Quinta-feira, Setembro 12

Vários estudos científicos detetaram a contaminação do corpo humano com microplásticos presentes na alimentação e no meio ambiente. O cérebro é o órgão onde foram encontrados maiores quantidades de microplásticos e os riscos associados ainda não são bem conhecidos

Há cada vez mais estudos científicos a detetar a presença de microplásticos no corpo humano, dos órgãos reprodutores ao cérebro. Os riscos para a saúde ainda são desconhecidos, mas investigadores de todo o mundo defendem a implementação de medidas urgentes para controlar a poluição de plástico, desde logo na alimentação.

Um estudo publicado nos Institutos Nacionais de Saúde, que ainda está em fase de revisão de pares, descobriu a presença de microplásticos nos rins, fígados e tecidos cerebrais de corpos autopsiados. Mas as 91 amostras de tecido cerebral continham, em média, cerca de 10 a 20 vezes mais microplásticos do que os restantes órgãos.

O principal autor do estudo, Matthew Campen, professor de ciências farmacêuticas da Universidade do Novo México, descreveu os resultados como “bastante alarmantes”. “Há muito mais plástico nos nossos cérebros do que eu imaginava”, admitiu, citado pelo Guardian.

Os autores do estudo concluem mesmo que o cérebro é “um dos tecidos mais poluídos por plástico”.

Mas há uma outra descoberta que está a preocupar os investigadores. No estudo liderado por Matthew Campen, foram analisadas 12 amostras de tecido cerebral de pessoas que morreram com demência, incluindo a doença de Alzheimer. Essas amostras continham até dez vezes mais plástico em peso do que as amostras de pessoas saudáveis.

“Não sei quanto mais plástico o nosso cérebro consegue aguentar sem causar problemas”, lamentou Matthew Campen.

Os investigadores também descobriram que a quantidade de microplásticos em amostras de tecido cerebral aumentou nos útlimos anos: este ano, era 50% maior do que o total de amostras recolhidas em 2016, o que sugere que a concentração de microplásticos encontrados em cérebros humanos está a aumentar a um ritmo semelhante ao que está a acontecer no meio ambiente, diz o investigador.

Em junho, um estudo publicado no IJIR: Your Sexual Medicine Journal descobriu pela primeira vez a presença de microplásticos no pénis humano. Em concreto, foram encontrados sete tipos diferentes de microplásticos em quatro de cinco amostras de tecido do pénis recolhidas de cinco homens diferentes. Ranjith Ramasamy, principal autor do estudo e investigador da Universidade de Miami, adverte que “os potenciais efeitos para a saúde são preocupantes, sobretudo tendo em conta que não sabemos quais as consequências a longo prazo da acumulação de microplásticos em tecidos sensíveis, como os órgãos reprodutivos.”

Um mês antes, uma equipa de investigadores da China descobriu pequenas quantidades de microplástico no sémen de todos os 40 participantes, segundo um estudo publicado na National Library of Medicine.

Mas não é só no cérebro e nos órgãos reprodutores: um outro estudo publicado na edição de maio da revista Toxicological Sciences descobriu a presença de micro e nanoplásticos em todas as 62 amostras de placentas.

Doenças cardiovasculares, infertilidade e cancro: os possíveis riscos para a saúde

Os riscos da contaminação do corpo humano com microplásticos ainda não são bem conhecidos. Só agora é que o tema tem sido objeto de estudo, com algumas investigações a sugerirem que estes microplásticos podem aumentar o risco de várias condições, como o “stress oxidativo”, que pode provocar danos nas células e inflamação, bem como doenças cardiovasculares.

Estudos desenvolvidos em animais também associam a contaminação por microplásticos a problemas de fertilidade, vários tipos de cancro, problemas no sistema imunológico e endócrino e dificuldades cognitivas, nomeadamente de memória e aprendizagem.

Apesar das mais recentes descobertas, a Food and Drug Administration (FDA) mantém no seu site oficial que “as evidências científicas não demonstram atualmente que os níveis de microplásticos ou nanoplásticos detetados em alimentos representem um risco para a saúde humana.”

Mas os investigadores defendem que estas descobertas são prova suficiente para tomar medidas urgentes, sugerindo a redução do uso de plástico no armazenamento de alimentos, bem como beber água da torneira em vez de água engarrafada e tentar evitar a acumulação de pó, que é contaminado com fragmentos de plástico. Alguns cientistas aconselham ainda a redução do consumo de carne e de alimentos processados.

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