Segunda-feira, Novembro 25

Com a vitória de Donald Trump nas eleições nos Estados Unidos, muitas pessoas estão deixando o X, antes conhecido como Twitter, para plataformas como Bluesky ou Threads. Já foram cerca de 700 mil usuários desde o anúncio do resultado eleitoral. Isto acontece a um espaço que antes pertencia a todos e que aparentemente começa a ser, de algum modo, apenas de alguns. Elon Musk, CEO do X, apoia Trump abertamente, abraçando a campanha republicana. Paralelamente, o tom dos conteúdos no X deslocou-se para ideologias da “extrema-direita”, como destacado ao O Guardião Ruth Bem-Ghiat, historiadora e professora norte-americana. Esta mudança não aconteceu da noite para o dia, mas foi inexorável.

Axel Bruns, investigador de redes sociais, contou ao jornal britânico que a Bluesky “tornou-se um refúgio” para as pessoas que querem experimentar o que em tempos o Twitter proporcionou, mas sem “todo o activismo de extrema-direita, desinformação, discurso de ódio, robôs e tudo o resto”. A aplicação tem agora 14,5 milhões de usuários em comparação aos dez milhões que tinham em setembro. Outro fator que contribuiu para esta adesão em crescimento foi o bloqueio do X no Brasil, também em setembro, que levou a um acréscimo de um milhão de novos assinantes em apenas três dias.

Inês Amaral, docente e investigadora de redes sociais na Universidade de Coimbra, acredita que, se o X continuar “nesta lógica de manipulação absolutamente aberta e do próprio Musk ter cargas provenientes da Casa Branca, alguns países vão interferir e vão fazer frente à plataforma” , como aconteceu no Brasil.

O projeto da Bluesky nasceu no seio do Twitter, sendo anunciado em 2019 por Jack Dorsey, fundador da antiga rede do pássaro, e se tornando independente em 2021, como se pode ler na página oficial da empresa. No final de 2022, quando Elon Musk comprou o Twitter, convertendo-o para o X, ficou acordado o fim do financiamento da plataforma do apoiante republicano à Bluesky. A nova rede social é agora uma entidade de utilidade pública, gerenciada pelo atual CEO Jay Graber e sua equipe.

As pessoas estão fugindo do X a toda velocidade e os usuários que permanecem por aqui parecem estar muito interessados ​​na política republicana. Da nossa análise: www.washingtonpost.com/technology/2…

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– Drew Harwell (@drewharwell.com) 12 de novembro de 2024 às 1h16

Abandono do X

Num comunicado recente, a porta-voz da aplicativoEmily Liu, declarou: “Estamos aquecidos em receber todas estas pessoas novas, desde os fãs de Taylor Swift até lutadores de wrestling e planeadores urbanos”. À revista Com fioIrene Kim, organizadora do grupo Swifties para Kamalaassegurou que a “avalanche de misoginia” que se seguiu às eleições levou muitos fãs a abandonarem o X.

Alguns encontram na Bluesky uma porta entreaberta para um espaço mais desprovido de alinhamentos políticos, ou talvez seja recente o suficiente para ainda não ter este tipo de marcas. A verdade, segundo Axel Bruns, é que é “a comunidade mais liberal” que se está “a mudar em massa” para outras redes sociais. Esta migração digital é uma pequena revolução, uma rebelião silenciosa. A congressista democrata do estado de Nova Iorque, Alexandra Ocasio-Cortez, afirmou no seu regresso à Bluesky: “Meu Deus, é bom estar de volta a um espaço digital com outros seres humanos reais!”

Na opinião de Inês Amaral: “Pelo menos, para já, acho que o Bluesky não vai ser essa alternativa. Acho que as plataformas que estão absolutamente comercializadas já demonstraram que estão inovações no mercado. Durante muito tempo dizíamos que ia desaparecer o YouTube ou o YouTube Facebook, e isso não aconteceu. Elas estão cada vez mais fortes, cada vez mais comerciais e são plataformas de massas”.

Marcas que já saltaram do barco

Na última quarta-feira, o O Guardião também anunciou que deixou o antigo Twitter, num comunicado publicado pelo próprio jornal: “A campanha para as eleições presidenciais nos EUA serviu apenas para sublinhar (…) que o X é uma plataforma tóxica e que o seu proprietário, Elon Musk, tem conseguir utilizar sua influência para moldar o discurso político”.

Nessa linha, o jornal espanhol A Vanguardia saiu do X, esta quinta-feira. Na sua declaração, o Órgão de Comunicação Social refere que a plataforma está “convertida numa caixa-de-ressonância de teorias da conspiração e desinformação”. No mesmo dia, também o Silicon Republic, hum site Irlandês de notícias sobre tecnologia, deixou a rede social, acreditando que “a moderação é difícil, mas o X já nem dedo tentar moderar”.

Estas decisões relembram outros abandonos do X público, como foram os casos das estações americanas National Public Radio (NPR) e Public Broadcasting Service (PBS).

A ascensão do Bluesky

A Bluesky já está no primeiro lugar na App Store (Apple) dos Estados Unidos da América, à frente do Threads da Meta (dona do Instagram, Facebook e WhatsApp). Os downloads da rede social dispararam, principalmente nos EUA e no Reino Unido, mas também em Portugal — isso foi claramente sentido no aumento do número de seguidores da conta do PÚBLICO. Questionada sobre o número real de utilizadores em Portugal, a Bluesky não respondeu ao PÚBLICO em tempo útil.

No Brasil, já terá sido indicado um representante legal da Bluesky, uma condição aplicável pela legislação local e o mesmo requisito que levou ao bloqueio do X no país sul-americano. A plataforma independente, para tentar construir a sua própria relevância, adotou recentemente mensagens diretas e suporte para vídeo. Estes recursos representam um esforço para se aproximar do que era antes do X, mas com uma proposta diferenciada da concorrente da Meta.

Texto editado por Pedro Esteves

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