Sábado, Outubro 26

Uma diretiva europeia prevê que todos os anos os relógios sejam adiantados e atrasados uma hora no último domingo de março e no último domingo de outubro

Está a sair à noite com os amigos e de repente ganhou uma hora? Acordou a meio da noite e percebeu que vai poder dormir mais? Vem aí aquele momento em que o relógio atrasa, mas que também traz consigo menos horas de sol.

O horário de verão despede-se já no próximo fim de semana. O relógio atrasa uma hora na madrugada deste domingo (27 de outubro). Assim, às 02:00 do dia 27 a hora passa para as 01:00 no Continente e na Madeira. Nos Açores, deve-se atrasar uma hora às 01:00 da manhã, ou seja, para as 00:00.

Domingo terá, assim, 25 horas, sendo o dia mais longo do ano. A partir desta data os dias começam a escurecer mais cedo. À partida, este horário é benéfico para a qualidade do nosso sono, já que vamos poder usufruir de mais uma hora de descanso, tal como explica à CNN Portugal Hélder Leal, psicólogo clínico: “De maneira geral, dormir mais uma hora afeta-nos de uma maneira positiva. Se geralmente dormirmos uma média de sete a oito horas, que é o recomendado para um adulto, e nos deitarmos à hora habitual na noite anterior à mudança da hora é muito provável que acordemos fortalecidos e bem-dispostos”.

” Apesar de não existirem conclusões científicas acerca do impacto da mudança da hora na saúde da população, existem estudos que apontam para alterações cognitivas ao nível da atenção/concentração e memória. Existe uma maior propensão para os acidentes laborais (e outros) devido a uma redução na capacidade para estar alerta”, acrescenta o psicológo. Um estudo de 1996 comparou a diminuição das horas de sono com a quantidade de acidentes de viação e notou que pequenas mudanças na quantidade de sono que as pessoas têm podem ter grandes consequências nas atividades quotidianas – a perda de apenas uma hora de sono pode aumentar o risco de acidentes de trânsito. No entanto, ganhar uma hora adicional de sono no horário de outono parece diminuir o risco de acidentes.

Por outro lado, o anoitecer precoce pode impactar negativamente algumas pessoas, nomeadamente as que têm tendência a desenvolver depressões sazonais (um tipo de depressão desencadeada pelas mudanças das estações do ano). “As pessoas mais vulneráveis, que têm tendência a ficar mais deprimidas com o horário de inverno, devem estar especialmente atentas e fazerem tratamentos especiais como fototerapia, que ajuda a estimular a atividade celular”, defende Teresa Paiva, neurologista especialista em medicina do sono. Este procedimento, que envolve a exposição a uma luz artificial brilhante por um período específico todos os dias, é muito comum nos países nórdicos.

Ao nível da saúde mental, um estudo de 2017 publicado no jornal Wolters Cluer concluiu que a transição do horário de verão para o horário de inverno está relacionada com o aumento da taxa de incidência de episódios depressivos, não por causa da mudança de horário de uma hora em si, mas devido à angústia associada ao avanço repentino do pôr do sol, que marca a chegada de um longo período de dias curtos.

Mas porque é nos meses de inverno nos sentimos mais cansados e com menos energia? No fundo tem tudo que ver com o nosso cérebro, como explica Hélder Leal: “Cada pessoa beneficia da luz solar, uma vez que está ligada à secreção de melatonina (essa substância age sobretudo no próprio cérebro, sendo um regulador do sono). À noite, quando está escuro, a produção de melatonina aumenta, induzindo o cérebro a sentir sono”. Nos meses de inverno, quando os dias são mais curtos e a luz solar é menos intensa, a produção de melatonina pode começar mais cedo e permanecer elevada durante mais tempo. Essa mudança pode resultar em problemas de sono, cansaço e variações de humor, favorecendo o surgimento de sintomas depressivos.

Em Portugal há algumas dicas que podem ajudar a contrariar esta falta de energia e alterações de humor típicas do Inverno. “A população deve apanhar sol, a maioria das pessoas passa o dia em casa ou no seu local de trabalho e isso acaba por prejudicar a saúde mental. A prática de exercício físico é aconselhável, uma vez que ajuda a libertar energia, tensão e o foco dos problemas e atividades laborais”, diz Teresa Paiva.

Já Hélder Leal alerta para a importância de mantermos os “horários de sono regulares e procurar adaptar a alimentação à época do ano, evitando refeições pesadas ao final do dia”. Reforça ainda o perigo “do uso de luzes artificiais antes da hora de dormir, em particular os ecrãs devido ao seu impacto negativo no adormecimento”.  

A lei comunitária europeia de 2000, que regula o atual regime de mudança da hora, prevê a mudança da hora duas vezes por ano, a fim de ter em conta as variações do tamanho do dia e da noite, marcando o início e o fim da hora de verão. O horário de inverno termina no dia 30 de março do próximo ano.

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