Terça-feira, Novembro 26
  • Coletivo Palestina, meu amor foi criado por três amigas do Porto que queriam ajudar a população de Gaza
  • A licitação começa nos 100 euros
  • Fundos angariados serão doados na totalidade ao Projeto Sameer, liderado por jovens palestinos

No dia 30 de Novembro vai decorrer, no Porto e em Coimbra, um leilão solidário organizado pelo colectivo Palestina, meu amor, que contará com obras de cerca de 70 artistas de várias áreas das artes plásticas. Os fundos angariados serão doados à organização humanitária The Sameer Project, que oferece abrigo a famílias palestinianas deslocadas .

O evento vai decorrer em simultâneo no Porto e em Coimbra. No Porto, o encontro está marcado nas galerias MIRA, em Campanhã. No dia anterior ao leilão, a 29 de Novembro, este espaço vai acolher uma sessão de abertura, com início às 21h, que contará com uma intervenção de Pedro Levi Bismarck, editor do Jornal Punktoarquiteto, crítico e ensaísta, e ainda com uma sessão de leitura de poesia palestiniana, pelas vozes de Alexandra Cordeiro e Fernando Motapelos, da revista Sinais de Cenainforma o coletivo em comunicado.

Já em Coimbra, no dia 30, a partir das 15h, as obras totalmente expostas ao público na Cervejaria da Fábrica, no primeiro andar das Galerias Topázio. Às 16h30 vai decorrer também uma sessão de abertura, com intervenções de Luísa Bebiano, arquitecta e autora de uma das peças a leilão, João Sousa, fotojornalista português recentemente repatriado de Beirute, e João Barreira do movimento Coimbra pela Palestina.

No mesmo dia, às 17h30, o leilão solidário tem início em simultâneo nas duas cidades, sendo que serão leiloadas mais de 50 obras no Porto e 25 em Coimbra.

Vários artistas doaram obras para serem leiloadas: António Olaio, Cristina Troufa, Joana Rêgo, João Paulo Serafim, Marija Reikalas, Miguel Januário, Patrícia Geraldes, Sebastião Resende e o realizador João Gonzalez, cujo curta-metragem Comerciantes de gelo foi o primeiro filme português a ser nomeado para um Óscar, em 2023.

Laura Manuel, uma das fundadoras do colectivo, explica que o jovem realizador português foi o primeiro artista a ser contactado, e que foi um começo “em grande”. “Ele prontificou-se logo a enviar uma obra assinada”, lembra. Seu apoio terá ajuda para angariar outros artistas e dar mais visibilidade à iniciativa, acredita.

“Depois, conforme estávamos falando com amigos, algumas pessoas foram-se juntas, mas as mensagens que recebemos de artistas que não conhecíamos, que não foram contatados diretamente e que mandaram uma mensagem a dizer ‘eu quero doar uma obra’… Foi incríveis, eram imensos.”

Tanto que, continua Laura, o tamanho das galerias e a proximidade dos dados marcados para o evento fizeram com que tivessem de parar de aceitar doações, contabilizando pelo menos mais três exposições de artistas que se prontificaram para participar, além dos cerca de 70 cujas obras serão leiloadas no final da semana.

Algumas das peças foram criadas propositadamente para esta iniciativa e todas terão um preço base de licitação, que na maior parte dos casos irá rondar os cem euros, dependendo da peça.

“Natureza Morta”, de Laura Lia

Os fundos angariados serão doados na totalidade ao O Projeto Sameer, uma organização humanitária“que presta apoio diário e direto às famílias desalojadas em Gaza”, explica o grupo em comunicado. O trabalho da organização inclui a distribuição de alimentos, medicamentos, abrigos e apoio psicológico.

“O Projeto Sameer é liderado por palestinos que estão no terreno, que vivem lá, são jovens que nasceram e sempre viveram na Palestina, e que estão a fazer um trabalho incrível”, explica Laura. “Nós pensamos em várias organizações, mas com o problema que existe de entrada em Gaza, e a partir do momento em que Israel declarou a UNRWA como uma organização terrorista, pensamos que o ideal seria [o dinheiro] ir direto para quem lá está, para quem lá vive”.

A organização humanitária foi responsável por erguer o acampamento para refugiados Refaat Alareer (como homenagem ao poeta palestino com o mesmo nome) no centro de Gaza, destinado a “abrigo e apoio especializado a famílias deslocadas”, com foco especial em situações “mais vulneráveis: mulheres perinatais e neonatais de alto risco, crianças com deficiências físicas ou mentais, adultos com necessidades especiais, feridos de guerra e doenças crónicas”, lê-se no site de angariação de fundos para o campo.

Este leilão é a primeira iniciativa organizada pelo coletivo Palestina, meu amor, que nasceu oficialmente em Setembro, pela mão de três amigas, mas começou a ser pensado em Agosto. Laura Manuel, Isabel Dores e Joana Nossa, motivadas pela sua “angústia e sensação de impotência perante os massacres horríveis que estão a acontecer”, reuniram-se em cafés e conversaram sobre como poderiam resolver o “desespero de querer fazer alguma coisa” , diz Laura.

Isabel Dores é a única das três que é artista, mas todas têm amizades e contactos no meio e, por isso, decidiu utilizar precisamente essa proximidade para formar o colectivo e planejar esta lei solidária. Mais tarde, Carlos Júlio, um amigo de Coimbra, disse-lhes que também havia artistas específicos em participação — e foi assim que o evento se expandiu.

O nome do coletivo vai beber do filme Hiroshima, meu amor (dirigido pelo cineasta Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras), mas Laura afirma que representa simplesmente “o amor” que os três que têm “por Gaza”.

No mês de dezembro, o coletivo Palestina, meu amor vai promover mais duas iniciativas, cujas receitas serão doadas também ao The Sameer Project. No Porto, no dia 7, será realizado um workshop de Tatreez (bordado palestino), orientado por Rita Alsalaq, ativista e artista têxtil palestiniana. Já em Coimbra, no dia 14, terá lugar um bazar de arte, com bolsas de obras doadas por outros artistas, organizado em parceria com o colectivo InspirArte.

Texto editado por Inês Chaíça

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