Neste sábado, o Boavista levou ao Estádio do Dragão uma ideia de passar, em boa medida, por limitar o jogo entre linhas ao FC Porto, tirando Rodrigo Mora do jogo e forçando os portistas a explorarem a largura. E eu estava tendo sucesso nessa missão. Depois do jogo, o que há para dizer o triunfo do FC Porto, por 4-0, é isto: Rodrigo Mora acabou com… uma assistência e um golo.
Esta noite realça a complexidade de um jogo de futebol, já que Mora esteve tapado minutos a fio, teve vários erros técnicos e não conseguiu ser útil, mas focou em muitas marcações que libertaram Pepê e Nico. E este paradoxo sugere algo para o futuro: é que Mora, pela tremenda qualidade técnica que tem, pode vir a ser um “engodo” de alto nível, já que atrai adversários e liberta espaço para os colegas.
Depois, com o jogo desbloqueado, pode ter espaço para fazer a diferença, porque é um jogador claramente diferente dos demais. E foi isso que aconteceu, numa partida que levou o FC Porto ao topo do campeonato, de forma isolada e na expectativa do que irá acontecer no Dérbi de domingo, entre Sporting e Benfica.
Boavista subido
O Boavista levou ao Dragão um preço já habitual e do qual não abdicou mesmo jogando contra o FC Porto. Falamos da linha defensiva bem alta, com a equipe distribuída em cerca de 30 metros, com pouco espaço entre os setores.
Esta não é uma ideia de jogo surpreendente, já que, apesar de ser uma equipa fundada na tabela, há um motivo para que o Boavista seja uma equipa da I Liga que mais bolas longas permite. O FC Porto resistiu a explorar as bolas por muito tempo no espaço, mas também não tinha como jogar por dentro.
As linhas boasvisteiras tão juntas tiravam Mora do jogo e a partida foi pachorrenta até aos 24′ – ter Mora tapado e não haver Fábio Vieira (nem esteve no banco) a encontrar soluções de frente para o jogo também não ajudava a achar espaços.
A solução que o FC Porto aplicou para a falta de ideias foi… baralhar as ideias. Aos 25′, Pepê saiu do lado esquerdo e foi pedir a bola à direita, criando uma superioridade numérica que deu as soluções para uma jogada mal finalizada pelo Samu.
Aos 31′, Pepê também saiu da sua zona e pediu mais baixo, atraindo um adversário que deixou uma “cratera” no meio-campo suficiente para Nico desequilibrar pelo meio, em drible e condução, antes de abrir na largura – houve cruzamentos de Martim e finalização para gol do Samu.
Aos 44′, deu-se a mesma ideia, mas feita ao contrário do que tinha acontecido aos 25′: foi Franco a sair da direita para ir à esquerda criar superioridade e a jogada acabou com finalização de Martim e defesa de César.
Mora apareceu
Três lanças de perigo, três lanças com ideias muito semelhantes, pedindo a Franco e Pepê que saíram de sua zona para desequilibrarem por outro local, criando superioridade inesperada nos corredores, abdicando de fazer o jogo passar pela zona central muito fechada.
Depois, um lance de bola parada, aos 55′, deu índices de Mora para finalização de Nico, e um contra-ataque aos 59′ deu jogo individual de Mora para um grande gol do jovem de 17 anos. Samu, na sequência de um jogo feito de primeira, a três toques, ainda marcou o 4-0 aos 88′.
No fim de contas, Pepê não marcou golo, não fez assistência e, em rigor, não foi pensador criador de oportunidades. Mas foi pelos pés – e principalmente pelo cérebro – do jogador brasileiro que o FC Porto desbloqueou o jogo, entendendo os locais do campo que deveriam pisar para ajudar a equipe a inventar soluções.
Também Nico teve um papel fundamental, com um gol, que dá sempre nas vistas, mas também com participações nas fases embrionárias do 1-0 e 3-0.
Depois, aconteceu Mora. E provavelmente vai acontecer mais vezes.