Sexta-feira, Novembro 22

No ano passado, uma equipa de investigadores entrevistou milhares de estudantes de instituições de ensino superior localizadas nas regiões de Lisboa e Porto e constatou que, entre os estudantes deslocados, 48% não tinham contrato formal de arrendamento e 51% afirmaram que o seu senhorio não emitiu recibos de aluguel.

Quatro em cada 10 estudantes moram longe de casa e por isso precisam alugar uma casa. Sem contratos, estes estudantes não conseguem aceder a apoios como alojamento adicional, deixando-os numa “situação de grande vulnerabilidade”, alerta o estudo “Cartografia e dinâmica socioeconómica dos estudantes do ensino superior no Grande Porto e Grande Lisboa”, publicado pela Edulog.

Um estudante que estuda fora de casa pode facilmente representar um custo para a família de mil euros por mês, sendo que a maior parte vai para o pagamento do alojamento, disseram à Lusa a investigadora Maria José Sá e um dos autores do estudo.

A maioria dos estudantes paga entre 200 e 400 euros de renda mensal, mas há quem gaste 600 euros em habitação, explicou o especialista, lamentando que poucos tenham a sorte de conseguir um quarto numa residência universitária a preços acessíveis.

“As residências universitárias não conseguem responder ao número de pedidos dos estudantes, que são primeiro atribuídos aos bolseiros”, explicou Maria José Sá, em entrevista à Lusa.

O número de camas nas residências universitárias tem vindo a aumentar, mas ainda são insuficientes, pois apenas 3% dos estudantes que se candidatam a uma vaga conseguem vaga. O resultado: os restantes estudantes têm de se sujeitar a “alugar quartos a custos extremamente elevados”, destaca o estudo.

Depois há os custos da alimentação, com a maioria a gastar entre 50 e 110 euros, mas há também um número considerável de estudantes que gastam mais de 170 euros, sobretudo os deslocados e estrangeiros.

Como a maioria das pessoas vive perto de escolas, os custos de transporte não são muito significativos, sendo o transporte público o meio de transporte mais utilizado.

No entanto, estes custos incluem também as contas de água, luz e internet e, no geral, é normal termos contas mensais “que chegam perto dos mil euros”, alertou o investigador.

“Uma família com dois filhos a estudar no ensino superior torna-se insustentável”, até porque as famílias continuam a ser quem paga mais contas.

Dois em cada três estudantes (66,5%) dependem financeiramente das famílias para frequentar o ensino superior, sendo as bolsas a segunda principal fonte de financiamento, consideradas insuficientes para responder às necessidades da população estudantil deslocada, segundo o estudo.

“Muitos senhorios não emitem recibos e por isso os estudantes não conseguem aceder a apoios como o complemento de alojamento”, destacou Alberto Amaral, coordenador científico do Conselho Consultivo da Edulog.

Por isso, os investigadores recomendam que o programa de residência universitária seja implementado mais rapidamente, para que sejam disponibilizados muito mais quartos a preços acessíveis.

Além de criar mais alojamento subsidiado, os investigadores recomendam um aumento das bolsas e uma revisão dos critérios de elegibilidade, segundo o estudo desenvolvido no âmbito de um projeto de investigação do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES), apoiado pela Edulog, a Fundação para a Educação. think tank da Fundação Belmiro de Azevedo.

Os investigadores recomendam também aumentar o financiamento estatal para as IES e fornecer financiamento direto aos estudantes.

Maria José Sá destacou que o estudo retrata a realidade das regiões de Lisboa e do Porto, onde se situam a maioria das instituições de ensino superior e mais de metade dos estudantes que frequentam o ensino superior, e que no resto do país o cenário será diferente .

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