Uma sucuri-verde (Eunectes murinus) grávida morreu após ser atropelada numa rua em Porto dos Gaúchos, Mato Grosso, no Brasil. O acidente resultou na expulsão das crias, registrado em imagens que chamam a atenção pela quantidade de serpentes que se espalharam na via.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), aproximadamente 40 crias foram expelidas.
O agrônomo Adriano Próspero, que viajava para Cuiabá, encontrou o animal, de aproximadamente oito metros de comprimento, e registrou o ocorrido em vídeo. As imagens foram divulgadas posteriormente por Ederson Negri Antonioli, autor do canal no YouTube @ederfisherman e amigo do agrônomo.
“Eu vi um animal, Pensei que estava vivo e reduzi a velocidade. Quando cheguei, já estava morto. Parei o carro e fiz a filmagem. Com certeza aconteceu à noite, porque [o encontro] foi bem cedinho, então os filhotes já estavam mortos. Foi terrível, uma cena aterrorizante, uma perda inestimável mesmo”, conta.
Daniella França, doutorada em zoologia e especialista em répteis e anfíbios, afirma que acidentes como estes são frequentes nas estradas brasileiras, afetando principalmente répteis e anfíbios.
A sucuri de sete metros após o atropelamento
driano Próspero/@ederfisherman
Segundo ela, a sucuri-verde geralmente tem cerca de sete metros, mas alguns animais ultrapassam esta média, e as fêmeas são maiores do que os machos. Esta serpente poderia estar à procura de um local próximo a um rio, córrego ou lagoa para dar à luz, já que as serpentes são semiaquáticas, explica França.
“O que vemos nas imagens são coleções de filhostinhos aparentemente quase prontos para nascer”, avalia.
“O fato de os filhotes terem ficado todos espalhados pelo asfalto pode ser devido a dois fatos diferentes: o próprio atropelamento, que pode ter aberto um grande trauma na região ventral da fêmea, fazendo com que os filhotes escoarem naturalmente pela abertura, ou alguns podem ter saído pela cloaca da mãe, pelo fato dos animais contraírem os músculos no momento da morte”, completa.
As fêmeas da espécie podem gerar até 60 crias. Como são vivíparas, as serpentes não põem ovos. As crias nascem prontas para sobreviverem sozinhas, medindo cerca de 50 centímetros.
“A morte de uma fêmea grávida assim, levando à morte de tantos filhotes ao mesmo tempo, gera um impacto ambiental incalculável, pois sucuris são predadores de topo de cadeia, o que significa dizer que eles auxiliam no controle de trânsito de animais que, sem A ajuda desta e de outras espécies como as onças-pintadas, podem causar impactos às populações humanas”, destaca o especialista.
A espécie, de acordo com o professor da Universidade Federal de Alagoas, Anderson Ferreira Carnaúba, não é venenosa. “Mas, em situações nas quais se sente ameaçada, poderá atacar”, explica.
O IBAMA, em nota, lamentou o atropelamento da serpente e afirmou que, em conformidade com a legislação ambiental brasileira, a fiscalização da rodovia é responsável por implementar medidas de mitigação e compensação dos impactos dessa natureza.
“O atropelamento da fauna silvestre em rodovias é uma das principais ameaças à biodiversidade brasileira, especialmente em áreas de grande riqueza ambiental, como o estado de Mato Grosso. A gestão ambiental de rodovias, especialmente em trechos concessionados à iniciativa privada, é fundamental para mitigar os impactos desse tipo de ocorrência”, disse o órgão.
