Miguel Prata Roque, que concorre à liderança da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS, escreveu nesta sexta-feira aos militantes para eles anunciar formalmente que é candidato e observar marcar a diferença face aos antecessores, com alguns termos muito críticos, mas sem os nomear.
“Não vim para deixar tudo na mesma. Não vim para repetir erros. Não vim apenas para gerenciar o dia-a-dia. Não vim para perpetuar os mesmos consensos tacticistas. Nem para tolerar os vícios que têm corroído a essência do nosso partido e feito afastar tantas/os militantes empenhados/os”, lê-se na boletim informativo que inveja.
Questionado pelo PÚBLICO sobre os casos a que foi referido especificamente, Prata Roque, que formalizou a candidatura na quinta-feira, disse apenas que se refere “à falta de coragem para colocar os interesses do país à frente dos pequenos interesses pessoais” e ao fato de “ter dirigentes que se eternizam nas cargas e trocam de cargas entre si, não experimentando ter vida profissional fora da política”.
Prata Roque defende que o PS “não pode continuar a fechar-se sobre si próprio, a afastar todos/os que pensam diferente, a fechar portas de sedes, a encolher os ombros quando já não há fervor e adesão das pessoas”. , acrescenta, “novos tempos excluam novos atores, novos caras, novas ideias, novas formas de comunicar”, para que o partido não defina nem se divorcie das populações.
“Há que regressar à pureza da intervenção cívica descomprometida (…) O Partido Socialista está demasiado acomodado e tem que sair do remanso dos gabinetes ministeriais e camarários”, diz ainda ao PÚBLICO.
Na carta aos militantes da FAUL fala ainda da sua experiência de 28 anos de militância no PS, como passou da assembleia de freguesia de Vila Franca de Xira para a concelhia e federação e até da passagem pelo Governo como secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros. Mas realça também que é advogado e professor universitário para alegar que “só tendo uma vida profissional fora dos ambientes e ecossistemas protegidos do poder se pode conhecer a vida real. Saber como custar que trabalhar, usar transportes públicos, esticar o dinheiro até ao fim do mês, criar riqueza e contribuir para o progresso do nosso país”.
À maneira de remoque aos antecessores – depois da presidência efémera de Ricardo Leão, a federação tem como presidente temporário Pedro Pinto de Jesus (que assumiu a liderança, subindo de vice e que já demonstrou vontade de se candidatar, arrebatando o apoio dos líderes anteriores) , e antes da cadeira pertenceu ao ex-ministro socialista Duarte Cordeiro –, Prata Roque afirma que a federação tem que voltar a ser “respeitada”, ter “peso político” e ser “ouvida”.
Assume-se que pretende abrir o partido aos “militantes esquecidos” e à sociedade civil que se atrasaram, e defender uma autonomia estratégica regional, de modo a que se crie uma estrutura intermédia entre o poder central nacional e os vários poderes autárquicos. Tal como dissera ao PÚBLICO há algumas semanas, vai apresentar no início de Janeiro um Programa de Acção Estratégica para a relação entre o partido e os militantes, e, se for eleito, convocará uma convenção autárquica para aprovar uma carta estratégica com os “valores, princípios e o programa de acção” que os candidatos socialistas às eleições locais deverão seguir.
E remata com mais alguns recados e o apelo ao voto a 10 de Janeiro. “A escolha é simples: ou queremos continuar centrados no nosso umbigo, envoltos em tacticismos, em cálculos políticos e em alianças para divisão do poder; ou queremos mesmo que o Partido Socialista volte a ser um motor de mudança e de transformação da vida das nossas concidadãos. Para isso, é preciso recuperar a confiança dos participantes.”