Sábado, Janeiro 4

Recentemente, ao ir ao supermercado, descobri-me que além da comida que vou comprar, estou no sítio que contém boa parte do lixo do futuro. Efetivamente, muitas destas embalagens — ainda que possam ser mudadas de modo a serem mais “verdes” — são possíveis. Há, porém, coisas que pela sua natureza são práticas ou extremamente discretas, muitas vezes são esquecidas no que toca à otimização na função do seu lixo.

Abrindo como um exemplo positivo, desde que o pagamento dos sacos de plástico foi implementado em 2015, uma moda de levar sacos reutilizáveis ​​coloridos. Começámos a transitar do termo ao reutilizável de forma bastante notável. Fui pesquisar um bocadinho: cada português antes da medida, usado em média 466 dos chamados sacos leves. Já em 2022 tivemos um consumo por pessoa de 13 dessas sacolas. Isto prova que há medidas que acabam por ter impacto, e que com um pouco de poder de encaixe, acabam por se tornar norma nas nossas vidas sem grandes dores associadas.

Esta racionalidade prova que a implementação de medidas ambientais mais responsáveis, combinada com alternativas que procuram melhorar a experiência do utilizador, resulta numa adesão clara ao progresso. A realidade é que o ambientalismo deve abordar os problemas que identificam na sociedade, não através de imposições que forcem todos a melhorar o ambiente, mas através de soluções que ajudem a causa ambiental, enquanto a nova solução nos ajuda a nós. Não será em tudo o que isto é possível, mas acredito que, com jeitinho, conseguimos chegar lá e arranjar boas soluções em campos além deste.

Voltando ao supermercado, é que a noção de resíduos e embalagens nos acompanha até o fim da visita: lá vou eu com os meus sacos reutilizáveis, pagar e colocar os meus itens no carrinho de compras, quando depois, sai um enorme talão com os valores dos artigos, por vezes até em duplicado, seguido de outro com um desconto, e um terceiro com o que entendo serem anúncios ou descontos que nunca vou usar. Se for necessário, ainda vem um quarto papelinho vindo do terminal de multibanco. Multiplique agora é um trem de talões por centenas de pessoas que passam de poucos em poucos minutos em caixas de supermercado, todas levando o enorme conjunto de troféus de papel para casa. A maioria terá como destino o lixo. O início e fim do ciclo de existência dos talões para muitos é, provavelmente, de poucos minutos.

Além disso, há muitos estabelecimentos que produzem talões cujo único destino é o lixo. Acredito que já tenha reparado que, em algumas lojas, uma máquina quase por defeito emite o talão e o próprio operador de caixa põe termo ao aqui, amachucando-o nas suas mãos e colocando-o no lixo 50 centímetros abaixo da impressora. Reforço: isto acontece repetidas vezes a cada dia que passa. Então agora nas épocas festivas, este fenómeno é claramente exponenciado.

Algumas empresas já começaram a emitir faturas digitais, o que pode ser uma boa solução, mas ainda são sistemas demasiado heterogéneos e pouco centralizados, onde o utilizador não beneficia de ir à aplicativo de cada marca ver sua fatura, ou procurar no caos que estará em sua caixa de entrada de e-mail. O fato de cada vendedor ter uma abordagem diferente da questão só complica o processo. Quando comparado com o sucesso da medida dos sacos, as soluções são ambientalmente responsáveis, mas ainda não beneficiam o suficiente o usuário, logo a mudança e benefícios não são evidentes.

Os talões são um exemplo que representa muitos outros processos que só acontecem enquanto sociedade porque são automatizados. Passam despercebidos por não serem flagrantes o seu impacto, mas quando olhamos para eles temos a noção de que uma solução poderia ser francamente melhorada. Ainda que tentemos apostar nas grandes lutas ambientais sejam extremamente importantes para o nosso futuro coletivo, são lutas de grande horizonte e que realisticamente só poderemos ter soluções com grandes mudanças na tecnologia e estrutura da nossa sociedade. Isso exige tempo. Apostar em rever coisas mais pequeninas pode dar alguns ganhos de causa que no fim do dia também são muito boas contribuições.

O caminho para a sustentabilidade não precisa ser doloroso ou um sacrifício. Ao invés disso, pode ser um progresso, onde todos saem a ganhar – os consumidores, a sociedade e o planeta. Quando uma inovação beneficia a todos, a mudança torna-se irresistível.

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