Terça-feira, Janeiro 7

Sete canções atribuídas ao rei D. Dinis serão interpretadas em Leiria na terça-feira, dia em que se completaram 700 anos sobre a morte do rei Trovador, revelando o resultado de uma nova investigação ao chamado “Pergaminho Sharrer”.

Intitulado A Melodia de D. Diniso concerto agendado para as 19h na Igreja de São Pedro dará a ouvir música que consta num documento descoberto em 1990 na Torre do Tombo pelo musicólogo norte-americano Harvey Sharrer, que se crê ter letra e composição do sexto rei de Portugal.

Os músicos e investigadores Esin Yardimli Alves Pereira e Ricardo Alves Pereira dedicaram vários meses ao estudo do “Pergaminho Sharrer” e partilharam ao vivo o resultado, num concerto com o percussionista Paul Johnson e o barítono Jorge Luís Castro. “É um trabalho destruído musical muito intenso, o mais científico possível”, explicou à agência Lusa Ricardo Alves Pereira.

O documento onde constam as sete cantigas atribuídas ao rei Trovador (1261-1325) é ainda mais relevante porque se trata do “segundo manuscrito de música secular da Península Ibérica e, porventura, o primeiro de Portugal”.

“Na Península Ibérica existem dois manuscritos descobertos, com música registada com as suas notas, da era medieval, de música secular, não religiosa: um é o do jogral Martin Codax, que tem as cantigas de amigo, o “Pergaminho Vindel”, da Galiza; outro é o “Pergaminho Sharrer”, com as cantigas de D. Dinis — sete delas”. Esin e Ricardo debruçaram-se sobre este último, mas uma tarefa revelada-se complicada.

“É um documento que, felizmente, sobreviveu até aos nossos dias, mas faltam partes muito importantes: já não existe página, existem muitas manchas e foi muito difícil retirar as melodias”.

Os dois pesquisadores analisaram-no e compararam-no com outro tipo de repertório, para encontrar a forma de “poder recuperar as partes que não sobreviveram e também refletir sobre o que está escrito”.

“O que fizemos é 100% investigação nossa, com base em investigações que lemos de outros musicólogos. O que se vai ouvir a 7 de Janeiro [terça-feira] é a nossa visão de como o que está naquele manuscrito poderá ter soado na época, incluindo as partes que lhe faltam”, afirmou. O estudo revela “melodias bastante diferentes” relativamente a outras.

O pesquisador preencheu os espaços em branco das canções que constam no documento, estudando a estrutura de cada canção para encontrar paralelismos e, a partir daí, sugerindo “notas e ritmos que lá estariam ou poderiam estar”, bem como “a própria maneira de as interpretar”.

Neste repertório composto por cantigas de amor, o orador, “que se refereiu como D. Dinis, mas não tem necessariamente de ser”, dirige-se directamente à amada, numa “expressão interior das emoções que sente”, em torno “do equivalente à dor de amor”.

Não é a primeira vez que se ouvem integralmente as sete cantigas de D. Dinis. Mas, salientou Ricardo Alves Pereira, será uma nova proposta de como soaria esta música, com base “num trabalho muito científico” que “se tornou também um trabalho muito pessoal e que se vai apresentar ao público com muito carinho”.

O concerto lança a segunda edição do Ciclo de Música Medieval de Leiria, que leva sete momentos ao Castelo de Leiria ao longo de 2025, numa programação dedicada a D. Dinis, lembrando os 700 anos da sua morte, e à música medieval secular da Península Ibérica.

Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell e poeta, é um dos convidados, num recital de poesia musicada dedicada a cantigas de escárnio e maldizer para maiores de 18 anos, no dia 22 de Março. Outro é o especialista em música medieval Eduardo Paniagua, que fará uma residência dedicada ao tema do ciclo em Julho.

O Ciclo de Música Medieval de Leiria tem direção artística de Esin Yardimli e Ricardo Alves Pereira e vai ainda contar com Paul Johnson, Maria Bayley, Jorge Luís Castro, Joana Godinho e Orlando Trindade como outros convidados.

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