Análise
João Annes, do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES, diz que as eleições nos Estados Unidos poderão trazer mudanças nas relações com a Europa, especialmente no apoio à Ucrânia, nas trocas comerciais e na política externa.
As eleições nos Estados Unidos poderão trazer mudanças cruciais nas relações com a Europa, especialmente no apoio à Ucrânia, nas trocas comerciais e na política externa.
João Annes, do Observatório de Segurança e Defesa, destaca que Trump defende “uma negociação que pode significar, na prática, uma rendição ucraniana a Putin”, o que choca com a estratégia de apoio incondicional defendida pela Europa e que Harris promete manter.
Este cenário coloca a Europa numa posição de expectativa, sabendo que estas eleições poderão redirecionar as alianças e tensões transatlânticas.
“De facto, nós estamos todos a viver alguns momentos de ansiedade na Europa, porque do meu ponto de vista, muito para além das guerras, há uma visão diferente do Partido Democrata e do Partido Republicano em relação às relações políticas e económicas e do sistema de alianças que temos entre a Europa e os Estados Unidos. E isso é razão para preocupação”.
Tarifas comerciais e protecionismo
Na economia, Annes antevê um efeito negativo caso Trump imponha tarifas aos produtos europeus.
“Trump tem vindo a defender a imposição de tarifas comerciais, ou seja, uma lógica de um protecionismo à economia americana, mas também em relação à Europa e, portanto, isso, causará danos nas relações económicas entre entre os países europeus e os Estados Unidos”
Radicalização do discurso político europeu
A retórica de Trump poderá reforçar discursos extremos na Europa, tanto à direita como à esquerda, alerta Annes, referindo-se ao risco de uma maior polarização social.
“Existe uma questão profundamente social, que nós já temos vindo a assistir na Europa, inclusivamente também aqui em Portugal, à introdução de conceitos e de certas ideologias que não são, digamos, nativas dos povos europeus, mas (…) existe um fenómeno de contágio entre diversas ideologias e correntes mais extremistas que começam nos Estados Unidos e depois acabam por contaminar, entrar dentro do discurso político e social nos países europeus”.
Relação EUA – NATO
Uma crise também no sistema de alianças porque Trump tem uma visão muito diferente quanto à NATO.
“Trump vê a NATO como vê o seu clube de golfe: pagas a membership, pagas o fee, fazes parte. Não pagas o fee, estás fora. É um político que tem uma visão muito literal e muito binária das coisas”.
Relação Estados Unidos – China
Annes observa que Harris e Trump compartilham uma visão de contenção da China, mas sublinha: “Enquanto Harris opta por uma via diplomática, Trump adota uma abordagem mais direta e agressiva”.
“Com Trump, a lógica vai ser mais uma vez, muito mais binária. Trump pretende resolver os assuntos que que são do seu interesse, muito da forma como ele vê as coisas muito binária e nas relações internacionais, isso leva-nos para o chamados ‘jogos de soma zero’, em que a vitória de uns é a derrota dos outros.
“Aquilo que me parece mais falso na retórica Donald Trump nestas eleições é a ideia de que com ele vai haver mais paz. Do meu ponto de vista, vai haver mais disrupção política e mais guerra com Donald Trump do com Kamala Harris”.