Segunda-feira, Novembro 25

Ao fim de 11 dias, o Presidente da República decidiu dar um muro na mesa e avisar o primeiro-ministro de que terá de ter consequências políticas e não apenas administrativas por falha do INEM, no socorro a situações de emergência. Foi, definitivamente, o fim do estado de graça do Governo para o próprio Marcelo Rebelo de Sousa, que tem alterado um equilíbrio especial com este executivo.

Luís Montenegro é da sua cor política, esteve ligado a um Governo que para Marcelo é de boa memória, o de Passos Coelho, está a fazer anúncios populares, nomeadamente para a função pública. O Presidente da República e o primeiro-ministro, porém, não poderiam ser mais diferentes. Têm uma relação formal e distante, não apresentam interesses comuns, nem partilham as mesmas amizades.

A relação de Marcelo com Montenegro é, pois, bem diferente daquela que o Presidente teve com o ex-primeiro-ministro socialista António Costa, no chamado período idílico dos primeiros meses de coabitação e de estreia da “geringonça”. Dir-se-ia que Marcelo e Costa falavam a mesma língua. Esse período de estado de graça só se cortesmente abruptamente com os incêndios de 2017, quando o Presidente não descansou enquanto não conseguiu escapar a então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, que ainda ficou na corda bamba durante uns longos três meses.

Neste caso da chamada “segunda-feira negra” do INEM, a primeira resposta do actual primeiro-ministro foi explicar ao país que o Governo não pode “andar todos os dias atrás de pré-avisos de greve e a fazer reuniões de emergência”. E perante o aviso de Marcelo nesta quinta-feira, de visita ao Equador, de que têm de ser assumidas responsabilidades “doa a quem faz”, o primeiro-ministro desvalorizou o facto de ter sorteado várias horas em que as pessoas que se ligavam para o 112 não tinha ninguém que atendesse a chamada do outro lado. “Há um país que pula todos os dias apesar dos problemas do INEM”, respondeu Montenegro.

Não, não há outro país para além do INEM. É no país em que é possível que as pessoas liguem para o 112 e ninguém atenda que todas essas pessoas vivem. É nesse país que diariamente trabalham, que estudam, que praticam desporto, que têm filhos e ficam doentes. A Saúde é uma das áreas a que os portugueses mais importância dão, a que confirmam muitos progressos nos últimos 50 anos da democracia, mas que ocupa hoje o topo das suas preocupações.

É impossível arredar esse assunto para um canto. Impossível não ouvir o Presidente. Impossível deixar chamadas para atender.

Compartilhar
Exit mobile version