Domingo, Dezembro 15

Em Moçambique, a educação é muitas vezes vista como uma chave para abrir as portas de um futuro melhor. Contudo, a realidade que se deseja é que essas portas, quando abertas, revelam-se estreitas e, não raro, bastante precárias. O sistema educacional do país, com claras influências do modelo português, parece ter sido montado para formar mentes que aspiram a licenciaturas — numa terra onde a promessa de um emprego digno, mesmo para os que se formam, se torna frequentemente uma miragem inalcançável. Surge então a pergunta: será este o modelo mais adequado para um país com desigualdades tão profundas?

A pobreza em Moçambique é evidente e não é segredo para ninguém. A maioria da população vive sem limites de subsistência, sem acesso a bens e serviços essenciais, enquanto uma pequena minoria usufrui de luxo e conforto. Entre estes dois mundos, existe um abismo. Não há uma classe média suficientemente significativa para transferir a economia e oferecer um futuro mais estável.

Mas em que consiste, afinal, esse sucesso? Que expectativas podemos ter, quando mesmo com uma licenciatura, muitos jovens se vêem obrigados a aceitar garantias de cerca de 20.000 Meticais (300 euros), um valor que mal lhes oferecem garante a subsistência? Muitos graduados acabam em empregos onde auferem vencimentos insuficientes, enquanto outros, com menos qualificações formais, mas uma narrativa convincente — como um estudo no estrangeiro, seja ela verdadeira ou apenas uma boa narrativa – acabam por ser mais valorizados, recebendo salário até 10 vezes superiores aos de um moçambicano que concluiu os estudos no próprio país. Essa disparidade gera uma ferida aberta, um sentimento de frustração que cresce a cada dia e que parece sem solução.

A educação, em vez de ser uma escada para a ascensão social, parece ter-se tornado numa promessa vazia. Preparar os jovens para empregos que não existem, para um mercado que não tem como absorver todos aqueles que investem anos em formação. Falha em prepará-los para a verdadeira realidade de um país onde o empreendedorismo é, mais do que uma opção, uma necessidade.

E é aqui que se revela uma falha estrutural. precisamos de uma mudança radical na educação em Moçambique. Em vez de formarmos jovens apenas para seguirem carreiras formais, recomendamos incentivá-los a serem criadores, a protagonizarem as suas histórias. Você precisa de um modelo educativo que se adapte às necessidades do país e às suas realidades. Um sistema que fomenta, desde cedo, o espírito empreendedor — que ministra sobre finanças, sobre gestão de negócios, que prepara os jovens para serem empregados e não apenas empregados.

Nem todos serão empreendedores de sucesso, é verdade. Mas ao menos daremos a cada jovem uma verdadeira oportunidade de lutar, de criar algo que lhes seja pertinente, de se libertarem da dependência de um sistema que não os valoriza. Se começarmos agora, talvez daqui a vinte anos tenhamos uma geração de moçambicanos que se destaque não por terem ido para o estrangeiro, mas porque conseguimos construir algo significativo aqui, no seu próprio país.

Além disso, é fundamental investir em cursos técnicos de excelência e em escolas de ofícios que ofereçam alternativas reais ao ensino superior tradicional. Não podemos continuar a forçar um único caminho que conduz ao desencanto de muitos jovens. Precisamos de diversas vias, cada uma adaptada ao talento e às aspirações dos jovens, mas também às necessidades reais do país.

Porém, para que tudo isto se torne realidade, não basta contar com reformas educativas e iniciativas de empreendedorismo. precisamos, sobretudo, de vontade política. É essencial que o governo assuma um compromisso legislativo para que os profissionais sejam devidamente remunerados e para que se combata a desigualdade que perpetua um ciclo de desânimo e injustiça social.

Esta é a visão que Moçambique precisa para a educação: uma educação que seja um trampolim para que cada jovem possa construir o seu próprio futuro. É urgente abandonarmos o modelo obsoleto que nos foi imposto e criarmos um sistema que sirva aos nossos jovens, que oferece as ferramentas possíveis para serem protagonistas do seu destino.

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