Numa noite de maio de 1999, um amigo de Ed Sayers decidiu tirar do armário um projetor de super-8 — um tipo de filme cinematográfico – e mostre-lhe alguns vídeos de sua infância.
“A cada três minutos, quando devíamos mudar a bobina e começar a ver outro filme, havia um elemento surpreendente muito interessante sobre o que seria projetado a seguir”, efoi assim que a ideia para o que viria a ser uma competição de cinema Hetero8 surgiu na mente de Ed.cofundador da iniciativa.
O conceito é simples, mas a sua execução nem tanto: o desafio consiste em filmar um curta-metragem em super-8, utilizando apenas uma bobina, ou seja, os participantes têm um só pegarsem possibilidade de pós-produção, para darem vida às suas histórias. Sem tiveram acesso ao que filmaram (o processo de revelação e digitalização é feito pela organização), o som também é gravado e sincronizado “às cegas”, como indica o site da competição. Os realizadores das curtas só dão ver o resultado final na noite de estreia, assim como o resto dos espectadores que, ao longo dos anos, têm vindo a encher salas de cinema um pouco por todo o mundo.
”Há algo muito especial na falta de perfeição. Especialmente agora, estamos habituados a que tudo seja muito polido e melhorado na pós-produção. Eu simplesmente quero ver algo mais cru, até mesmo com erros. A ideia é que, quando você está a fazer um filme, não tenhas essa pressão para que tudo seja perfeito neste caso, quase que sabes que os resultados finais não serão perfeitos”, explica. Ed.acrescentando que a utilização deste formato de gravação em particular “coloca todos ao mesmo nível”, independentemente do material ou experiência que possa ter.
“Apesar de ser um desafio enorme, por causa disso, e apesar disso, é uma experiência completamente libertadora, porque uma vez que está gravado no filme, acabou, temos de andar para a frente”.
Vasco Vieira participou nas últimas três edições do Straight8, tendo a mais recente sido com Desmancha-prazeresem que explora a personificação de sua “auto-sabotagem” perante seus trabalhos.
A viver em Londres desde 2012, o jovem realizador português já teve a oportunidade de ver os seus filmes quer no ecrã IMAX do British Film Institute, onde as 25 melhores curtas do concurso são exibidas, quer em Cannes, onde os oito finalistas podem ver — pela primeira vez, claro – os seus filmes no ecrã de um dos mais prestigiados festivais de cinema.
“Vi as curtas a serem exibidas em vários festivais e em vários países e Pense: porque não trazê-las para Portugal?”, reconta Vasco, que ajudou a equipa do Straight8 a entrar em contacto com salas portuguesas, por onde as últimas três edições da competição têm passado. Este ano, no dia 19 de Dezembro, as curtas tiveram no cinema Trindade, no Porto, e no dia seguinte, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.
Para Ed Sayers, a coisa mais importante que o quarto de século desta iniciativa lhe trouxe foi uma “comunidade” pela qual se sente “muito inspirada”, em particular pelas colaborações, projetos e amizades que a partir dele nasceram. “As pessoas guardam memórias muito valiosas do processo de criação de seus filmes Straigh8, até nos casos em que os filmes não eram tão fantásticos. Acho que é isso que me faz continuar. Adoro isso e acho que faz muito bem à alma.”
A edição de 2025 da competição já está aberta. Para participar, os realizadores deverão reservar uma data de entrega de entre as disponibilizadas na página oficial do Straight8, mediante pagamento, sendo a data mais tardia em 21 de fevereiro do próximo ano.