Segunda-feira, Janeiro 6

É difícil, no futebol atual, guardar segredo sobre um jogador de alta categoria. Os clubes já têm registros detalhados de meninos e meninas de dez anos, pelo que dos que jogam na Liga inglesa há ainda menos para esconder, mesmo que queiram. Há, ainda assim, uma dimensão “segregável”, que é a adequação – ou não – de um jogador a uma determinada equipe.

Era neste plano que parecia andar o sueco Alexander Isak, avançado do Newcastle que voltou a ser decisivo neste sábado, no triunfo (2-1) frente ao Tottenham, marcando o gol da vitória – foi o 13.º em 18 jogos no campeonato e tornou-se o primeiro jogador do clube a marcar em sete partidas seguidas.

Aos 25 anos, a carreira de Isak parecia estar “empenada” pelo tal preço da adequação a um estilo de jogo. Era um jogador especial e, por isso, cuidado de um contexto especial – sobretudo de uma equipe que gostasse de jogar em transições. Agora, parece ter se tornado um jogador total. E passou a ser um segredo muito mal guardado.

Dispersa-se menos

Vamos aos números. Nesta temporada, Isak tem um valor de golos acima do valor de golos esperados – conceito que mede a probabilidade de sucesso de uma finalização.

Isto significa que o sueco é um finalizador que marca o que é suposto – um finalizador “certinho” – ou que falha oportunidades claras e compensa-o com golos inesperados. A opção real é a primeira, porque os números mostram que não foram dedicados por aí além no capítulo das graças claras.

Se Isak é, portanto, um finalizador “certo”, isso sugere que só precisa que a bola seja passada em condições. E é aí que reside uma parte curiosa: é que Isak está longe de ser um jogador de área.

Quando jogava na Real Sociedad, era um jogador cujo mapa de calor das movimentações em campo exibia uma dispersão brutal pelo terreno de jogo. No Newcastle, que chegou há três anos, começou por ser também um jogador de grande dispersão territorial.

Nas últimas duas temporadas isso mudou. A presença de Isak nas zonas mais próximas da área aumentou significativamente, algo que terá que ver com a noção ganha por Eddie Howe sobre as melhores virtudes do jogador sueco. E o gol marcado ao Tottenhamnuma finalização em que teve “cheiro” de ponta-de-lança, finalizando no sítio certo, é prova disso.

Os gráficos de acção de Isak mostram que dispersou menos o seu raio de acção, mas que continua com zonas muito “carregadas” longe da área – isto significa que continua a dar-se ao jogo, mas apostando em duas ou três zonas específicas e exploradas com insistência.

Howe não se tornou, de maneira alguma, um “pinheiro” de área – apesar de a altura do sueco, com 1,92 metros, poder sugerir isso.

“É o melhor do campeonato”

Estas estatísticas atestam o que se pode ver a olho nu. Isak gosta de jogar em apoios frontais, gosta de explorar o espaço em velocidade e também é forte a explorar a largura – fê-lo vezes sem conta há dias, quando ajudou o Newcastle a destruir o Manchester United de Ruben Amorim.

No fundo, Isak tornou-se um avançado total. Ele pode marcar golos e pode correr, mas também é importante destacar o seu jogo de contenção e sua ligação com os outros, que melhorou muito desde que chegou”, apontou Gary Neville. E acrescentou. “Acho que ele é o melhor avançado do campeonato. Vejo muitos jogos do Haaland, que é um avançado de classe mundial, mas o seu jogo não chega nem perto do nível de Isak neste momento”.

O treinador do Newcastle é conhecido por não ser tão exuberante no discurso, pelo que se fica por frases como “é um talento mundial” e “tem tudo”.

Está mais perto até do jogador ao qual chegou a ser comparado. Tal como Zlatan, Isak é alto, tem boa técnica e gosta de sair da marcação dos centrais e participar no jogo. E é sueco, o que também sugere comparações. Só nunca pareceu encerrar tão bem como o compatriota – mas os números dizem que isso já não é assim tão verdade.

Aos 25 anos, é fácil prever que Isak vai “cair” numa equipa de tarimba superior ao Newcastle e também é fácil prever que a selecção da Suécia tem ouro. Um ataque no qual Isak e Gyökeres fazem movimentos complementares, alternando entre o apoio frontal e o ataque ao espaço, é coisa para magoar muita gente.

Dos jogos deste sábado destaque ainda para o Manchester City, que voltou a dar sinais de alguma retomada, com mais um triunfo – desta vez frente ao West Ham, por 4-1, aproximando-se da zona da Champions.

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