Sábado, Outubro 19

Cabo Ledo é um dos melhores locais de Angola para praticar surf. Venha descobrir as virtudes deste paraíso

Pense em surf. Talvez a sua mente salte para as praias do Havai. Ou mesmo para as ondas do Atlântico em Portugal. Quiçá para lugares mais clássicos para esta modalidade, como a Califórnia ou a Austrália.

Mas, provavelmente, não pensou em Angola.

Contudo parece que este país da África Autral, que só recentemente se estabeleceu no mapa do turismo, consegue competir com os melhores quando se trata de descobrir o oceano em cima de uma prancha.

Até agora, tem atraído apenas os surfistas mais aventureiros, já que Angola tem poucas infraestruturas para oferecer a quem chega ao país. Porém, isso é algo que está a mudar, contando com pelo menos um fornecedor de viagens de surf, que ajuda os entusiastas deste desporto a encontrar as melhores ondas.

A AngolaWaves é gerida por Bizuka Barros, que é luso-angolano, e por Oded Golan, que tem as suas origens em Israel mas reside em Angola há mais de 15 anos. O negócio de ambos dedica-se a promover Angola como um destino para praticar surf, apoiando ao mesmo tempo as comunidades locais e o desenvolvimento sustentável na indústria do turismo ligado ao surf.

Apesar de terem alguns clientes já fidelizados, parte do trabalho desta dupla, segundo explicam, implica convencer aqueles que ainda não se iniciaram nestas andanças de que Angola é um destino viável para praticar surf – dando resposta a questões sobre vistos, segurança, voos ou mesmo atenuando as preocupações sobre a malária ou sobre ataques de tubarões.

Bizuka Barros insiste que Angola é um destino seguro, sobretudo fora da sua movimentada capital, Luanda. O empresário explica que a ameaça da malária é menor durante a época seca, entre maio e setembro, que é também aquela que oferece ondas melhores para o surf. Os vistos para turistas são também agora mais fáceis de obter, vinca.

Paraíso dos surfistas

 

Apesar de existirem muitos locais para praticar surf em Angola, muita da ação tem lugar em Cabo Ledo, uma praia deslumbrante e vazia a 120 quilómetros a sul de Luanda, onde das condições meteorológicas e geológicas criam um ambiente quase perfeito para novatos e veteranos do surf.

O vasto areal e as águas cristalinas tornam esta praia popular entre os banhistas, especialmente aqueles que procuram uma pausa longe da capital. Contudo, é o vento constante, que forma ondas grandes e fáceis de surfam que a transformam num paraíso para os surfistas.

A baía tem um ‘point break’ [fundo de pedras, que quase não se altera, deixando as ondas mais constantes] consistente, lento e muito longo para a esquerda, dando condições a surfistas com todos os níveis de experiência. Além desta característica, criam-se duas ondas mais rápidas e avançadas quando a maré sobe. É conhecida no local como “Praia dos Surfistas”.

“Tem ondas muito longas”, diz Paulo Augusto, um empreendedor local. “Estamos a falar de ondas que podem chegar aos cinco metros num dia boa. Temos dias bons para fazer surf o ano inteiro. E não há multidões por aqui”.

Há várias escolhas para alojamento, desde campismo até opções mais sofisticadas, como o Doce Mar Resort, situado junto à linha da costa. As temperaturas costumam rendar os 30ºC ao longo do ano.

“É muito, muito fácil aprender aqui, porque apanhamos uma onda aqui e logo a seguir apanhar outra. Podemos caminhar a pé na praia”, conta Gilles Cros, um expatriado francês a aproveitar uma aula de surf. “Podemos só entrar na água e apanhar a onda”.

Manter-se especial

Paulo Rodrigues, de Portugal, diz que é o lugar perfeito para aprender as bases do surf.

“É muito bom para aprender. E muito bom também para passar um bom bocado no mar. A temperatura da água é ótima”, diz. “E o mar não é nada agitado. É uma praia muito tranquila”.

E Cabo Ledo não serve apenas para os surfistas ou para os mais crescidos aproveitarem as ondas. Tchyina Matos, responsável pela associação Kalemba Radical, uma organização sem fins lucrativos que permite oportunidades aos mais jovens na área do desporto, trouxe uma carrinha cheia de crianças, prontas para praticar ‘skimboarding’ – que implica pranchas mais pequenas, que são lançadas a deslizar sobre as águas mais rasas da costa. Algumas dessas crianças vêm pela primeira vez.

“Começou há onze anos, como um projeto para tirar as crianças das ruas”, explica Tchyina Matos. “Tínhamos muitos rapazes que estavam a começar a consumir drogas ou a roubar pessoas. Foi então que vi uma oportunidade para colocar essas crianças a fazer desporto, afastando-os das coisas más”.

Cabo Ledo tem um papel fundamental nesta missão, diz.

“Além da natureza, o que este lugar tem de especial… as pessoas costumam dizer que se sentem mudadas”, acrescenta, vincando que as crianças se tornam mais comunicativas e mais “humanas” quando vêm a esta praia.

“Mesmo que não se conheçam, ajudam-se uns aos outros. É algo totalmente diferente”.

Paulo Augusto, o dono do resort, diz que estão a ser dados passos para garantir que Cabo Ledo continua a ser um lugar especial.

“Temos algumas regras na praia”, diz. Não há fogueiras no areal, não há música alta, não há geradores ou luzes elétricas. E todo o lixo é levado no regresso para casa.

“São regras simples”, justifica. “E pode ver que a praia está limpa. Toda a gente respeita, não há confusão nesta praia, não há barulho. Por isso é que toda a gente adora vir”.

Paisagens marcianas

A AngolaWaves organiza percursos na área, bem como noutros locais ao longo da costa, ainda mais selvagens e remotos, utilizando veículos todo-o-terreno para ligar os seus turistas às melhores ondas que o país tem para oferecer, sempre tirando partido das condições meteorológicas.

A lista de destinos inclui Catanas Point, a quatro horas de carro a sul de Cabo Ledo, que tem para oferecer uma imponente onda, em forma de A, que rebenta sobre uma formação rochosa, produzindo belas ondas para a esquerda e ondas rápidas e ocas para a direita. Como pano de fundo, há uma baía imaculada.

Junto a este local, Sérgio Torres e a companheira Cecília gerem um parque de campismo e um projeto social que apoia a formação de crianças locais, sem esquecer as aulas de surf.

Mais a sul, depois de passar por savanas tropicais e por paisagens desérticas acidentadas, a excursão passa também pela Reserva Especial do Namibe, uma área natural protegida, onde enormes dunas de areia se encontram com o mar.

Muito das praias onde é possível fazer surf em Angola, como a de Namibe, têm poucos visitantes (SilvaPinto1985/iStockphoto/Getty Images)

Aqui, os surfistas ficam em tendas temporárias, para garantir que estão perto o suficiente da ação quando as boas ondas se formam. A equipa da AngolaWaves fornece-lhes refeições para manter os níveis de energia em alta, tão necessários para as horas passadas entre as grandes ondas. Quando a coisa acalma, há sessões de música com ukelele junto de uma fogueira.

Indo ainda mais para sul, a excursão inclui um lendário ‘point break’ perto da cidade de Tomuba, onde a praia é rodeada por uma paisagem alaranjada, que alguns surfistas que visitam o local têm comparado às imagens recebidas da superfície de Marte através dos veículos através da agência espacial norte-americana NASA.

Estas imagens têm cimentado, através do boca-a-boca, a reputação de Angola entre os surfistas mais aventureiros, que estão sempre à procura da onda perfeita.

Um desses surfistas, um professor de Israel, que pediu para não ser identificado, faz um resumo desta experiência enquanto se prepara para regressar a casa, depois de uma aventura épica de 12 dias com a AngolaWaves.

“Vou ter saudades de surfar estas ondas perfeitas e sem multidões”.

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