Sábado, Outubro 26

Família da vítima não quer pensar noutro cenário que não o cumprimento da pena que já foi confirmada pelo Tribunal da Relação de Lisboa. Caso segue para o Supremo Tribunal de Justiça

Pela primeira vez na história da Igreja Católica portuguesa, um ex-padre condenado por pedofilia confessa-se publicamente. O Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a condenação de Anastácio Alves a seis anos e seis meses de prisão, mas o antigo pároco, que era alvo de denúncias desde 2005, assume apenas um dos cinco abusos pelos quais foi condenado.

“Gostaria de pedir publicamente perdão. Em primeiro lugar à vítima, aos familiares, que foram pessoas minhas amigas”, conta ao Exclusivo da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal).

“Tenho consciência que causei muito sofrimento ao jovem. Isso perturba a minha paz”, confessa, numa conversa com Sandra Felgueiras, admitindo o “transtorno” causado na vida do jovem, que é a vítima dos cinco alegados crimes pelos quais o ex-padre foi condenado.

Anastácio Alves nega completamente um cenário dos abusos sexuais descritos na acusação, nomeadamente o “recurso ao sexo oral, contra a vontade do ofendido”. Houve, isso sim, segundo o ex-padre, “toques”, que ocorreram no verão de 2016.

Entende o condenado que a vítima foi “sugestionada” pela juíza a denunciar os outros quatro casos, mesmo que os relatos tenham sido feitos já enquanto o jovem era maior de idade.

“Eu acho que é justo cumprir a pena adequada que o tribunal determina pelo crime que eu cometi, o tribunal determinou um ano pelo crime de 2016”, acrescenta, apontando um “erro judiciário”.

Anastácio Alves nega, assim, um dos autos da PSP, que aponta para “penetração no anús” no fim da missa em que o jovem esteve a ajudar o então padre. O mesmo auto indica que o condenado terá dito ao menor para não contar a ninguém o que se tinha passado. Uma queixa que deu entrada no hospital, facto que o homem desconhecia.

O Exclusivo descobriu o primeiro denunciante de Anastácio Alves, num caso com 20 anos. “Pedro” (nome fictício), hoje com 34 anos, garante que foi violado na sacristia quando tinha 14, tendo depois sido forçado pela igreja da Madeira a retirar a queixa contra o então padre, Anastácio Alves.

O homem condenado afirma que “Pedro” lhe pediu desculpa, mas a vítima nega esse cenário, apontando que o único pedido de desculpas que deve é a si próprio, por não ter continuado com a denúncia.

Apesar de admitir a atração sexual por adolescentes – contrariando o que disse às autoridades em 2007 -, Anastácio Alves não aceita ser preso. E foi por isso que recorreu para o Supremo Tribunal de Justiça, onde reclama uma pena suspensa.

A família da vítima, que denunciou o homem em 2018, afasta completamente esta possibilidade, pedindo aquilo que diz ser justiça para o filho, um jovem agora com 21 anos que ainda não é capaz de sair de casa.

“Recordo tudo. Não quero falar mais sobre isto. Simplesmente quero que justiça seja feita, que ele admita. O fundamental é que ele admita”, refere “Pedro”.

Recorde-se que Anastácio Alves esteve cinco anos em fuga, acabando por se entregar à justiça, onde acabou condenado.

De acordo com uma nota divulgada no site do Ministério Público em janeiro de 2023, o antigo padre foi acusado, em março de 2022, de quatro crimes de abuso sexual de crianças e um crime de atos sexuais com adolescente, sempre com a mesma vítima, tendo sido realizadas diligências para o localizar, em França e Portugal, que “resultaram infrutíferas”.

Entretanto, em fevereiro do mesmo ano, o ex-sacerdote tentou entregar-se na Procuradoria-Geral da República, em Lisboa, mas acabou por não ser recebido pela Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, nem notificado formalmente da acusação do Ministério Público.

Anastácio Alves foi informado de que se deveria apresentar no Tribunal da Comarca da Madeira.

Em setembro de 2018, quando Anastácio Alves exercia funções em França, a Diocese do Funchal comunicou o seu afastamento da ação pastoral por suspeita de abuso sexual de um menor na região autónoma. Em 2021 foi definitivamente expulso pelo Vaticano.

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