Quinta-feira, Outubro 17

Quase ninguém parece ter dúvidas: o Banco Central Europeu deverá cortar a sua principal taxa de referência em 0,25 pontos e deverá repetir o corte em dezembro. As taxas Euribor já anteciparam parte destas descidas e deverão continuar a cair, aliviando os encargos de quem tem crédito, especialmente à habitação

É uma espécie de surpresa de Natal antecipada para quem tiver crédito bancário indexado às taxas Euribor, especialmente crédito à habitação.

Em setembro, e como é habitual, depois da reunião de política monetária em que o Banco Central Europeu (BCE) desceu a sua taxa de juro de referência em 0,25 pontos percentuais, Christine Lagarde falou aos jornalistas para explicar a decisão e para sinalizar o que aconteceria nas reuniões seguintes. A interpretação que a maioria dos analistas fez das palavras da líder do BCE foram quase todas na mesma direção: novas mexidas nos juros só aconteceriam na última reunião do ano, a 12 de dezembro. Não foi, no entanto, preciso muito tempo para que essas interpretações mudassem radicalmente. E a explicação para mudança vem dos sinais entretanto divulgados, quer da desaceleração da taxa de inflação, quer do arrefecimento da economia da zona euro.

O primeiro sinal aconteceu logo a 1 de outubro quando o Eurostat, o órgão estatístico da União Europeia, divulgou a estimativa rápida da taxa de inflação na Zona Euro relativa a setembro: o ritmo de crescimento dos preços passou de 2,2% em agosto para 1,8%, caindo abaixo do valor de referência do BCE, de 2%, algo que não acontecia desde junho de 2021. Aos dados positivos da inflação seguiram-se dados dececionantes da atividade económica da zona euro, em particular do seu motor, a Alemanha, ao ponto de o Governo ter revisto as suas previsões e antecipar, agora, um novo recuo da economia em 2024.

Neste cenário, a generalidade dos analistas aponta, agora, para mais duas descidas de taxas de juro até ao final do ano, em outubro e em dezembro, ambas de 0,25 pontos percentuais, depois das duas já realizadas, também de 0,25 pontos, o que fará passar a taxa de depósito de 4% para 3%.

“É esperado um corte de 25 pontos base, sendo a probabilidade dessa postura de 97%, diminuindo a taxa de depósitos do BCE para 3,25%”, salienta Paulo Monteiro Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, lembrando que “há quatro meses a taxa de depósitos do BCE era de 4%, tendo o banco central da zona euro descido as taxas de juro pela primeira em cinco anos no passado dia 6 de junho”.

O economista lembra ainda que na última reunião do BCE “foi mais ou menos consensual no seio dos membros do banco central da zona euro uma manutenção das taxas de juro na reunião de hoje, dia 17 de outubro”, mas “a rápida deterioração da economia da moeda única, sobretudo da alemã, a caminho do segundo ano consecutivo de recessão, e a notável desaceleração da inflação, especialmente dos preços no consumidor germânico, alteraram o discurso dos membros do BCE (…) abrindo caminho para o fundamental corte de 25 pontos amanhã, na tentativa de recuperar uma economia que se deteriora rapidamente”.    

Para o economista, “a principal prioridade do BCE será continuar a equilibrar a inflação, agora em desaceleração visível, com a necessidade de evitar uma recessão económica mais profunda, sobretudo na Alemanha”.

Paulo Rosa diz ainda que “o mercado antecipa um novo corte de 25 pontos base na próxima e última reunião do BCE em 2024, no dia 12 de dezembro, sendo a probabilidade da materialização dessa descida de 91%, fechando o ano a taxa de depósitos do BCE nos 3%, resultando numa descida de 100 pontos base no presente ano 2024”. 

Também o economista Filipe Garcia, presidente a IMF – Informação e Mercados Financeiros, diz que haverá duas descidas de taxas até ao final do ano. Na reunião de hoje, “espera-se que o BCE corte as taxas de juro de referência pela terceira vez neste ciclo.  O corte deverá ser de 25 pontos base, para 3,25% na taxa de depósito, que é hoje a principal referência”. Segundo o economista, a líder do BCE deverá justificar o corte com “a evolução da inflação, que tem vindo a recuar rapidamente, e também com os sinais de desaceleração económica, mantendo a perspetiva de que a política monetária continua a ser restritiva”. Segundo Filipe Garcia, Christine Lagarde deverá ainda alertar que, devido a efeitos de base, “as taxas de inflação homologas poderão subir nos próximos meses e que um eventual choque nos preços da energia é um risco a ter em conta”, ainda assim, sublinha o economista, “deverá ser sinalizado um novo corte em dezembro”.

Efeito nas Euribor já descontado, mas descida deve continuar

Paulo Rosa e Filipe Garcia também concordam que o efeito destas descidas de taxas de juro pelo BCE já se refletiu nas taxas Euribor, mas que a descida das taxas que servem de indexante ao crédito deverão continuar a cair.

“As Euribor já descontam totalmente o corte de 25 pontos base hoje, assim como outro de igual dimensão na reunião de 12 de dezembro”, diz Filipe Garcia, concluindo que “as taxas de juro Euribor deverão continuar com uma tendência de queda, mas mais pronunciada nas maturidades mais curtas”.

Também Paulo Rosa diz que as “taxas Euribor já descontam parte desta queda, mas é provável que mantenham a trajetória de descida”.

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