Terça-feira, Janeiro 14

Depois de estar encerrado durante nove meses para se poderem realizar obras de modernização no canal ferroviário sem a passagem de comboios, o troço de 26 quilómetros entre Torres Vedras e Malveira reabriu a 5 de Janeiro, mas sem que os trabalhos foram realizados.

Os afrouxamentos a que os comboios estão sujeitos devido a obras que ainda se mantêm fazem com que estes se atrasem até 27 minutos na chegada à Malveira. Como naquela estação voltam para trás para fazer uma nova rotação (o troço entre Malveira e Meleças continua encerrado), a viagem em sentido contrário já começa atrasada, repercutindo-se os atrasos ao longo do dia em toda a linha. Deste modo, é frequente os comboios chegarem e partirem atrasados ​​das Caldas da Rainha e até o serviço entre Caldas e Coimbra terem atrasos à volta dos 20 minutos.

Entre Torres Vedras e Malveira, o tempo médio de percurso foi de 36 minutos. Agora, de acordo com fonte oficial da IP, esse tempo situa-se aproximadamente nos 46 minutos, “mas será limitado à medida que as intervenções em curso na via irão sendo concretizadas”.

A IP explica que “os actuais constrangimentos neste troço decorrem dos trabalhos de modernização em curso” e que as limitações de velocidade “são permitidas para garantir as condições de segurança da via associada aos trabalhos em curso de regularização de barras”.

Há, no entanto, esperança. A empresa acrescenta que “as condições de circulação serão melhoradas ao longo das próximas semanas, com o levantamento progressivo das limitações actualmente em vigor”.

Mas porque se reabriu uma linha que não estava ainda com as obras terminadas? Devido à pressão sobre um gestor de infra-estruturas por parte da tutela, que pretende romper com a passividade do Governo anterior face aos atrasos da IP. A Secretaria de Estado das Infra-Estruturas tem vindo a forçar aquela empresa no sentido de reabrir as linhas encerradas, mas o resultado acaba por ser a retomada do serviço ferroviário, mas em condições degradadas.

Uma forma de evitar atrasos era a CP ajustar os horários às limitações de velocidade prolongadas existentes na via devido às obras. Uma prática que, de resto, foi habitual nas décadas de 1990 e 2000, nomeadamente nas obras de modernização da Linha do Norte. Essa prática, no entanto, foi abandonada, de que é exemplo a manutenção dos horários na Linha do Oeste e também na Linha de Cascais, onde a manipulação do serviço também é diária devido aos afrouxamentos provocados pelas obras de modernização.

No caso do Oeste, sendo uma linha de via única, os atrasos são ampliados devido à dificuldade em realizar cruzamentos. Não tendo ainda sinalização eletrônica, os cruzamentos dos comboios são realizados unicamente nas estações através de meios exclusivamente humanos. Mas para isso é necessário que as estações tenham guarnecidas com pessoal da IP (agentes de circulação e operadores de manobras), o que não aconteceu. A empresa mantém a maioria das estações do Oeste fechadas, alegadamente por falta de pessoal ou por considerar que não se justifica garantir-las por nelas não estarem previstos cruzamentos. Mas quando o novo normal são os atrasos consecutivos, o garantia das estações para fazer cruzamentos seria uma forma de mitigar esses mesmos atrasos, impedindo que o atraso de um trem se repercutisse em todo o serviço ao longo do dia.

Quando, em Abril de 2024, a Linha do Oeste fechou entre Torres Vedras e Meleças, o IP pôde ter destacado pessoal das estações desse troço para o troço norte da linha (entre Torres Vedras e Leiria, por exemplo), a fim de garantir uma maior robustez da operação. Em Outubro, o PÚBLICO perguntou à IP por que motivo não o fez, uma vez que os atrasos têm sido uma constante, mas a empresa não respondeu.

Actualmente, a linha continua encerrada nos 17 quilómetros entre Malveira e Meleças. Fonte oficial da IP diz que esta está “realizando todos os esforços no sentido de desenvolver as intervenções de peças e reposição dos materiais e equipamentos de sinalização naquela época troço que, recorde-se, foram alvo de atos de vandalismo e furtos, de modo a poder proceder à ordem das condições de circulação e segurança com maior brevidade”. Na resposta às perguntas do PÚBLICO, a empresa não se comprometeu com um dado, mas, em Dezembro garantiu que a Linha do Oeste reabrirá a sua totalidade em Fevereiro.

Ainda assim, mesmo depois de uma IP ter prometido que só fecharia durante quatro meses e ter demorado dez, a linha não reabrirá eletrificada nem com modernos sistemas de sinalização, tal como previsto no plano de modernização. O que haverá de novo será uma via e estações renovadas e passagens desniveladas. Comboios eléctricos só talvez para o fim do ano e sinalização electrónica só para 2026.

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