Quarta-feira, Novembro 6

A vitória de Donald Trump deveu-se a muitas razões: uma rejeição global sobre os detentores de cargos públicos, um aumento do eleitorado republicano e uma batalha pelo futuro da democracia americana. Mas os eleitores disseram, repetida e consistentemente, que a questão número um destas eleições era a economia.

Isso explica em grande parte porque é que Trump foi reeleito.

De acordo com vários indicadores, a economia dos EUA está a fervilhar, sendo mesmo a inveja do resto do mundo. Mas os americanos continuam a vê-la de forma desfavorável e um número significativo de eleitores culpa Joe Biden e a adversária de Trump, Kamala Harris, por não terem conseguido melhorar suficientemente a situação financeira dos americanos nos últimos quatro anos. Sondagem após sondagem, os resultados sugerem que os americanos têm opiniões muito negativas sobre a economia dos EUA.

Isto porque o sentimento económico nem sempre coincide com os dados que mostram que a economia está a criar emprego, que as despesas dos consumidores estão a crescer e que o Produto Interno Bruto – a medida mais ampla da economia – continua a crescer. Quando se paga caro por uma chávena de café ou quando não se tem dinheiro para comprar uma casa, esses dados não fazem sentido: os eleitores sentem-se excluídos do sonho americano.

Porque é que a economia dos EUA está tão difícil

Habitação: Os preços das casas nos Estados Unidos atingiram novos máximos históricos durante 15 meses consecutivos. São ótimas notícias para quem tem casa própria – e não tão boas para quem não tem, especialmente com as taxas de juro do crédito a permanecerem teimosamente elevadas, um pouco abaixo dos 7%. É por isso que apenas 2,5% das casas mudaram de proprietário este ano, o valor mais baixo dos últimos 30 anos, de acordo com a Redfin.

O mercado de arrendamento não está a oferecer grande alívio: em 2023, cerca de metade dos inquilinos americanos gastaram mais de 30% do seu rendimento com a renda da casa. Os agregados familiares que gastam mais de 30% do seu rendimento em rendas, prestações com crédito à habitação ou outros custos de habitação são considerados “sobrecarregados com custos” pelo Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos EUA.

A crise de acesso à habitação contribuiu para exacerbar o fosso de riqueza nos Estados Unidos, deixando as pessoas que são forçadas a mudar-se ou que não têm casa própria numa situação financeira difícil. Mas muitas pessoas que não são pobres também estão a lutar para sobreviver, em grande parte devido ao custo da habitação: um quinto das famílias americanas que ganham mais de 150.000 dólares por ano (cerca de 140.000 euros) vive de salário em salário, de acordo com um inquérito do Bank of America.

Preços: A inflação está de volta ao normal. Mas isso não significa que os preços estejam a descer – apenas que não estão a subir ao nível alarmante de há uns anos.

Os preços são cerca de 20% mais altos agora do que eram quando Biden assumiu o cargo, deixando os americanos com uma lembrança diária de como a inflação os penaliza cada vez que vão às compras. Os preços da gasolina caíram drasticamente nos últimos dois anos, passando de uma média recorde de mais de cinco dólares em 2022 para menos de três dólares por galão (3,8 litros) em muitos estados. Isso ajudou, mas não resolveu, os problemas de inflação que muitos americanos continuam a enfrentar diariamente.

Política: Muito do que sentimos em relação à economia depende da política seguida. E o número de republicanos registados na América está a crescer.

Um estudo recente da Brookings Institution, divulgado na semana passada, encontrou uma correlação entre o sentimento económico e a preferência política relativamente ao partido que controla a Casa Branca. Quando Trump tomou posse, o sentimento económico dos republicanos aumentou, enquanto o dos democratas diminuiu. O oposto aconteceu quando Biden assumiu o cargo. Mas os republicanos são três vezes mais propensos a pensar que a economia é boa quando um republicano está no poder do que os democratas quando um democrata detém a Casa Branca – e o inverso também é verdadeiro.

Não, a sério, a economia dos EUA está ótima

Ainda assim, Trump vai herdar uma economia forte – pelo menos no papel.

Empregos: O maior indicador de segurança económica é o facto de se ter ou não um emprego, e uma percentagem historicamente elevada de pessoas tem emprego. Apesar de a taxa de desemprego ter vindo a subir no último ano, para 4,1%, mantém-se num nível muito saudável, subindo gradualmente desde a taxa de desemprego mais baixa desde a primeira ida à lua.

A máquina de criação de emprego da economia dos EUA abrandou este ano – particularmente nos últimos meses. No mês passado, a economia criou apenas 12.000 postos de trabalho. Ainda assim, a economia continua a criar uma média mensal de 170.000 postos de trabalho este ano, o que é quase exatamente o número de postos de trabalho criados durante os primeiros três anos da administração Trump, antes da chegada da Covid (175.000 postos de trabalho por mês).

As empresas continuam tanto à procura de trabalhadores que o número de anúncios de emprego é superior ao número de americanos à procura de emprego, de acordo com o Gabinete de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

PIB: A medida mais ampla da economia dos EUA está em expansão. O produto interno bruto cresceu a uma taxa anualizada ajustada sazonalmente de 2,8% no último trimestre, informou o Bureau of Economic Analysis na quarta-feira da semana passada. Esse é um ritmo saudável em qualquer medida e está no mesmo nível registado durante o governo Trump, quando as pessoas se sentiam muito melhor sobre o estado da economia.

A economia americana é também invejada em todo o mundo: O crescimento económico dos EUA previsto para este ano continua a ser o mais forte de todas as economias do G7, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

Salário: Os salários não estão a crescer como há alguns anos, quando a inflação estava verdadeiramente fora de controlo. Mas ainda estão a crescer a uma taxa ajustada de 3,9%, de acordo com o Departamento do Trabalho. Esta taxa continua a ser mais alta do que a taxa de inflação, o que significa que a quantidade de dinheiro que os americanos têm para gastar está a aumentar.

O rendimento disponível per capita ajustado à inflação aumentou pelo 27º mês consecutivo, de acordo com o Bureau of Economic Analysis, a série mais longa de que há registo.

Consumo: Apesar das sondagens em contrário, os consumidores estão a agir como se a economia estivesse ótima. Os gastos do consumidor, que representam mais de dois terços do PIB norte-americano, estão a aumentar, tendo crescido 3,7% no último trimestre, a maior taxa de crescimento desde o primeiro trimestre de 2023, de acordo com o Bureau of Economic Analysis.

E a confiança dos consumidores também está em alta – aumentou em outubro para o valor mais alto desde março de 2021. Ainda assim, permanece bem abaixo do valor onde estava antes da pandemia, durante o primeiro mandato de Trump.

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