Segunda-feira, Outubro 14

17 de junho de 2017 foi, para muitos, um dia como todos os outros. Contudo, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, tudo mudou. Pela primeira vez, os incêndios que destruíram meio milhar de casas e que resultaram em 66 mortos e mais de 250 feridos foram transpostos no livro de ficção ‘Descansos’, “para que nunca nos esqueçamos”.

 

Mas o quarto livro de Susana Amaro Velho, não é uma obra sobre o “incêndio florestal mais mortífero de sempre em Portugal”. Na verdade, trata-se de uma narrativa em que, ao longo de quatro dias, “as pessoas estão a viver as suas vidas e, de repente, tudo o que conhecem muda”. Isto porque, conforme confessou a autora ao Notícias ao Minuto, “só conseguimos esse impacto, essa noção de finitude, quando há um choque com a tragédia”.

Além de ser um apelo para que “se valorize as relações humanas, aquilo que temos e que sejamos mais gratos enquanto cá estamos”, ‘Descansos’ atua enquanto “uma metáfora da vida” que, na sua aleatoriedade, abala uma comunidade inteira. É que, como acontece frequentemente, “partimos e não temos tempo de deixar a casa arrumada”.

Costumo dizer que partimos e não temos tempo de deixar a casa arrumada; há situações que ficam por resolver, há frustrações que levamos connosco. O livro acaba por ser uma metáfora da vida. A vida e a natureza são incontornáveis e, portanto, é essencial que se valorize as relações humanas, aquilo que temos e que sejamos mais gratos enquanto cá estamos

Como é que surgiu a ideia para esta obra?

Essencialmente, esta obra surgiu porque acredito que cada vez mais a sociedade está muito egoísta e autocentrada e é urgente passar uma mensagem de empatia, que se resignifique e que se reavaliem prioridades. Quis que este livro fizesse com que o leitor chocasse de frente com a aleatoriedade da vida, que fosse confrontado com a tragédia, com o que se atravessa e que não conseguimos controlar, para que, de algum modo, se valorizasse o que é certo. É, portanto, uma mensagem de empatia; acredito que tenha sido esse o principal foco.

Quando diz “para que se valorizasse o que é certo” refere-se ao quê, concretamente? À morte? À vida?

Acho que é valorizar a vida, essencialmente. Costumo dizer que partimos e não temos tempo de deixar a casa arrumada; há situações que ficam por resolver, há frustrações que levamos connosco. O livro acaba por ser uma metáfora da vida. A vida e a natureza são incontornáveis e, portanto, é essencial que se valorize as relações humanas, aquilo que temos e que sejamos mais gratos enquanto cá estamos, porque muitas vezes vamos a correr atrás do prejuízo e pode ser tarde demais.

O luto está presente praticamente desde as primeiras páginas, com a morte de um personagem. Ainda assim, a família tenta ‘esconder’ a dor e o trauma, apesar das suas repercussões. Foi propositado?

Sim, porque li muito antes de começar a trabalhar estes temas. Uma das autoras com quem mais me identifiquei foi a Joan Didion, com ‘O Ano do Pensamento Mágico’ e ‘Noites Azuis’, que nos dá uma ideia de que o luto é uma travessia que não tem pressa. Acho que esta frase é fundamental, porque cada um de nós vai vivendo o luto e vai lidando com ele de maneiras diferentes. Enquanto existem pessoas que podem sentir culpa, que se podem sentir ameaçadas pela morte, com esta consciência de finitude, há outras que vão diluindo ao longo do tempo esta mágoa, guardam-na muito para cima, conversam sobre isso. Portanto, o livro tem várias abordagens até da própria forma como lidamos com o luto, porque não é uma coisa linear.

A vida, os seres humanos e as relações não são lineares, lidamos de formas diferentes com um mesmo acontecimento. O livro também é narrado a várias vozes precisamente para isto, para termos uma consciência de que a forma como eu encaro um acontecimento ou uma tragédia é diferente da forma como o meu pai, a minha mãe ou o vizinho a encaram. Daí que existam vários ângulos, para que se tenha esta noção de diversidade.

Há essa ideia de que o luto se vive mais para os outros do que para nós próprios, quando na realidade é um processo interno, cheio de contracurvas, cheio de desafios. É muito complicado lidar com isto, sobretudo se ao longo da vida não for abordado. Acho que ainda é um tema que muitas vezes é negligenciado e chutado para o canto, relativamente até às crianças, por exemplo

Tive de lidar com o luto muito nova. Tinha 17 anos quando perdi o meu avô, que era como um pai, e que morreu com 58 anos. Talvez com essa idade não tivesse consciência do quanto ele era novo, porque com 17 anos ainda achamos que a vida é infinita. Agora, olhando para trás, [entendo] que era muito cedo para se deixar a vida. Lidei com esta perda numa idade em que é muito complicado, porque não temos maturidade emocional para digerir determinados sentimentos, nomeadamente o luto. Não sabemos se devemos ou não voltar a falar na pessoa… Numa aldeia ou numa vida é mais complicado digerir, porque a pessoa quase que tem a obrigação de ir ao funeral, ao cemitério, vestir o preto – por isso é que também carreguei a minha personagem Luz com o preto, que não tira há 30 anos.

Há essa ideia de que o luto se vive mais para os outros do que para nós próprios, quando na realidade é um processo interno, cheio de contracurvas, cheio de desafios. É muito complicado lidar com isto, sobretudo se ao longo da vida não for abordado. Acho que ainda é um tema que muitas vezes é negligenciado e chutado para o canto, relativamente até às crianças, por exemplo. Tenho um projeto de um conto infantil que se chama ‘O Senhor Luto’, precisamente para explicar o luto às crianças. Acho que é fundamental que se desmistifique esta questão, porque todos nós vamos ter de passar por esta situação mais tarde ou mais cedo, de forma mais direta ou indireta.

Uma das coisas que tenho sentido é que os leitores se identificam. No meu outro livro, ‘O Bairro das Cruzes’, a Luísa também perdeu o avô, que era como um pai para ela, e houve muitos leitores que me abordaram e que me mandaram mensagens nesse sentido. Muitas vezes esquece-se essa questão e é inevitável.

Sim, e apesar de ser um tema abordado na arte como um todo, não é falado abertamente na sociedade.

Sim. Num dos capítulos do Fred, que é médico, fiz questão de [mencionar] a Associação Portuguesa de Cuidados Integrados no Luto e o apoio que dá a quem fica. Embora naquele contexto de aldeia, em que as pessoas usam os cartões para palitar os dentes, possa não ter muito impacto, a verdade é que, se for divulgado e difundido, pode ser uma ótima ajuda, principalmente pela questão da identidade. É fundamental que as pessoas percebam que não estão sozinhas.

O que eu queria, desde sempre, era que o leitor começasse a ler este livro e que se sentisse sentado na praça, a ver as coisas a acontecer, como se fizesse parte daquele espaço e daquelas histórias. Acho que isso também só se consegue com um bocadinho de verdade e de realidade

‘Descansos’ segue várias vozes, quase como um presságio de que a vida de toda a comunidade vai mudar. Baseou-se em histórias verídicas para construir a narrativa?

Acho que o autor coloca sempre um bocadinho dele e da sua realidade nas histórias que conta. Cresci numa vila pequena, onde toda a gente se conhece, portanto há muitos traços e características dessas personagens que são reais e que marcaram a minha infância. Há determinados apontamentos que alguém mais atento e que, se calhar, viva aqui, até poderá identificar. Por exemplo, o Tito Maluco é inspirado numa pessoa que era muito querida em Mafra e que tinha exatamente estas características; não todas, obviamente, mas era uma presença muito carismática que visitava os lares e os hospitais, que falava com toda a gente, que andava sempre com folhas nos bolsos.

Acabamos por inspirar-nos sempre naquilo que existe à nossa volta e acho que isso também dá beleza à narrativa, porque torna as personagens mais reais e mais nossas. O que eu queria, desde sempre, era que o leitor começasse a ler este livro e que se sentisse sentado na praça, a ver as coisas a acontecer, como se fizesse parte daquele espaço e daquelas histórias. Acho que isso também só se consegue com um bocadinho de verdade e de realidade.

Mencionou, numa outra entrevista, que este “não é um livro sobre incêndios, é um livro onde os incêndios existem”. Na verdade, e sem querer ‘estragar’ a obra para os leitores, a tragédia só ocorre no final. Pretendeu, dessa forma, dar mais destaque à vida das personagens?

Exatamente. Queria que a narrativa estivesse a acontecer, as personagens estivessem envolvidas nos seus dramas, nos seus dilemas, e que, subitamente, os incêndios acontecessem, que se atravessassem, que chocassem de frente com as personagens e com o leitor, para que existisse a sensação de imprevisibilidade, que faz com que o leitor tenha consciência desta finitude. Como disse há pouco, o livro é uma metáfora da vida, daquilo que não controlamos.

Só conseguimos esse impacto, essa noção de finitude, quando há um choque com a tragédia. Só encaramos e só vemos bem a vida quando chocamos com a tragédia. Acho isto triste. Um livro de Afonso Cruz diz que devíamos ter um despertador que nos alertasse para o fim da vida todos os dias, quase como se fosse uma rotina, para termos noção de que temos de viver, temos de aproveitar. Infelizmente, só vemos isto quando chocamos com a tragédia. Portanto, esta consciência da aleatoriedade só era possível se no final do livro existisse uma tragédia que abalasse uma comunidade inteira, como acontece na vida real. As pessoas estão a viver as suas vidas e, de repente, tudo o que conhecem muda.

Quando dei o livro a ler a algumas pessoas da minha confiança, ninguém associou sequer o 17 de junho de 2017 aos incêndios de Pedrógão Grande, porque as pessoas tendem muito a esquecer. Quando comecei a abordar sobreviventes e a dizer que traria isto para a ficção – que não era um livro sobre os incêndios, mas que evocaria os incêndios de Pedrógão – a reação foi igual em toda a gente: “Que bom, para que nunca nos esqueçamos.”

A ideia de finitude e da aleatoriedade da vida está muito presente, mas o que é facto é que a comunidade tem tendência a esquecer as tragédias ‘dos outros’. Quando falou com sobreviventes, qual foi a reação ao saberem que abordaria os incêndios no seu livro?

Senti que, no local, a ferida está muito aberta. Basta puxarmos um bocadinho o fio que desenrola-se imediatamente o novelo. As pessoas começam a contar, a falar do vizinho, do primo que estava lá, que passou por isso, que ficou com sequelas, com queimaduras, que escapou aqui ou ali. No resto do país, não.

Situei a obra não no espaço, mas no tempo; nunca digo onde estou e só percebemos no final, mas tenho sempre as datas. Quando dei o livro a ler a algumas pessoas da minha confiança, ninguém associou sequer o 17 de junho de 2017 aos incêndios de Pedrógão Grande, porque as pessoas tendem muito a esquecer. Quando comecei a abordar sobreviventes e a dizer que traria isto para a ficção – que não era um livro sobre os incêndios, mas que evocaria os incêndios de Pedrógão – a reação foi igual em toda a gente: “Que bom, para que nunca nos esqueçamos.” É importante esta consciência de que a tragédia se repete. Infelizmente, no caso dos incêndios vai-se repetindo ao longo do tempo e dos anos, e a prova disso é que ainda agora, em setembro, passámos novamente por esse flagelo.

Quando abordamos estas questões, quando trazemos estas situações a palco, acabamos por ressuscitar os mortos. O livro também acaba por ser uma homenagem a quem ficou naquela estrada e a quem perdeu a vida em casa, porque tudo o que está naqueles capítulos é inspirado em factos reais. O carro dos bombeiros que ficou no cruzamento de Vilas de Pedro, a família que saiu, deixou a mesa posta e perdeu a vida na ‘estrada da morte’… Todas essas histórias são inspiradas em coisas que realmente aconteceram naquele dia. Acho que também acaba por homenagear as vítimas e as famílias das vítimas. Tal como diz Joan Didion, às vezes temos de deixar os mortos irem e que sejam só fotografias em cima da mesa, mas é um processo muito complicado, lento, muito espinhoso, e trazê-los à vida é reconfortante.

A própria Joan Didion arranca ‘O Ano do Pensamento Mágico’ com essa ideia de aleatoriedade, ao dizer que “sentas-te para jantar e a vida, como a conheces, termina”.

Sim. É a consciência da finitude, que ninguém espera, mas que é real. Acho que vivemos numa sociedade em que criamos crianças de cristal, vivemos assoberbados pelo medo, e isso faz com que fiquemos limitados nas nossas ações, na forma como nos relacionamos com o outro. Se por um lado o medo nos protege, e até certa medida é bom e é positivo que exista, se o alargarmos de uma forma muito extensa deixamos de viver.

Não podemos estar sempre a proteger os nossos filhos, impedindo-os de errar, de correr, de se magoarem, de experimentarem coisas novas, mas fazer este balanço é muito difícil, porque temos sempre esta consciência de fim. O ideal é encontrar um equilíbrio e isso é o grande desafio da vida: conseguirmos aproveitar e ser gratos, porque tudo acaba de um momento para o outro, sem vivermos permanentemente em medo. Não quero que este livro fomente o medo.


© Célia Lopes  

Em relação às crianças, talvez até fosse mais fácil lidar com o luto se fosse um tema abordado logo desde tenra idade.

É engraçado mencionar isso, porque tive muitas dúvidas se incluía ou não a Mimi, que é uma personagem com cinco anos, mas achei importante. Ela faz algumas questões pertinentes sobre a morte, sobre para onde é que vai a avó, [dá conta] da ideia de que quem morre vai para o céu… Tenho um filho com seis anos e ele faz estas perguntas. Lembro-me de que quando morreu o Taylor Hawkins, o baterista dos Foo Fighters, ele perguntava para onde é que ele ia, se era alma a ir porque o corpo não voa, se podíamos mandar um balão para o céu quando ele fizesse anos. Tento sempre ser o mais verdadeira possível.

Às vezes, quando não sei imediatamente o que responder, digo-lhe: “Olha, filho, a mãe não sabe, a mãe vai estudar e depois explica-te.” Há uns tempos, passámos por um cemitério e expliquei-lhe que é para onde vão os corpos das pessoas que morrem. Pode parecer um bocadinho agressivo dizer isto desta forma a uma criança, mas quanto mais cedo eles tiverem consciência de determinadas coisas, melhor estão preparados para a vida. Não podemos criar crianças em redomas de vidro e este esclarecimento é fundamental.

É por isso que a Mimi existe, para nos dar uma consciência diferente da personagem Ivone, porque a Ivone não tem voz, é algo um bocadinho dúbio. Conhecemo-la através de vários ângulos e quis que fosse assim, porque ninguém é linear; ninguém é sempre bom, nem é sempre mau. A Mimi também existe para que o leitor perceba e reflita sobre a necessidade de sermos mais verdadeiros com as crianças, porque as crianças são os futuros adultos e é importante que exista essa consciência de que a verdade é fundamental, sobretudo nestas questões da morte e do luto.

O luto passou de afetar uma família, no início, para atingir uma comunidade inteira. Numa sociedade que mostra aversão ao negativo, acabando por cair na teia na positividade tóxica, qual é a importância deste tipo de narrativas?

É um pouco tudo o que já falámos. Este é um livro sobre família, sobre a complexidade das relações familiares e das relações humanas. Aqui cabe tudo: cabe o trauma, cabe a perda, cabe esta noção de finitude. Quis que a narrativa se desenrolasse a várias vozes precisamente para termos vários ângulos, porque permite-nos avaliar o mesmo acontecimento e o seu impacto na comunidade inteira. Ninguém vive sozinho.

Os descansos representam as perdas que tivemos ao longo do nosso caminho, estes momentos que nos marcaram – sejam mudanças de rumo, uma profissão que deixamos para trás, um relacionamento que termina. São mudanças no nosso caminho que temos de ultrapassar, sepultar e sobreviver

De onde surgiu o título ‘Descansos’?

Trata-se de um conceito muito habitual no Novo México e na América do Sul e que designa as cruzes que são encontradas à beira das estradas e que simbolizam os mortos e as homenagens às pessoas que morreram nas estradas. Num sentido mais metafórico e figurativo, os descansos são também as vezes que morreremos ao longo da vida, porque uma mulher, antes dos 20 anos, já morreu mais de 100 vezes. Isto é um conceito que está presente no livro ‘Mulheres Que Correm com os Lobos’, de Clarissa Pinkola Estés. Este livro é profundamente reflexivo, não é um livro que se leia de uma assentada.

Os descansos representam as perdas que tivemos ao longo do nosso caminho, estes momentos que nos marcaram – não só o luto, mas mudanças de rumo, uma profissão que deixamos para trás, um relacionamento que termina. São mudanças no nosso caminho que temos de ultrapassar, sepultar e sobreviver. É muito importante que exista a noção se os descansos estão esquecidos, estão ultrapassados, estão sepultados, ou ainda são lembrados e vivem connosco todos os dias.

Achei este conceito absolutamente fascinante e enquadrava-se muito bem com o percurso não só da protagonista, mas de todas as minhas personagens. E depois há a metáfora que só é descoberta no final, mas que é a grande mensagem do livro, que é o Tito ver num descanso um jardim. Ou seja, um descanso pode ser um jardim se a vida for vista com a ingenuidade dos tolos.

Mas considera que o luto pode ser enterrado?

Acho que não é o luto que é um descanso; a morte é um descanso. O luto acaba por ser um período em que ainda temos aquele descanso acordado, por assim dizer. Nunca esquecemos, obviamente, mas não sofro hoje como sofri há 20 anos quando o meu avô partiu. Consigo falar disto com uma abertura total, consigo trazê-lo ao meu quotidiano através de exemplos, falando dele, mas sem a parte da dor. Essa parte foi sepultada.

Por exemplo, temos um relacionamento que dura ‘x’ anos e que termina; até achávamos que era o amor da nossa vida e deixou de ser. Parece-nos inconcebível naquele momento e achamos que nunca vamos ultrapassar a dor, mas esse descanso acaba por ser esquecido. O momento em si acaba por ser esquecido e fazemos as pazes com isso, sepultamos e sobrevivemos.

Que outros projetos tem em mãos neste momento?

Tenho sempre vários projetos ao mesmo tempo. Ando sempre com um caderninho e passo a vida a apontar ideias. Ainda há pouco tempo saiu um livro do Miguel Esteves Cardoso, o ‘Como Escrever’, e uma das dicas que ele dá é precisamente que apontemos tudo. Quando não tenho o caderno, tenho o telemóvel, que é um ótimo assistente. Há aquela pergunta que se faz muito a quem escreve, que é “o que é que te inspira?”, e no meu caso são as relações humanas, são as pessoas, são as conversas que tenho no talho, no café, na fisioterapia. Há sempre sumo e bebo muito de tudo o que acontece à minha volta, por isso tenho sempre imensos apontamentos e projetos começados.

Quando sinto que as personagens começam a falar comigo, que se aproximam da realidade, que precisam de espaço, de crescer, que lhes dê força, casa e consistência, debruço-me a sério sobre o projeto e começo realmente a avançar. Nesta fase, estou já a escrever um próximo livro – ainda não sei para quando, nem se chegará a ser publicado, porque há sempre uma certa indefinição nesta fase – que também tem este espírito de comunidade, de entreajuda, de empatia. Desta vez terá um protagonista masculino, que é uma coisa que quero tentar, porque nunca fiz.

Pois, as suas obras anteriores têm todas protagonistas femininas.

Sim. Até aqui acho que não fez sentido [ter protagonistas masculinos]. Estive associada à Aurora Editora, uma chancela de vozes femininas com protagonistas femininas, que foi pioneira na literatura contemporânea feminina em Portugal, e fazia sentido que as protagonistas dos meus livros fossem vozes femininas, sendo eu também uma voz feminina. Embora o ‘Descansos’ já tenha algumas personagens masculinas que têm voz, quis centrar uma história na visão de um protagonista masculino. Vamos ver como é que corre e se fará sentido.

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