Sexta-feira, Outubro 11

Moradores dizem que ainda não foram contactados, estão preocupados e com receio de ficar sem casa. A Infraestruturas de Portugal explica que só na fase de execução se saberá ao certo quantas casas vão ser afetadas.

Chega-se ao bairro da Agra por uma estrada de terra batida. Para trás ficou a rua do freixo. A zona está polvilhada de ilhas, as típicas habitações operárias do Porto e tem no Douro o bem mais precioso. 

Aos 85 anos Alberto Cathou nascido, criado e vivido com o comboio à porta de casa é do tempo em que a terra tremia todos os dias com o vai e vem nesta linha que ligava Campanhã à alfândega do Porto. 

“Em casa toda a gente usava o guarda-louça e ao passar o comboio a louça até bailava dentro do móvel”, conta Alberto Cathou, morador do bairro da Agra. 

O comboio que lhe alimenta a memória está agora a tirar-lhe o sono. Diz o estudo de impacto ambiental que a construção da linha de alta velocidade ameaça cerca de 40 casas no Porto e em Gaia. Os moradores vivem dias de incerteza. 

“Será que eles iam deitar a Torre dos Clérigos abaixo? Não iam… eles deviam era ter respeito pelas pessoas, não é deitar abaixo porque isto não é deles, isto tem donos”, questiona Alberto. 

“Ninguém fala, a câmara diz que não é nada com eles porque isto é com as infraestruturas de Portugal (…) Digo-lhe uma coisa, eu tenho de ter dinheiro para ter uma casa compatível com esta não saio daqui. Daqui só morta”, diz Ida Batista, moradora. 

Ida Batista está em alerta máximo desde que há mais de um ano esteve numa sessão de esclarecimentos organizada pela Infraestruturas de Portugal viu a casa pintada a vermelho. Desenha na paisagem a linha das demolições e garante que nada ficará igual. 

O estudo de impacto ambiental revela que no Porto poderão ser afetadas mais de 30 pessoas, sobretudo idosos que moram nas ilhas de Campanhã. Até agora ninguém os contactou e sem certezas quanto ao futuro restam as probabilidades

“Vou ser mais um sem abrigo… com a minha reforma é totalmente impossível. Se a câmara não me arranjar uma casa, não tenho outra hipótese”, diz Domingos Braga, morador. 

Assuntos pendentes nunca morrem e o silêncio prolonga a angústia. Em resposta à SIC, a Infraestruturas de Portugal esclarece que o número de demolições ainda não está fechado.

 Só com o projeto de execução se saberá com detalhe quantas e quais serão as casas afetadas. O projeto de Alta Velocidade vai ligar Lisboa-Porto, numa hora e quinze minutos. As obras devem arrancar em 2026

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