Segunda-feira, Outubro 14

Investigação mostra o impacto dos Descobrimentos na forma como evoluem as sociedades

Quando Portugal, Espanha, Reino Unido ou França se decidiram lançar aos Descobrimentos, naturalmente que seria de esperar que mudassem a forma como os locais onde chegaram evoluiriam a partir daí. No Brasil não se falaria português se não tivesse sido Pedro Álvares Cabral a chegar lá primeiro, enquanto que grande parte da América Latina não se expressaria em castelhano sem as missões de Cristóvão Colombo.

Mas, quando os feitos destes homens, muitos deles ocorridos há meio milénio, concretizaram os seus propósitos, também moldaram o crescimento das sociedades onde chegaram.

Entre outras coisas, a confirmação disso mesmo valeu a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson o Prémio Nobel da Economia, atribuído pela academia esta quarta-feira, e que vale à tripla um prémio total de 11 milhões de coroas suecas (cerca de um milhão de euros).

É que os três homens conseguiram, com uma investigação exaustiva, explicar como a natureza das instituições ajuda a explicar porque é que há países que se tornam ricos e assim conseguem continuar, enquanto outros permanecem pobres e com dificuldades em deixar essa situação.

A academia, que partilha este prémio com o Banco Nacional da Suécia – o único não atribuído exclusivamente pela Fundação Alfred Nobel -, congratulou o trio por ter conseguido explicar por que razão “sociedades com um Estado de Direito deficiente e instituições que exploram a população não geram crescimento nem mudanças para melhor”.

“Quando os europeus colonizaram grandes partes do globo, as instituições dessas sociedades mudaram”, escreveu o júri, citando o trabalho dos economistas. Embora em muitos locais o objetivo fosse a exploração da população indígena, noutros sítios a que os europeus chegaram foram lançadas as bases para sistemas políticos e económicos inclusivos.

“Os laureados mostraram que uma das explicações para as diferenças na prosperidade dos países são as instituições sociais que foram introduzidas durante a colonização”, acrescentou a nota, sem dar exemplos claros, ainda que seja fácil de perceber que nações como os Estados Unidos conseguiram prosperar após a colonização inglesa, enquanto outros, como a Guiné-Bissau – para dar um exemplo de colonização portuguesa – continuam sem conseguir evoluir económica e socialmente.

Os países que desenvolveram “instituições inclusivas” – que defendem o Estado de Direito e os direitos de propriedade – tornaram-se prósperos ao longo do tempo, enquanto os que desenvolveram “instituições extrativas” – que, nas palavras dos laureados, “espremem” os recursos da população em geral para beneficiar as elites – registaram um crescimento económico persistentemente baixo.

Símbolo de desigualdade? No Dubai é comum ver trabalhadores sem condições a construírem prédios de luxo (Kamran Jebreili/AP)

No livro de 2012 “Why Nations Fail”, Acemoglu, um professor turco-americano do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Robinson, um professor britânico da Universidade de Chicago, argumentam que algumas nações são mais ricas do que outras devido às suas instituições políticas e económicas.

O livro começa com uma comparação dos níveis de vida em duas cidades chamadas Nogales – uma no Arizona e outra a sul da fronteira, na região mexicana de Sonora. Enquanto alguns economistas defendem que as diferenças de clima, agricultura e cultura têm um enorme impacto na prosperidade de um local, Acemoglu e Robinson argumentam que os habitantes de Nogales, no Arizona, são mais saudáveis e mais ricos devido à força relativa das suas instituições locais.

No ano passado, Acemoglu e Johnson – também ele professor no MIT – publicaram “Power and Progress”, um estudo sobre a forma como as inovações tecnológicas dos últimos mil anos, desde os avanços agrícolas à Inteligência Artificial, tenderam a beneficiar as elites, em vez de criar prosperidade para todos.

Os autores alertam que “o atual caminho da IA não é bom nem para a economia nem para a democracia”.

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