam novos membros para a direção.

Manter o foco na comunidade

A piscina foi a primeira proposta de arquitetura cívica a ser lançada através do Kickstarter, de acordo com o projeto, que angariou mais de cerca de  270.000 euros através do site de crowdfunding entre 2011 e 2014 para financiar os testes. Uma estimativa inicial, em 2011, apontava para um custo total do projeto de cerca de 19 milhões de euros, embora Kara Meyer, diretora-geral da Friends of + POOL, tenha dito à CNN, por e-mail, que este valor aumentou desde então para cerca de 45 milhões de euros, estando ainda por apresentar uma estimativa de custos mais detalhada.

“Uma das coisas mais bonitas deste projeto é o facto de ter sido verdadeiramente orientado para a comunidade”, garante Meyer. “Iniciámos o projeto com milhares de pequenos donativos e a organização sem fins lucrativos continua a angariar pequenos fundos de uma vasta gama de membros da comunidade que querem ter acesso aos seus rios e acreditam no trabalho que estamos a fazer em torno da educação para a segurança da água e da gestão da água.”

Uma projeção do +POOL na sua localização recentemente revelada no Pier 35, no Lower East Side de Manhattan. Representação da + POOL no Pier 35. Concebido por Family New York & Playlab, Inc.  Luxigon)

Mas, após o anúncio da governadora Hochul em janeiro, Wong fez uma publicação no Instagram, na qual expressava várias preocupações, incluindo a “falta de diversidade” na direção do + POOL. Embora tenha saudado o financiamento de cerca de 14 milhões de euros como “um compromisso enorme e louvável da cidade e do estado”, questionou se a instalação pública serviria adequadamente a comunidade de Chinatown nas proximidades, “a maioria das quais são pessoas de cor e com rendimentos mais baixos”, explica.

Depois disso, Wong disse à CNN, por e-mail, que tinha sido substituído no projeto por outros arquitetos. Meyer refuta a alegação de que tinha sido “excluído”, dizendo à CNN que o projeto tinha evoluído para além da fase de conceção, na qual Wong se tinha “concentrado”, para abranger a engenharia, a programação e o trabalho de sensibilização. “Do ponto de vista da organização, até ao momento em que ele declarou publicamente que não estava, foi sempre uma parte fundamental do projeto”, diz Meyer. O nome de Wong ainda aparece no site da +POOL.

Meyer acrescenta que quatro dos 10 membros do conselho de administração da organização sem fins lucrativos “se identificam como mulheres e pessoas de cor” e salienta as parcerias comunitárias da organização, incluindo aulas de natação gratuitas para as crianças das escolas locais e programas de mão de obra para os residentes, que, segundo diz, vão ser formados para funções de nadador-salvador, manutenção do sistema de filtragem e testes de qualidade da água, entre outros.

“Tendo em conta a terrível história de discriminação racial que afetou as piscinas públicas americanas, o nosso compromisso de responsabilização perante a comunidade e de proporcionar acesso onde ele é inexistente orienta todas as nossas decisões em relação às comunidades que servimos”, sublinha.

Embora os nova-iorquinos devam ver a piscina a tomar forma no Pier 35 quando os testes terminarem no próximo ano, ainda não foi anunciado um prazo exato para a sua conclusão. Ao ajudar a filtrar um rio historicamente poluído, os organizadores esperam que o projeto ofereça “novas estruturas” para a cidade utilizar os seus rios de forma criativa.

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